Resposta

MPF: dissolução da Lava Jato é um 'retrocesso'

Os procuradores fizeram duras críticas ao Governo Temer por ter 'reduzido drasticamente' o efetivo da Lava Jato durante as investigações

JC Online
Cadastrado por
JC Online
Publicado em 06/07/2017 às 20:07
Foto: Agência Brasil
Os procuradores fizeram duras críticas ao Governo Temer por ter 'reduzido drasticamente' o efetivo da Lava Jato durante as investigações - FOTO: Foto: Agência Brasil
Leitura:

Em nota, os procuradores da Lava Jato criticaram duramente a decisão da Superintendência da Polícia Federal do Paraná de desfazer a força motriz da Operação Lava Jato no Estado. Nesta quinta-feira (6), alegando escassez de recursos, a PF informou que os grupos que trabalhavam exclusivamente nas operações Lava Jato e Carne Fraca seriam deslocados para a Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor).

>> Retrocesso indelével, dizem procuradores

A partir de agora, segundo informou a PF, os agentes que trabalhavam na Lava Jato e Carne Fraca passarão a atuar juntos em outras investigações relacionadas a crimes econômicos no Paraná.

Com a junção das forças, acredita o Ministério Público Federal (MPF), a qualidade do trabalho, que já sofre com a redução pela metade do número de delegados, poderá ser ainda mais afetada. "Prejudica as investigações da Lava Jato e dificulta que prossigam com a eficiência com que se desenvolveram até recentemente", disse a nota.

Ainda na nota, o MPF fez duras críticas ao Governo Temer por ter 'reduzido drasticamente' o efetivo da Lava Jato durante as investigações. "Hoje, o número de inquéritos e investigações é restringido pela quantidade de investigadores disponível. Há uma grande lista de materiais pendentes de análise".

Confira a nota do MPF:

“Os procuradores da República da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba (PR) vêm manifestar sua discordância em relação à dissolução do Grupo da Lava Jato no âmbito Polícia Federal.

1. A Operação Lava Jato investiga corrupção bilionária praticada por centenas de pessoas, incluindo ocupantes atuais e pretéritos de altos postos do Governo Federal. Foram realizadas 844 buscas e apreensões em 41 fases que ensejaram a apreensão de um imenso volume de materiais – apenas na primeira fase, foram mais de 80 mil documentos. São rastreadas, hoje, mais de 21 milhões de transações que envolvem mais de R$ 1,3 trilhão. Já foram acusadas por crimes graves como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa mais de 280 pessoas, e centenas de outras permanecem sob investigação. Embora já tenham sido recuperados, de modo inédito, mais de R$ 10 bilhões, há um potencial de recuperação de muitos outros bilhões, se os esforços de investigação prosseguirem.

2. A anunciada integração, na Polícia Federal, do Grupo de Trabalho da Lava Jato à Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas, após a redução do número de delegados a menos de metade, prejudica as investigações da Lava Jato e dificulta que prossigam com a eficiência com que se desenvolveram até recentemente.

3. O efetivo da Polícia Federal na Lava Jato, reduzido drasticamente no governo atual, não é adequado à demanda. Hoje, o número de inquéritos e investigações é restringido pela quantidade de investigadores disponível. Há uma grande lista de materiais pendentes de análise e os delegados de polícia do caso não têm tido condições de desenvolver novas linhas de investigação por serem absorvidos por demandas ordinárias do trabalho acumulado.

4. A redução e dissolução do Grupo de Trabalho da Polícia Federal não contribui para priorizar ainda mais as investigações ou facilitar o intercâmbio de informações. Pelo contrário, a distribuição das investigações para um número maior de delegados e a ausência de exclusividade na Lava Jato prejudicam a especialização do conhecimento e da atividade, o desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de interconexões entre as centenas de investigados e os resultados.

5. A necessidade evidente de serviço, decorrente inclusive do acordo feito com a Odebrecht, determinou que a equipe do Ministério Público Federal na Lava Jato em Curitiba tenha aumentado, o que ocorreu em paralelo ao aumento das equipes da Lava Jato no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, no mesmo período em que a Polícia Federal reduziu a equipe e dissolveu o Grupo de Trabalho da Lava Jato em Curitiba.

6. A Polícia Federal, assim como a Receita Federal, são parceiras indispensáveis nos trabalhos da Lava Jato. Reconhece-se ainda a dedicação do superintendente da Polícia Federal no Paraná, Rosalvo Franco, e do Delegado de Polícia Federal Igor de Paula, às investigações. Contudo a medida tornada pública nesta quinta-feira (6) é um evidente retrocesso. Por isso o Ministério Público Federal espera que a decisão possa ser revista, com a consequente reversão da diminuição de quadros e da dissolução do Grupo de Trabalho da Polícia Federal na Lava Jato, a fim de que possam prosseguir regularmente e com eficiência as investigações contra centenas de pessoas e de que os bilhões desviados possam continuar a ser recuperados.”

Últimas notícias