Cultura

Temer barra político na pasta da Cultura e nomeia jornalista

Temer nomeou o jornalista Sérgio Sá Leitão para o Ministério da Cultura

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Publicado em 21/07/2017 às 12:24
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Temer nomeou o jornalista Sérgio Sá Leitão para o Ministério da Cultura - FOTO: Foto: Divulgação
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Com a imagem fragilizada pela denúncia de corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República, o presidente Michel Temer abriu mão de uma indicação política e decidiu agradar ao setor artístico com a nomeação do jornalista Sérgio Sá Leitão para o Ministério da Cultura. O cargo estava vago desde 18 de maio, quando o deputado Roberto Freire (PPS-SP) deixou o posto, após a divulgação da delação do Grupo J&F, que atingiu Temer.

A pasta da Cultura era cobiçada por parlamentares do PMDB e do Centrão, grupo de partidos que ganhou força desde que votou majoritariamente contra a admissibilidade da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, se articulava para ser indicada ao cargo, mas enfrentou resistência por não ser da área. Nesta quarta-feira, 19, o próprio presidente informou que já tinha feito outra escolha. O deputado André Amaral (PMDB-PB) também queria o posto.

O Ministério da Cultura tem sido um problema para Temer, que vem enfrentando críticas do setor desde o início de sua gestão, quando chegou a extinguir a pasta - e depois recuou. Por isso, o presidente buscou um nome da área, que tivesse apoio para diminuir as resistências.

Paes e Maia. Além das relações na área, o novo ministro também tem ligações políticas. Ele é próximo de Roberto Freire, seu antecessor no comando da pasta, e do ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ). A indicação também agradou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que será o responsável por comandar a votação da denúncia contra Temer no plenário da Casa, em 2 de agosto. Primeiro na linha sucessória da Presidência, Maia assume o comando do País no lugar do peemedebista, caso a denúncia seja aceita e Temer, afastado do cargo.

Maia negou que tenha influenciado na indicação do novo ministro da Cultura. Aliados do deputado do DEM, contudo, avaliam que Temer fez um "gesto diplomático" a ele, além de acenar ao PMDB do Rio, do qual Paes é integrante.

Placar do jornal O Estado de S. Paulo mostra que, dos 11 integrantes da bancada peemedebista fluminense, um já se posicionou a favor da aceitação da denúncia contra o presidente, seis estão indecisos ou não quiseram responder e quatro se disseram contra.

Desde que a denúncia por corrupção começou a tramitar na Câmara, Maia tem se mostrado distante do Palácio do Planalto. Na terça-feira, ele e Temer tiveram um atrito, após o presidente convidar parlamentares dissidentes do PSB a se filiar ao PMDB. Maia se irritou com o gesto, uma vez que, desde que o PSB deixou a base do governo, negocia a migração dos descontentes para o DEM. Temer acionou ministros para desfazer o mal-estar.

Em novembro do ano passado, Temer enfrentou uma crise com origem no Ministério da Cultura, quando foi gravado, em seu gabinete, pelo ex-titular da pasta Marcelo Calero. O ex-ministro - que deixou o ministério após o episódio - acusou Geddel Vieira Lima (PMDB), à época na Secretaria de Governo, de tê-lo pressionado a liberar a obra de um edifício onde possuía um apartamento em área tombada de Salvador.

Surpresa

O jornalista Sérgio Sá Leitão, de 49 anos, afirmou ter ficado "supreso" com o convite do presidente Michel Temer para que ele ocupasse o Ministério da Cultura. Leitão, que desde maio era diretor da Agência Nacional de Cinema (Ancine), esperava que a conversa com o presidente fosse para assumir o cargo de diretor-presidente do órgão. "Aceitei o convite (para o ministério), mesmo sabendo dos problemas da pasta, pois gosto de desafios. Tento sempre fazer a diferença na adversidade - na bonança, qualquer um faz", disse Leitão.

Como foi sua indicação para o Ministério da Cultura?

Uma surpresa, pois, quando o presidente (Michel Temer) me chamou, pensei que era para assumir como diretor-presidente da Ancine, mas fiquei surpreso quando ele me ofereceu o Ministério da Cultura. Aceitei o convite, mesmo sabendo dos problemas da pasta, pois gosto de desafios. Tento sempre fazer a diferença na adversidade - na bonança, qualquer um faz.

Exatamente por causa disso, você já tem ideia por onde começar o trabalho?

Preciso primeiro saber de detalhes da situação. Conheço o ministério, já trabalhei lá (foi chefe de gabinete do MinC durante a gestão Gilberto Gil), conheço como funciona. Também já fui secretário municipal de Cultura do Rio (na gestão de Eduardo Paes), o que me deixa à vontade com esse trabalho. Mas, como venho trabalhando diretamente com o cinema desde janeiro, preciso saber dos detalhes. Uma coisa é acompanhar de fora, a outra é estar lá dentro. Espero estar mais à vontade a partir de terça-feira, quando devo tomar posse. Só então pretendo falar sobre meus planos.

Você vinha encaminhando sua carreira para o cinema, certo?

Sim. Quando surgiu a possibilidade de vir para a Ancine, eu vendi, no início do ano, uma participação que eu tinha em uma produtora para não criar um conflito de interesses. Meu objetivo agora é abrir novo caminho no ministério.

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