Era comum, no passado, que reis e imperadores tivessem seu nome seguido de uma alcunha: o Conquistador, o Grande, o Piedoso, o Bravo. Caso esse modelo se aplicasse à República hoje, não seria exagero qualificar o presidente Michel Temer (PMDB) como o Impopular uma vez que sua gestão tem a pior avaliação das últimas três décadas no Brasil.
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Apesar dos números, Temer declara que sua maior preocupação é implementar uma agenda de reformas e garante que será reconhecido no futuro. Ele também afirma que se tivesse uma “popularidade extraordinária” não poderia tomar “medidas impopulares” como as reformas da Previdência e Trabalhista.
“A percepção das pessoas é que essas reformas não são boas e que a única medida popular que Temer tomou foi a liberação do FGTS”, indica o cientista político Wagner de Melo Romão, da Unicamp. Para o cientista político Vanuccio Pimentel, da ACES-Unita, o presidente errou. “A implementação de uma agenda de reformas sem estratégia social e de diálogo faz com que a popularidade do governo despenque”, diz.
“Há ainda a incapacidade do governo de fazer a economia funcionar”, completa Vanuccio Pimentel. A professora de Ciência Política Priscila Lapa tem leitura semelhante. “Dados históricos, não só do Brasil, mostram que o desempenho do presidente está diretamente ligado ao bem-estar econômico do eleitor. Tinha-se esperança que esse fosse um governo que viesse a resgatar esse bem-estar e isso não ocorreu”, afirma.
A política é mais um item que alimenta a impopularidade. “As pessoas têm uma percepção muito aguda do traidor na política. Temer é visto com maus olhos e hoje uma grande parcela da população entende que as eleições gerais para presidente este ano seriam a melhor alternativa”, opina Wagner de Melo Romão, referindo-se ao fato de que o peemedebista é ligado à articulação que resultou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Wagner de Melo Romão adverte que Temer é o grande alvo da opinião pública porque está sentado na cadeira de presidente da República, mas amplia o foco. “É grande a impopularidade da classe política de modo geral. É difícil encontrar um político popular no quadro atual que existe hoje no Brasil”, declara.
Vanuccio Pimentel também cita uma questão mais geral. “A partir de 2013, a gente teve um declínio muito grande da popularidade do governo federal com as chamadas jornadas de junho. Em 2014, teve o declínio de Dilma e Temer, que vinha da chapa da presidente, entra no governo já com uma popularidade baixa”, relembra.
Se Temer “herdou” parte da baixa popularidade de Dilma, o fenômeno pode se repetir em 2018. “Quem apoia o governo vai colher os frutos dessa impopularidade. A gente não tem dimensão de como isso vai repercutir na eleição para governador, mas a conta pode chegar”, enfatiza Priscila Lapa.
CONGRESSO E RUAS
A má avaliação do governo e o fato de ser o primeiro presidente da República do País denunciado por corrupção no exercício do mandato não irão gerar nenhum prejuízo eleitoral a Temer (PMDB) porque ele deve ficar longe das urnas em 2018. No entanto, outros danos podem surgir.
“Um presidente fraco fica refém do Congresso e perde o poder de barganha. Dilma (PT) e Collor (PTC) são exemplo. Lula (PT) e Fernando Henrique (PSDB) foram fortes. Esses cedem para os diversos grupos do Congresso, mas conseguem implementar uma agenda econômica, social e política”, afirma o cientista político Vanuccio Pimentel, da ACES-Unita.
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Para o analista, a fraqueza de Temer perante o Congresso pode trazer prejuízos para a luta contra a corrupção. “A grande agenda da base aliada do governo, o Centrão, é se proteger da Lava Jato e conseguir sobrevivência política. Temer é refém de uma agenda do Congresso que não é necessariamente a agenda da reforma. Se fosse a agenda da reforma, ele já teria aprovado tudo”, avalia.
As declarações de Temer de que não se exaspera com a impopularidade é vista como um engodo pelo cientista político Wagner de Melo Romão, da Unicamp. “É mais retórica do que um sentimento real porque qualquer político quer ser minimamente popular. Ele também não me parece o tipo de político que vá pendurar as chuteiras logo”, avalia.
As pesquisas apontam a insatisfação com Temer, porém esse incômodo não se materializa nas ruas já que é baixo o número de protestos contra o presidente. “As pessoas estão sem alento. Elas saem às ruas quando têm a expectativa de poder influir e melhorar a situação. É tão grande o desalento que não se acredita na possibilidade de melhorar nada”, declara o cientista político Benedito Tadeu Alencar, da UFRGS.
Para o cientista político Hely Ferreira, não há mistério no número reduzido de protestos contra Temer. “Boa parte das pessoas que foram às ruas contra Dilma foram cooptadas pelo poder”, analisa.
“O MBL pode ter pouca força política, mas em termos de mobilização de massa eles se mostraram importantes em um determinado momento. As medidas que Temer vem tomando estão próximas do ideário desse grupo. A gente vai ver muito menos rua daqui para 2018. Mas uma questão é por que a intenção de votos em Lula não se transforma em mobilização?”, questiona Wagner de Melo Romão.