1 ANO DO IMPEACHMENT

Um ano após impeachment, Brasil ainda vive grave em crise política

Impeachment de Dilma Rousseff não resolveu crise política no Brasil e gerou descrença na política

Paulo Veras
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Paulo Veras
Publicado em 27/08/2017 às 9:00
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“A incerteza chegou ao fim”, prometeu um confiante Michel Temer (PMDB) no primeiro pronunciamento após ser efetivado como presidente da República. Há um ano, completado na próxima quinta (31), Dilma Rousseff (PT), a primeira mulher eleita para comandar o Brasil, deixava o cargo após ser condenada por crime de responsabilidade em impeachment instalado pelo Congresso Nacional. Fruto de erros de anos na economia e na política, Dilma já não governava nos últimos dias como presidente e não tinha base parlamentar que lhe fizesse aprovar uma simples matéria. Mesmo assim, sua saída não representou o fim da crise política que se acentuou com a revelação das gravações da JBS, em maio deste ano.

Engolfado na maior operação contra a corrupção de sua história, o Brasil continua a assistir ao Planalto no epicentro da crise. Temer teve que convencer o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a fechar os olhos para irregularidades na campanha de 2014, foi formalmente denunciado e segue na mira da Procuradoria-Geral da República, nomeou vários ministros entre os investigados pela Lava Jato. Os principais presidenciáveis e os cabeças do Legislativo também não escaparam da operação. Só nas delações da Odebrecht e da JBS, 571 políticos foram citados.

“De 1988 para cá, os três principais partidos que comandaram o processo político no País foram o PT, o PSDB e o PMDB. Eles foram duramente atingidos e suas lideranças estão sendo investigadas e respondendo a ações na Justiça”, ressalta o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio. “Você tem um processo hoje, no Brasil, muito difícil. A rigor, se fosse num mundo irreal, a gente teria que afastar o PT, o PSDB e o PMDB, que estão investigados, e deixar que outros pudessem conduzir o País. Mas isso não é possível”, ressalta.

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Um dos coordenadores do Movimento Ética na Política, o sociólogo e psicólogo Aécio Gomes de Matos, da UFPE, diz que o Brasil vive uma crise sistêmica. “(A crise) Não poderia ser superada pela simples mudança de um governo por outro sustentado, praticamente, nas mesmas forças políticas que geraram o desgoverno e as traficâncias que se deveriam mudar. A mudança de Dilma por Temer não representou uma nova configuração política nem uma regulação ética das forças no poder. O afastamento do PT dos cargos de comando, e a pecha de corrupção que justificaria uma renovação, se inviabiliza com a manutenção do PMDB e dos partidos do Centrão: foi uma grande ilusão para quem acreditava na renovação”, argumenta.

DESCRENÇA

Soma-se às encrencas na Justiça e à fragilidade do governo, o profundo distanciamento entre os políticos e a sociedade. Pesquisa do Ibope mostra que menos de 20% dos brasileiros confiam no Congresso, nos partidos políticos e no presidente da República. Todos esses números tiveram queda drástica desde a última corrida presidencial, em 2014. Apenas 35% disseram confiar nas eleições. Isso é metade dos 70% que acreditam na Polícia Federal e dos 68% que confiam nas Forças Armadas. Emparedados pela perspectiva de que fustigar o governo pode fortalecer o projeto eleitoral do PT, mesmo movimentos de rua que ganharam força no impeachment – como o Vem Pra Rua – evitaram fazer manifestações contra um governo igualmente sócio da corrupção.

“A população entrou num ciclo de prostração. Isso é normal quando há grandes mobilizações e não há retorno imediato. A Lava Jato é o vínculo que ainda está gerando alguma expectativa positiva em relação ao Brasil”, afirma o sociólogo José Arlindo Soares. “O Judiciário e o Ministério Público estão funcionando. O próprio Congresso é essa pândega, mas está votando. A Constituição ainda dá ao País essa estabilidade, apesar da grave crise moral. Agora, precisa da opinião pública. Esse Congresso vota mal com pressão popular, imagine sem. Hoje eles estão tentando se livrar da Lava Jato, evitar perder o foro privilegiado e renovar seus mandatos às custas do País”, critica.

O IMPEACHMENT EM CHARGES

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