Preso na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, o empresário do grupo J&F Joesley Batista pagou ao longo de cinco anos um montante total de R$ 135 milhões a integrantes do PMDB. Os pagamentos, todos intermediados pelo operador do partido, Lúcio Funaro, cresceram a depender da demanda dos políticos, atingindo seu ápice em 2014, ano eleitoral.
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Os dados constam no relatório da Polícia Federal no inquérito que apura o chamado "quadrilhão do PMDB na Câmara", denunciado pelo ex-procurador geral da República Rodrigo Janot no dia 14 de setembro deste ano. Na denúncia, são acusados de organização criminosa o ex-deputado Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eliseu Padilha, Moreira Franco e o presidente Michel Temer, que teria passado a atuar como líder da organização a partir de maio de 2016.
No relatório, entre os anos de 2011 e 2015, só os repasses feitos por Joeslye Batista a Lúcio Funaro chegaram ao total de R$ 135, 874 milhões. A quantia, no entanto, é fruto somente do registro das operações encontradas no material apreendido da 'conta' de propina mantida entre o empresáiro e Funaro.
Os pagamentos, que variavam entre espécie e, principalmente, via emissão de notas fiscias falsas, segundo a investigação, bate justamente com os dias em que houve transferências das contas de Funaro para Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Fábio Cleto, ex-vice presidente da Caixa.
Em 2014, ano eleitoral, Joesley teria efetuado diversos pagamentos a Funaro, alguns inclusive no mesmo dia. Somente naquele ano, o total de baixas registradas na conta mantida entre Joesley e Funaro atingiu a marca de R$ 53 milhões.
No ano anterior, em 2013, além do pagamento de R$ 44 milhões, o empresário ainda teve uma baixa de R$ 1 milhão, referente ao pagamento de um veiculo Lamborghini, que Funaro teria adquirido.
Denúncia
Segundo a denúncia da PGR, o esquema desenvolvido permitiu que os denunciados recebessem pelo menos R$ 587 milhões de propina. A denúncia explica que o núcleo político da organização era composto também por integrantes do PP e do PT, que compunham subnúcleos políticos específicos, além de outros integrantes do chamado “PMDB do Senado”. Para Janot, em maio de 2016, com a reformulação do núcleo político da organização criminosa, os integrantes do “PMDB da Câmara”, especialmente Michel Temer, passaram a ocupar papel de destaque que antes havia sido dos integrantes do PT em razão da concentração de poderes na Presidência da República.
Joesley foi preso após ter omitido informações do Ministério Público no seu acordo de delação premiada. Lúcio Funaro, também preso no ano de 2016, foi um dos grandes responsáveis pela prisão de Geddel Vieira Lima, já que em seus depoimentos confirmou a entrega de malas de dinheiro ao ex-ministro.
Lúcio Funaro também fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público no mês passado. O acordo já homologado pelo Supremo Tribunal Federal não teve o sigilo derrubado. Em vazamentos, trechos dos depoimentos já apontam a anuência e envolvimento de Michel Temer em ilícitos, bem como de outros membros do PMDB, como os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.