Com a expectativa de que o plenário da Câmara derrube a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, na quarta-feira, o governo já prepara o "day after" da crise e vai lançar o mote "Agora é Avançar". O slogan aparecerá não apenas em campanhas publicitárias, mas também em discursos e programas. A estratégia do Palácio do Planalto consiste em investir nesse conceito, na tentativa de criar um clima de "página virada", após enterrar a acusação contra Temer.
Embora a base aliada esteja dividida, até mesmo a oposição já admite, nos bastidores, que a denúncia apresentada contra o presidente - por obstrução da Justiça e organização criminosa - será rejeitada pela Câmara.
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A avaliação no Planalto é que o governo poderá ter menos do que os 263 votos obtidos em 2 de agosto, quando os deputados impediram o prosseguimento da primeira acusação, mas, mesmo assim, conseguirá superar o obstáculo.
O problema é que a popularidade de Temer está em queda, delações da Lava Jato ameaçam atingir novamente o primeiro escalão, além da cúpula do PMDB, e a crise continua batendo à porta do Planalto. Com apenas 3% de aprovação, de acordo com a mais recente pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Temer tentará agora repaginar sua imagem e apostar em um "governo de resultados".
A propaganda será ancorada em três eixos principais. O primeiro vai mostrar a redução do desemprego e a melhoria, ainda que incipiente, de indicadores econômicos, como PIB, inflação e juros. O segundo dirá que o governo avançou em reformas estruturantes - como a do teto dos gastos públicos e a nova lei trabalhista - e o terceiro baterá na tecla de que as instituições funcionam, mesmo com crises agudas.
'Aplauso ao contrário'
Temer avisou aos aliados com quem conversou nos últimos dias que, superada a denúncia apresentada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, sairá mais do gabinete e tentará vencer a batalha da comunicação. Às vésperas do ano eleitoral de 2018, a ideia é ampliar as viagens pelo País, aumentar o contato com o público e levar uma "boa notícia" na bagagem, em vez de dar prioridade à polêmica reforma da Previdência.
"Não tenho medo de vaia, não. Vaia é o aplauso ao contrário", costuma dizer o presidente, sempre que perguntado sobre o receio de enfrentar protestos.
Para chegar ao slogan "Agora é Avançar", que também será usado nas redes sociais, o Planalto recorreu a pesquisas e sondagens em grupos de opinião. As chamadas "qualitativas" - que medem o humor dos entrevistados - indicaram desencanto crescente com a política, com os partidos e o governo, mas também cansaço com a onda de denúncias sem fim.
Após a escalada de tensão com o Executivo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse a Temer, na quarta-feira, que ele precisa construir logo uma agenda de desenvolvimento e esperança. Argumentou que, se as mudanças não forem feitas, o governo ficará cada vez mais fragilizado e terá muita dificuldade para aprovar projetos no Congresso, daqui para a frente.
Oposição
Convidado à tarde para a conversa reservada com o presidente, Maia também recebeu na residência oficial da Câmara, naquela noite, um grupo de deputados de oposição. Na quinta-feira, voltou a se reunir com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Kátia Abreu (PMDB-TO), que são contra Temer, e a jantar com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy.
"O Rodrigo está se transformando em um líder nacional e nada impede que dê suas opiniões. Ele tem uma conduta retilínea com o governo", amenizou Imbassahy, que na sexta-feira reassumiu temporariamente o mandato de deputado do PSDB, para ajudar Temer na Câmara.
Participante dos encontros da oposição com Maia, o deputado Sílvio Costa (Avante-PE) disse não ter dúvidas de que Temer "sangrará" até 2018. "Esse governo é a reprise daquele filme Dormindo com o Inimigo", provocou Costa. "Temer tem inimigos explícitos, que são a oposição; os ocultos, que fazem o 'fogo amigo', e também os presos, na Papuda e em Curitiba."
O deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, contou que a ordem é reforçar a maratona, nos próximos dias, em busca de votos para o presidente. "Estamos vendo quem está insatisfeito, mas a nossa linha é sempre 'paz e amor'", afirmou ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.