Denúncia da PGR

Certo da rejeição da 2ª denúncia, Planalto investe em clima de 'página virada'

Com apoio de deputados durante votação que deve ocorrer nesta semana, Planalto vai lançar campanha com o mote 'Agora é Avançar'

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Publicado em 22/10/2017 às 8:45
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Com apoio de deputados durante votação que deve ocorrer nesta semana, Planalto vai lançar campanha com o mote 'Agora é Avançar' - FOTO: Foto: ABr
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Com a expectativa de que o plenário da Câmara derrube a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, na quarta-feira, o governo já prepara o "day after" da crise e vai lançar o mote "Agora é Avançar". O slogan aparecerá não apenas em campanhas publicitárias, mas também em discursos e programas. A estratégia do Palácio do Planalto consiste em investir nesse conceito, na tentativa de criar um clima de "página virada", após enterrar a acusação contra Temer.

Embora a base aliada esteja dividida, até mesmo a oposição já admite, nos bastidores, que a denúncia apresentada contra o presidente - por obstrução da Justiça e organização criminosa - será rejeitada pela Câmara.

A avaliação no Planalto é que o governo poderá ter menos do que os 263 votos obtidos em 2 de agosto, quando os deputados impediram o prosseguimento da primeira acusação, mas, mesmo assim, conseguirá superar o obstáculo.

O problema é que a popularidade de Temer está em queda, delações da Lava Jato ameaçam atingir novamente o primeiro escalão, além da cúpula do PMDB, e a crise continua batendo à porta do Planalto. Com apenas 3% de aprovação, de acordo com a mais recente pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Temer tentará agora repaginar sua imagem e apostar em um "governo de resultados".

A propaganda será ancorada em três eixos principais. O primeiro vai mostrar a redução do desemprego e a melhoria, ainda que incipiente, de indicadores econômicos, como PIB, inflação e juros. O segundo dirá que o governo avançou em reformas estruturantes - como a do teto dos gastos públicos e a nova lei trabalhista - e o terceiro baterá na tecla de que as instituições funcionam, mesmo com crises agudas.

'Aplauso ao contrário'

Temer avisou aos aliados com quem conversou nos últimos dias que, superada a denúncia apresentada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, sairá mais do gabinete e tentará vencer a batalha da comunicação. Às vésperas do ano eleitoral de 2018, a ideia é ampliar as viagens pelo País, aumentar o contato com o público e levar uma "boa notícia" na bagagem, em vez de dar prioridade à polêmica reforma da Previdência.

"Não tenho medo de vaia, não. Vaia é o aplauso ao contrário", costuma dizer o presidente, sempre que perguntado sobre o receio de enfrentar protestos.

Para chegar ao slogan "Agora é Avançar", que também será usado nas redes sociais, o Planalto recorreu a pesquisas e sondagens em grupos de opinião. As chamadas "qualitativas" - que medem o humor dos entrevistados - indicaram desencanto crescente com a política, com os partidos e o governo, mas também cansaço com a onda de denúncias sem fim.

Após a escalada de tensão com o Executivo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse a Temer, na quarta-feira, que ele precisa construir logo uma agenda de desenvolvimento e esperança. Argumentou que, se as mudanças não forem feitas, o governo ficará cada vez mais fragilizado e terá muita dificuldade para aprovar projetos no Congresso, daqui para a frente.

Oposição

Convidado à tarde para a conversa reservada com o presidente, Maia também recebeu na residência oficial da Câmara, naquela noite, um grupo de deputados de oposição. Na quinta-feira, voltou a se reunir com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Kátia Abreu (PMDB-TO), que são contra Temer, e a jantar com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy.

"O Rodrigo está se transformando em um líder nacional e nada impede que dê suas opiniões. Ele tem uma conduta retilínea com o governo", amenizou Imbassahy, que na sexta-feira reassumiu temporariamente o mandato de deputado do PSDB, para ajudar Temer na Câmara.

Participante dos encontros da oposição com Maia, o deputado Sílvio Costa (Avante-PE) disse não ter dúvidas de que Temer "sangrará" até 2018. "Esse governo é a reprise daquele filme Dormindo com o Inimigo", provocou Costa. "Temer tem inimigos explícitos, que são a oposição; os ocultos, que fazem o 'fogo amigo', e também os presos, na Papuda e em Curitiba."

O deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, contou que a ordem é reforçar a maratona, nos próximos dias, em busca de votos para o presidente. "Estamos vendo quem está insatisfeito, mas a nossa linha é sempre 'paz e amor'", afirmou ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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