MANIFESTAÇÃO

Lula mobiliza simpatizantes na véspera de julgamento crucial

Em Porto Alegre, simpatizantes do ex-presidente já começaram a se manifestar nesta terça-feira

AFP
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Publicado em 23/01/2018 às 17:06
Foto: Roberto Vinícius/Estadão Conteúdo
Em Porto Alegre, simpatizantes do ex-presidente já começaram a se manifestar nesta terça-feira - FOTO: Foto: Roberto Vinícius/Estadão Conteúdo
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Os atos a favor de Luiz Inácio Lula da Silva começaram na terça-feira (23) em Porto Alegre, antes da chegada do ex-presidente (2003-2010) para um julgamento de segunda instância que ameaça sua candidatura às eleições de outubro.

Lula foi condenado em julho a nove anos e meio de prisão no âmbito da operação "Lava Jato", que investiga uma rede de propinas na Petrobras, mas recorre desta sentença em liberdade.

O Partido dos Trabalhadores (PT), o Movimento de Trabalhadores rurais Sem Terra (MST) e outros grupos de esquerda simpatizantes ao ex-presidente, mobilizaram na capital gaúcha mais de 200 ônibus de todo o país, segundo os organizadores.

Grupos de direita também convocaram manifestações para a quarta-feira, quando se espera o veredicto da corte, mas contra Lula.

As autoridades montaram um dispositivo especial de segurança e o tribunal, vizinho ao rio Guaíba, será protegido com o apoio de barcos e helicópteros e um bloqueio perimetral terrestre, aéreo e fluvial.

A ex-presidente e afilhada política de Lula, Dilma Rousseff (2011-2016), participou pela manhã de um ato de mulheres, durante o qual denunciou "a terceira etapa do golpe".

A primeira, afirmou, foi sua destituição por acusações de manipulação de contas públicas; a segunda consistiu em ajustes realizados pelo governo do presidente Michel Temer; e a terceira apontaria a "destruir o PT e, sobretudo, nosso líder, Luiz Inácio Lula da Silva", declarou.

O ato matutino deveria ser realizado na sede da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, mas um corte de luz, sobre o qual não houve até o momento explicação oficial, forçou seu deslocamento para o exterior. Várias participantes denunciaram que foi um ato intencional.

Lula, de 72 anos, deve participar de uma marcha que reunirá milhares de seus partidários à tarde, antes de voltar a São Paulo para aguardar o veredicto.

Os mercados apostam em uma confirmação da condenação de Lula, segundo vários analistas.

"Os mercados não podem esconder seu entusiasmo: uma decisão contrária a Lula, que prometeu reverter parte das reformas pró-mercado do presidente Michel Temer, é vista em geral como um golpe fatal para suas aspirações eleitorais", afirmou o analista Silvio Cascione em nota da consultoria Eurasia. 

 Cenários múltiplos  

Lula foi condenado como beneficiário de um apartamento no Guarujá, litoral de São Paulo, ofertado pela empreiteira OAS, em troca de contratos da Petrobras.

Se o Tribunal Regional Federal 4 (TRF4) confirmar a sentença, Lula poderia ver sua candidatura às presidenciais de outubro rejeitada pela Justiça eleitoral e até ser preso, uma vez que tiver esgotado os recursos.

Mas existem vários cenários, que dependem em primeiro lugar dos três desembargadores do TRF4: uma condenação por unanimidade (3-0), por maioria de 2-1 (que abre um leque mais amplo de recursos) ou inclusive - a menos provável das hipóteses - uma absolvição.

Em matéria eleitoral, uma condenação por corrupção tornaria Lula "inelegível", segundo a legislação brasileira, embora também caibam recursos que lhe permitiriam ganhar tempo.

"Se vier a ser condenado, a justiça eleitoral provavelmente deve reconhecer a inelegibilidade", disse à AFP Henrique Neves da Silva, ex-integrante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mas mesmo condenado, Lula poderia chegar a apresentar sua candidatura, amparado em medidas cautelares de tribunais superiores.

Esta situação, assim como os seis processos judiciais em curso contra o ex-presidente, aumentam ainda mais as incertezas sobre o que vai acontecer nas eleições, para as quais o PT afirma não ter um plano B se Lula for inabilitado.

O ex-líder sindical se diz inocente e denuncia uma conspiração das elites para evitar seu retorno à Presidência.

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