ENTREVISTA

Comunidade LGBT sofre violência na política, diz pesquisador

Para Cleyton Feitosa, barreiras sociais e violência afastam comunidade LGBT da política

Paulo Veras
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Paulo Veras
Publicado em 11/03/2018 às 13:31
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Para Cleyton Feitosa, barreiras sociais e violência afastam comunidade LGBT da política - FOTO: Foto: reprodução do Facebook
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Doutorando em Ciência Política pela Universidade de Brasília, Cleyton Feitosa diz que candidatos LGBT no Brasil são atacados por sua identidade, e não por ideias ou propostas

JORNAL DO COMMERCIO - Qual a dificuldade que a comunidade LGBT e, principalmente, os transexuais enfrentam quando entram na política?

CLEYTON FEITOSA - Uma série de barreiras na sociedade faz com que a população LGBT não queira politizar a identidade de gênero porque ela seria algo da vida privada, íntima. Outra barreira diz respeito a violência na sociedade, que se espraia para o campo político, seja nos partidos, no Parlamento ou no processo eleitoral. No Brasil, você tem algumas candidaturas de gays e de trans. Mas essas pessoas vão ser muito atacadas na sua identidade. Não pelas suas ideias, projetos ou propostas. A gente tem exemplos em Minas Gerais e São Paulo de candidatos que tiveram o muro pixado: “Fulano deita com homem”. A última dificuldade diz respeito ao sistema político brasileiro. Os partidos precisam de voto e colocar as pessoas LGBT as vezes causam reações negativas. E para eles talvez não traga um capital eleitoral grande. Isso faz com que eles não estimulem o surgimento de lideranças LGBT.

JC - Como você viu a decisão do TSE de reconhecer as candidatas transexuais como mulheres?

FEITOSA - Foi uma conquista histórica do movimento LGBT. O TSE é muito simbólico porque ele é o órgão que regula o sistema eleitoral no Brasil. O reconhecimento do nome social e do gênero é muito importante para que as mulheres trans sejam contempladas pelas cotas. Isso potencializa a presença delas nesses espaços. O reconhecimento do nome social também para eleitoras garante o princípio da igualdade sem o qual o processo eleitoral fica fragilizado.

JC - Que outras medidas poderiam ser tomadas para ampliar a representação das mulheres e homens trans?

FEITOSA - A gente poderia pensar na possibilidade de estabelecer cotas para parlamentares LGBT. Isso é muito difícil discutir no Brasil, que não aprovou ainda nem a cota para mulheres. Além disso, podemos adotar medidas de punição à violência contra população LGBT no campo político. O deputado federal Jean Wyllys é muito difamado e enfrenta várias fake news. Seria preciso uma lei que punisse mais severamente esse tipo de violência. No âmbito dos partidos, outra medida interessante seria estimular a entrada da população LGBT na política; realizando seminários, construindo núcleos setoriais, e oferecendo formação para toda a base partidária, inclusive para pessoas não LGBT.

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