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Cristovam Buarque diz que soviéticos e nazistas tentaram escola sem partido e falharam

O projeto é uma das principais bandeiras defendidas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro

JC Online
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Publicado em 22/11/2018 às 15:57
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
O projeto é uma das principais bandeiras defendidas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro - FOTO: Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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O ex-ministro da Educação (2003-2004), educador e senador da República Cristovam Buarque (PPS-DF), é contra a aprovação pelo Congresso Nacional das propostas contidas no projeto Escola sem Partido para o sistema educacional do Brasil. Segundo Buarque, as prerrogativas colocadas pelo projeto, como a de que o aluno possa denunciar professores por suposta doutrinação ideológica, vão criar estado de "suspeição geral" em sala de aula, que prejudicará as relações de confiança e a própria dinâmica escolar.

"Escola sem partido é a escola de um partido único, que é o mesmo do governo", apontou o senador, em entrevista ao UOL. "Já se fez escola sem partido na União Soviética e na Alemanha nazista, por exemplo. Não deu certo. A gente tem de ter escola com todos os partidos, uma escola com pluralidade", defendeu.

Buarque falou da realidade das universidades públicas brasileiras. "O que não pode, realmente, é o que hoje acontece em muitas universidades federais, em que um partido se apropriou [do espaço público] e não deixa os outros [partidos] participarem".

Para o ex-ministro da Educação, dois fatores permitiram o crescimento de um movimento como o do Escola sem Partido. "Primeiro, é preciso reconhecer: muitos professores exageraram nos últimos anos, em vez de debater, querendo doutrinar. Houve certo exagero na maneira como alguns professores se sentiram donos da verdade de um partido. Segundo, por outro lado, o reacionarismo e o comodismo dos que não gostam dessas ideias, mas não querem disputar nem debater, querem só coibir. O silêncio não é um bom conselheiro na educação", declarou.

Erros

Durante sua gestão no Executivo da capital do Brasil (entre 1995 e 1998), Cristovam implementou seu principal projeto como gestor público, o Bolsa-Escola, que incentivava financeiramente famílias pobres que mantivessem seus filhos estudando. O ainda senador não esconde a frustração de ter sido derrotado nas eleições de 2018 e aponta erros seus e do campo democrata-progressista.

"Foram muitos erros dos democratas-progressistas. Identifiquei uns 30 [risos]. Primeiro, não ouvimos o povo. Segundo, ficamos prisioneiros das corporações e não da nação. Quando o Bolsonaro diz "Brasil acima de tudo", é o contrário do que nós fizemos. Nós dizíamos: "O trabalhador do ABC acima de tudo"; "Os professores acima de tudo"; "Os funcionários do Judiciário acima de tudo". Nós "corporativizamos" a República. Em 2016, em uma carta, eu disse à presidente Dilma: 'Vá ao Congresso e diga: a partir de hoje, meu partido é o Brasil, não é mais o PT'. Foi isso o que Bolsonaro fez: 'Meu partido é o Brasil'", revelou o parlamentar.

Buarque defende ainda um grande pacto nacional para tirar o Brasil da crise. Pacto do qual não poderia estar ausente o PT nem seu líder maior, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso em Curitiba. "Em algum momento vai ter de haver diálogo com Lula." Ao encerrar a entrevista, o gestor público e educador ainda faz um apelo: "Só espero que você não jogue fora meu telefone", diz, seguido do riso nervoso de quem teme ser esquecido.

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