O presidente Michel Temer conclui o seu conturbado mandato de dois anos e sete meses com uma impopularidade recorde e ameaçado por denúncias de corrupção. Mas ele está convencido de que será lembrado como o líder que tirou o país da recessão econômica.
Ninguém pode negar que este veterano estrategista de 78 anos teve habilidade para sobreviver no mais alto cargo da envenenada política brasileira.
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Vice-presidente de Dilma Russeff, ele a substituiu em 2016, quando ela sofreu um impeachment pelo Congresso sob a acusação de manipular as contas públicas.
Em um café da manhã este mês com correspondentes estrangeiros, Temer lembrou que, pouco depois de assumir, alguém lhe disse: "presidente, aproveite a sua impopularidade e faça tudo que o Brasil precisa".
"E eu fiz. Serei recordado como alguém que não se preocupou com o populismo, porque quem se preocupa com o populismo não faz o que eu fiz", sentenciou.
Uma imagem que terá que competir com a de ser o primeiro presidente do país em exercício a ser denunciado por um crime comum, além de ter batido todos os recordes de impopularidade desde o fim da ditadura militar.
Uma pesquisa Ibope deste mês indica que Temer deixa o governo com um índice de confiança de 7%. Em junho, o Datafolha o situava em 3%.
Filho de imigrantes libaneses, Temer casou-se três vezes. Atualmente, está casado com Marcela Tedeschi, uma ex-participante de concursos de beleza 43 anos mais nova que ele. Com ela teve o seu quinto filho, Michelzinho, de nove anos, muito ativo no YouTube, onde costuma colocar vídeos - alguns em tom de humor - protagonizados por ele.
Com a sua primeira esposa teve três filhas. Mais tarde, da relação com uma jornalista, teve o primeiro filho homem.
Reformas truncadas
"Tudo o que o Brasil precisa" era, em sua visão, reorganizar as contas públicas com duros cortes para restaurar a confiança dos investidores, em um país mergulhado em uma grave recessão econômica.
Em seu primeiro ano, conseguiu que o Congresso aprovasse o congelamento dos gastos públicos por 20 anos e uma reforma da lei trabalhista. Também abriu o setor petroleiro à iniciativa privada.
Mas deixou pendente a reforma da previdência, considerada a mais importante para a recuperação fiscal.
O impulso se viu afetado em 17 de maio de 2017, quando o jornal O Globo divulgou uma gravação do diretor da gigante de alimentos JBS, Joesley Batista, na qual Temer parecia endossar um pagamento de propinas.
Em 26 de junho, o então procurador-geral Rodrigo Janot o denunciou por corrupção passiva e em 14 de setembro o acusou de ser chefe de uma "organização criminosa".
Mas em ambos os casos, Temer, há mais de três décadas no MDB e três vezes presidente da Câmara dos Deputados, colocou toda a sua capacidade de manobra na missão de sobreviver na presidência.
E conseguiu, dado que os deputados rejeitaram os pedidos do Supremo Tribunal Federal (STF) de investigar as denúncias.
Na semana passada, a procuradora-geral Raquel Dodge (que substituiu Janot em 2017), o denunciou por corrupção e lavagem de dinheiro pela assinatura de um decreto que teria beneficiado algumas empresas do setor portuário.
Futuro sem foro
A partir de 1º de janeiro, quando Temer não poderá mais contar com o foro privilegiado, seus casos devem ficar nas mãos dos tribunais de primeira instância, que desde o início, em 2014, da Operação Lava Jato trata as denúncias de corrupção com uma rapidez e um rigor pouco frequentes no Brasil.
Temer se declara inocente e atribui as acusações a uma conspiração que queria, entre outros objetivos, frear as suas reformas.
E diz estar tranquilo, descartando o risco de seguir os passos que levaram à prisão figuras de primeira categoria, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e ex-presidente do país Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente em fim de mandato até mostrou senso de humor, ao dizer esta semana que, uma vez fora do poder, sentirá saudade dos gritos de "Fora Temer" que costumavam se espalhar durante as suas aparições públicas.