Análise

Esquerda passa por momento de reavaliação no Brasil

Enfraquecimento do PT no cenário político brasileiro contribui para reflexão dos atores ligados a esse campo político

Franco Benites
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Publicado em 23/10/2016 às 11:45
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Enfraquecimento do PT no cenário político brasileiro contribui para reflexão dos atores ligados a esse campo político - FOTO: Divulgação
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Com o fim da eleição municipal no próximo dia 30 as articulações para a disputa eleitoral de 2018, sobretudo a presidencial, tendem a se intensificar. Duas perguntas que cabem fazer é como a esquerda chegará até lá e que papel terá no pleito. Principal partido desse campo político, o PT sai das urnas em 2016 com menos força e precisará se reestruturar se quiser voltar a dar as cartas na política nacional. Por sua vez, outras legendas terão que demonstrar serem capazes de algum protagonismo diante do vácuo de poder petista.

Para ter condições de brigar em pé de igualdade em 2018, o PT primeiro precisará se reorganizar internamente. Formado por diversas correntes, o partido tem batido cabeça sobre os rumos que tomará e há quem defenda a “refundação” da legenda. Já o PSOL mira conquistar eleitores e dirigentes insatisfeitos com o PT para se viabilizar como maior representante da esquerda no cenário político. Para abrir esse caminho, a sigla conta com a eleição de Marcelo Freixo como prefeito do Rio de Janeiro. Há, ainda, uma briga por espaço por parte do PCdoB e do PDT.

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Para Rogério Baptistini, professor de Sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), uma revisão de conceitos é necessária. “O PT foi frágil na crítica do patrimonialismo, deixou se capturar e virou mais do mesmo. Cabe, agora, à esquerda apresentar uma proposta mais republicana e abraçar novos temas. A esquerda não pode ficar com as pautas do século 19 e uma discussão classista e sindical. Tem que se abrir para a pluralidade social”, aponta.

De acordo com cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Joanildo Burity, um “acerto de contas” interno é primordial para o fortalecimento da esquerda. “Se espera muito que se faça ajustes. Todo o campo precisa fazer uma reavaliação. O que de fato mudou na estrutura da sociedade brasileira desde 2000 (quando o PT chegou ao poder). O que mudou na relação entre Estado e sociedade?”, questiona.

ESQUERDA VIVE

Na avaliação de Burity, o fracasso do PT nas urnas não significa a morte da esquerda. “Se a gente considerar que o PT se firmou como o maior partido de esquerda do Brasil e ampliou sua participação em todos os níveis de governo, o resultado das urnas é uma derrota para a esquerda como um todo. Mas o PT e a esquerda não foram dizimados”, avalia.

Túlio Velho Barreto, outro cientista político ligado à Fundação Joaquim Nabuco, faz análise semelhante. “Por ser o maior e mais importante partido político de massas com origem na esquerda, a diminuição da força eleitoral do PT, neste momento, terá grande impacto nesse campo”, opina, destacando, no entanto, que os petistas estão longe do ocaso.

O pesquisador reforça que há esquerda sem PT. “Antes do PT havia o PCB e, hoje, existem o PCO, PSTU, PSOL, por exemplo. Embora devamos ressaltar que o PT não se acabou, apesar do que desejam e objetivam nossas elites e afirmam apressadamente alguns especialistas”, enfatiza.

REFLEXÃO

Os analistas políticos afirmam  que a esquerda precisa se reiventar. Mas o que acham os políticos ligados a esse campo? O deputado federal Silvio Costa (PTdoB), que foi um dos principais defensores da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), diz que já há uma discussão sobre uma “nova” esquerda.

“Temos um grupo em Brasília  - eu, Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Lula (PT) - que está discutindo um novo programa de esquerda para o Brasil que tenha  um olhar aos menos favorecidos, mas com uma visão do Estado mais eficiente. A gente quer uma esquerda menos sectária, que dialogue com o setor produtivo, que não se apegue a valores das décadas de 1940 e 1950”, afirmou.

O senador Humberto Costa (PT) prega uma reflexão  da esquerda, mas é  otimista. “Enquanto houver  um segmento que defenda ideias humanistas,  o fim das desigualdades e a democracia plena, a esquerda exisitirá e tenderá a crescer”, declarou.

Ainda de acordo com Humberto, o impeachment da presidente  de Dilma Rousseff impediu que houvesse uma avaliação da esquerda no poder por parte dos brasileiros. “Passamos 13 anos de hegemonia da esquerda e não podemos dizer que foi perdida porque não tivemos uma eleição nacional que a julgasse. Temos futuro”, disse.

Para a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, a palavra de ordem é resistência. “Deve haver novas reflexões porque há uma mudança completa das forças que hoje dão rumo ao Brasil. Nós,  que vínhamos numa perspectiva de reformas estruturantes de maior fôlego, agora temos que entrar em um ritmo de resistência e de denúncia do retrocesso das conquistas sociais, da democracia e da soberania nacional”, avaliou.

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