Com o fim das eleições municipais, atores políticos do Estado começam a se movimentar de olho na disputa de 2018. Em entrevista ao Jornal do Commercio, o senador Armando Monteiro Neto (PTB) prega diálogo com PSDB e DEM como alternativa ao projeto do PSB e cita vácuo de poder no governo Paulo Câmara.
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JORNAL DO COMMERCIO – Com o resultado das urnas, um novo mapa eleitoral começa a aparecer no Estado e já começaram as especulações para 2018. Uma das que ganham força é essa aproximação sua com o PSDB e o DEM. Isso tem acontecido?
ARMANDO MONTEIRO NETO – Logo depois do 1º turno fiz uma leitura dos resultados da eleição e falava de uma nova realidade que tinha se criado, que eram as chamadas forças independentes. Não as alinhava ou as colocava no campo de oposição, mas falava da posição emergente delas. Quais são? Obviamente aquelas que se descolaram do Palácio, do PSB, fundamentalmente pela posição que assumiram na disputa do Recife de terem candidatura própria. Essa decisão gerou ruído na base e eles foram expelidos do governo. Agora, indiscutivelmente, PSDB e DEM podem ser considerados em Pernambuco forças independentes. No 2º turno, tive ainda mais motivo para incluir, porque essa vitória em Caruaru foi muito importante. O grupo Lyra tem hoje posição de independência em relação ao Palácio e eu preconizava isso. Na medida em que essas forças se tornam independentes, não há nenhuma razão para que a gente não dialogue e esse diálogo é absolutamente natural.
JC – E a relação com o PT?
ARMANDO – Tive essa relação com o PT, mas foi um alinhamento político e não ideológico. Eu era do governo de Dilma, fui fiel até o fim, lutei contra o impeachment, mas sempre defendi as reformas que agora o País vai fazer. Defendi quando era presidente da CNI, quando era deputado federal, como que agora posso me posicionar contra? Então estou votando agora a favor da PEC 241, pois sempre defendi, até no governo, a necessidade de controlar os gastos públicos. A reforma da previdência eu sempre defendi. Se eu tenho uma posição que não me inibe de votar em matérias que acho importante nessas reformas, porque é que eu teria dificuldade para dialogar com essas forças. Além disso, tenho relações pessoais muito boas com essas lideranças, (...) com Mendonça Filho (DEM), fui amigo do pai dele, tenho relações boas com Bruno Araújo (PSDB).
JC – Então o senhor acha que ainda é muito cedo para essa discussão de 2018?
ARMANDO – Essa coisa de chapa é absolutamente prematura. Agora para mim há uma posição muito nítida: sou oposição a esse projeto que está em curso em Pernambuco, que é esse projeto do PSB, que deixou de ser há algum tempo um projeto político para ser um projeto de manutenção de um grupo no poder, com vácuo inclusive de liderança. A meu ver, esse projeto não pertence mais a Pernambuco, e olhe que tem gente do próprio PSB que está dizendo isso. O Antônio Campos diz que têm setores do PSB que tem um projeto de poder. Como me oponho a essas forças firmemente, quero construir uma nova relação de forças, quero fortalecer esse campo que se opõe a essa hegemonia. Podendo construir com outras forças um projeto alternativo, não tenho nenhuma dificuldade. Não excluo ninguém, nem as forças com as quais me alinhei até hoje, que não tenho nenhuma razão para descartá-las, e nem tampouco terei dificuldade de, nesse caminho, agregar novas forças, como são hoje essas forças que se declaram independente no Estado.
JC – Como conciliar nessas conversas o PT com o PSDB e DEM?
ARMANDO - Essa resposta eu não tenho. Agora, por exemplo, há discordâncias nessa perspectiva. Houve um momento agora recente que João Paulo admitiu no jornal uma reaproximação com o PSB. Eu já não admito essa reaproximação. Então, evidentemente há posições que, ao longo dessa trajetória, vão se definindo naturalmente. Há posições que o PT pode assumir, mas eu não posso ou não devo assumir, e há posições que eu posso assumir e o PT pode entender que não possa ou não deva. Ou seja, o alinhamento que nós temos com o PT não me impõe nenhum problema, nenhuma camisa de força. Tenho absoluta autonomia do ponto de vista político. Valorizo esses companheiros, João Paulo, Humberto Costa, tenho relação de amizade, mas não estou submetido a um processo que eu possa alienar minha autonomia.
JC – Qual sua avaliação sobre essa críticas do advogado Antônio Campos?
ARMANDO – É um problema de interno do PSB, mas é uma coisa reveladora das contradições que existem lá. (...) Há declarações que são ditas ali e que são importantes, porque fica claro que há uma disputa familiar pelo poder, como se tivéssemos nos tempos das dinastias políticas. Nós, os pernambucanos, não fizemos essa escolha. Não escolhemos famílias para governar o Estado. E, pior, nem unida essa família está, ao que parece.
JC – Como o senhor avalia a posição do governador Paulo Câmara em meio a esse processo e essas declarações de Antônio Campos?
ARMANDO – Isso é a maior demonstração do absoluto vácuo de liderança. É um governo de condomínios familiares, de áreas de influência de A, de B, de C, porque não tem uma linha de liderança. Não tem ninguém que possa falar pelo conjunto. Aliás, nessa eleição isso ficou muito claro. De qual PSB a gente está falando? Tem vários. Tem deputado do PSB que ficou no palanque diferente do governador. (...) O que tudo isso demonstra é a falta de liderança, de autoridade política do governador.