Por cinco anos, choveu. A água fez vicejar a agricultura e a produção de frutas, alimentou o gado e fez crescer a bacia leiteira, dinamizou a produção do interior. Mas a seca enveredou pelos últimos cinco anos. A agricultura, que crescia 5,3% em 2011, encolheu espantosos 31,6% no ano seguinte. A pecuária, que avançava a 6,4%, recrudesceu 13,8% em 2012. Maior obra hídrica da do País, a Transposição do Rio São Francisco, que prometia levar água para 12 milhões de nordestinos, não ficou pronta a tempo. Um estudo técnico da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima em R$ 104 bilhões o prejuízo do Nordeste com a seca entre 2012 e 2015; considerada a pior dos últimos cem anos.
Para a bacia leiteira pernambucana, o efeito da seca foi dramático. O Estado, que chegou a produzir 2,5 milhões de litros de leite por dia, produz hoje pouco mais da metade: 1,4 milhão de litros diários. O rebanho bovino chegou a quase 2,5 milhões de animais nos tempos bons. Meio milhão morreu ou migrou para outros estados no primeiro ano. Das 760 mil vacas em lactação que existiam no Estado em 2011, restaram 360 fêmeas. O lado bom é que a seca fez com que ficassem apenas os melhores animais.
“Não sei como eles ainda conseguem produzir leite. No calor, uma vaca precisa em média de 120 litros de água por dia. Se a vaca não tem água suficiente ou se essa água não é de qualidade, a produção cai”, explica Erivânia Camelo de Almeida, coordenadora da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro). A água que era de graça, passou a ser paga e as fontes estão cada vez mais distantes dos produtores. A ração também estourou os custos. A saca do milho, que custava R$ 22, bateu em R$ 58. A da soja, que era R$ 48, passou para R$ 95.
No Agreste, onde a seca bateu mais forte e onde há hoje a maior deficiência hídrica do Estado, a falta de água atingiu em cheio a indústria têxtil, já que a produção depende diretamente de lavanderias e estamparias. “O jeans é o que mais necessita de água para a produção. Está difícil conseguir e ela está caríssima. Então tem muita lavanderia que não consegue fazer o serviço porque simplesmente não tem água disponível”, conta Fredi Maia, presidente do Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções de Pernambuco.
Em três anos, houve uma redução de 28 mil empregos com carteira assinada. Outros 30 mil estão comprometidos. A produção têxtil, que movimenta até R$ 6 bilhões por ano, só não está pior porque o Brasil reduziu a importação de roupas.
CIDADES EM COLAPSO
Segundo Roberto Tavares, presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), em torno de 60 cidades estão em situação de colapso, quando o abastecimento é feito por carros-pipa, ou pré-colapso. O projeto da Adutora do Agreste, que pretendia atender a região, atrasou pela queda nos repasses federais causados pela crise, diz. Desde que foi retomada, no segundo semestre do ano passado, porém, o aporte da União quadruplicou. Nesse ritmo, a adutora ficaria pronta em 2018.
Originalmente, o equipamento seria alimentado pela Transposição através de um ramal que, se sair, só estará pronto daqui a quatro anos. Como alternativa, o Estado tem mobilizado uma série de obras menores para levar água da Zona da Mata para o Agreste. “Pelas séries históricas, a seca já deveria ter terminado. Esse ano deve ter chuvas na média ou um pouco abaixo. Já é um alento. Quando a seca acabar, nós estaremos melhor preparados do que os demais estados do Nordeste por causa dessas obras”, garante.