Alvo da Lava Jato, bilhões de dólares em investimento público estão abandonados no pátio da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), sujeitos a sol, chuva e furtos. A segunda unidade de refino, o trem II, está 80% pronta. Mas as obras pararam no final de 2014, em meio a crise financeira e as denúncias de corrupção na estatal e em empreiteiras que atuavam na construção. A onda de demissões foi enorme entre os 45 mil homens que trabalharam na obra. No início deste ano, o ex-gerente da Rnest Glauco Legatti foi indiciado por corrupção passiva e organização criminosa. A refinaria opera só o trem I, sem previsão de conclusão. O receio é que tubos e equipamentos parados sejam depreciados.
Dois homens foram detidos em flagrante dentro da Rnest após roubar 200 quilos de cabos de cobre cortados no dia 15 de junho do ano passado, mostra boletim de ocorrência a que o JC teve acesso. O documento diz que eles estavam “dentro das ferragens da Refinaria Abreu e Lima” para se referir a parte abandonada a obra.
Para o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo de Pernambuco e Paraíba (Sindipetro-PE/PB), este é apenas um dos furtos que tem ocorrido na refinaria. Em abril último, invasores teriam disparado tiros depois de serem identificados furtando cabos de energia. “Com a obra parada, as pessoas estão entrando para roubar equipamentos como cabos e bombas. Os furtos são constantes”, diz Rogério Almeida, coordenador geral do Sindipetro. Apesar de integrar o Complexo de Suape, a Rnest não fica dentro da área portuária, que tem uma restrição rígida de acesso.
Além dos furtos, há ainda o risco de depreciação do trem II, um investimento bilionário da Petrobras. Fotos feitas neste mês pelo sindicato mostram que equipamentos que iriam compor a nova unidade de refino estão abandonados ao lado da obra paralisada. Andaimes sem uso cercam os delicados mecanismos de refino de petróleo. E o mato cresceu ao lado do que seria um dos principais vetores da economia de Pernambuco.
O deputado federal Betinho Gomes (PSDB) diz que parte dos equipamentos está enferrujando e vai fazer dar entrada em um pedido de informações para a Petrobras informar o plano de retomada da obra. “Foi um investimento alto que está se degradando. O mais grave é a informação de que tem furto, risco de acidente. Pode até ter deterioração tecnológica. Tem equipamentos que podem perder eficácia. Tudo isso é dinheiro público jogado fora”, afirma.
Segundo Rogério, antes da paralisação foram feitas proteções para os equipamentos mais delicados, mas elas foram se desgastando e tubulações e equipamentos estão expostas ao relento. “Os equipamentos parados estão se deteriorando aos poucos. E estão servindo como almoxarifado. São retiradas peças para o trem I, quando precisa. Em vez de estar sendo concluído, o trem II está sendo desmontado”, conta.
PETROBRAS ESPERA PARCEIRO
No plano de negócios da Petrobras para os próximos cinco anos, a estatal diz que está em busca de parceria para retomar a segunda etapa da refinaria pernambucana. O desafio é encontrar um investidor que assuma os custos inflados da Rnest, que já recebeu mais de US$ 20 bilhões em investimentos. Braços da Petrobras, a Companhia Petroquímica de Pernambuco (PQS) e a Companhia Têxtil Integrada de Pernambuco (Citepe), que custaram R$ 9 bilhões, foram vendidas por R$ 1,2 bilhões para a mexicana Alpek no final do ano passado.
Com apenas um dos trens em funcionamento, a Rnest já produz 20% do diesel consumido no País. A Petrobras prevê começar em breve a construção da Unidade de Abatimento de Emissões (SNOX), que dará autorização ambiental para o trem I atingir sua capacidade máxima: refinar 125 mil barris de petróleo por dia a partir do segundo semestre de 2018. Quando ficar pronto, o trem II terá a mesma capacidade.
“Para manter os equipamentos do segundo trem da Rnest, a Petrobras executa, desde 2015, trabalho de preservação através de contratos específicos com empresas especializadas, garantindo a integridade e a segurança dos equipamentos”, disse a empresa por meio de nota. O texto não fala nos casos de furto, embora o JC tenha encaminhado questionamento.
O Complexo de Suape disse não ter recebido nenhum pedido de apoio da Rnest e lembrou que a segurança interna e vigilância são de responsabilidade das empresas. Suape está instalando um centro de videomonitoramento para a zona portuária. O número de câmeras na área do porto, subirá de 64 para 130 unidades.