Ex-governador do Ceará e ex-ministro por duas ocasiões, Ciro Gomes (PDT) estará no Recife no próximo sábado (10). Uma semana antes de desembarcar na capital pernambucana, ele concedeu uma entrevista ao Jornal do Commercio. Esta é a segunda parte. Aqui, você confere a primeira parte da conversa.
JC - O presidente Michel Temer (PMDB) declarou que acabou a recessão. O senhor concorda?
CIRO - Ele está enganado e vai morder a língua de novo. O fundo do poço tem algumas virtudes porque abaixo dele não tem mais nada e você só pode subir. O Brasil está em uma depressão econômica e só sairemos disso com a solução estratégica de algumas coisas que não estão sequer sendo abordadas. Esse conjunto mistificador de reformas são providências contracionistas da taxa de investimento do País. Nunca houve uma situação em que o colapso do passivo das empresas privadas seja tão grave como hoje. O setor público está com o pior momento fiscal da história. Simplemente, a gente vê RJ, MG e RS quebrados. O investimento público está no nível mais deprimido desde a Segunda Guerra. Temos um desequilíbrio estrutural nas nossas contas com o estrangeiro que qualquer ensaio de crescimento apresenta déficits astronômicos e aí tem uma pressão de desvalorização do real e uma pressão inflacionária. E lá vem a história da estupidez de meter taxa de juros para enfrentar ajuste relativo de preço provocado por taxa de câmbio. A gente não compra dólar, mas compra pão e pizza. E pão e pizza são feitos com trigo, que o Brasil tem que comprar no estrangeiro. Quando Lula entregou o governo para a Dilma (PT), a gente precisava de R$ 1,75 para um dólar de trigo. Quando a Dilma caiu, nós estávamos precisando de R$ 4 para comprar o mesmo dólar de trigo, ou seja, o preço da pizza e do pão subiu. Se a gente não resolver essa equação, nenhuma chance o País tem de crescer.
JC - O senhor manteria a agenda de reformas do presidente Michel Temer?
CIRO - O Brasil precisa adaptar sua legislação trabalhista aos novos modos de empreender, à automação e robótica. São assuntos e realidades novas que exigem uma regulação, mas na direção oposta ao que estão fazendo, que é uma volta aos séculos 17 e 18 em que o trabalho era uma mercadoria como um quilo de sal ou meia dúzia de bananas. Fazer isso criando uma categoria absolutamente exótica em que o negociado prevalece sobre o que está posto na lei, numa hora em que o País tem quase 15 milhões de desempregados, é simplesmente uma selvageria. Na Previdência, temos também muitas coisas acontecendo. É preciso colocar em discussão o futuro do equilíbrio da previdência social, mas o que estão fazendo é preservar todos os privilégios em cima dos interesses mais frágeis da sociedade. Os sertanejo ter a mesma idade mínima para contribuir de uma pessoa que trabalho em um escritório da Av. Paulista, dentro do ar-condicionado, não é razoável.
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JC - Dilma teve uma dificuldade muito grande de aprovar o ajuste fiscal quando ela tentou fazer isso com o Levy (Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda). Enquanto ela queria fazer corte de gastos, o Congresso estava aprovando pauta-bomba.
CIRO - Sim, mas o corte de gastos você faz é na boca do caixa. A Dilma nomeou o Levy para ministro da Fazenda. Não vamos esquecer isso para não cair numa contradição que parece que a gente não cometeu erro nenhum. A Dilma nomeou o Levy. Cuja experiência no serviço público anterior tinha sido quebrar o Estado do Rio de Janeiro. E a Dilma botou os juros em 14,25%. A Dilma fez um tarifaço de 70% na energia elétrica no dia seguinte da eleição.E nós vamos botar a culpa no Congresso? Eu não estou absolvendo o Congresso, não. Esse Congresso hoje é de corruptos e golpistas. A minha opinião sobre a maioria desse Congresso é a pior possível. Mas ele foi virando isso por conta da omissão dos nossos governantes. Quem foi que deu Furnas para o Eduardo Cunha? Não foi São Pedro, nem São Paulo, nem São Caetano. Foi o Lula que deu. Quem foi que loteou a Petrobras um pedaço para cada um roubar e deu no que deu? Também não foi nenhum santo, nem o Espírito Santo. Foi o Lula que deu. Como o Fernando Henrique fez a mesma coisa. Aí você cria uma hegemonia de bandidos e depois vem se queixar da instituição Congresso. Faz o oposto. Faz o que o Itamar fez. Eu fui ministro do Itamar. O Itamar governou e nunca fez concessão a ninguém, não.
JC - O senhor hoje teria um nome para o seu ministério da Fazenda?
CIRO - Não. Eu tenho a humildade de saber que está muito longe a possibilidade de eu precisar escolher o ministro da Fazenda. Eu tenho um perfil. A ideia para mim é que o ministro da Fazenda tem que ser um homem da produção nacional.
JC - Nós fóruns dos governadores do Nordeste, eles têm dito que faltou atenção do governo federal para a região. O senhor concorda? E o que possível fazer para que o Nordeste tenha mais benefícios?
CIRO - Concordo plenamente. Para não dizer que não falei de flores, o período Lula foi um período em que o Nordeste ganhou muito. Nós ganhamos obras de infraestrutura centenárias que estavam em execução. O projeto São Francisco, a Transnordestina. Está tudo parado. Nós ganhamos coisas importantes como a restauração no primeiro momento da Sudene. Passamos a operar novamente o Fundo Constitucional para Desenvolvimento do Nordeste, o FNE, que são mais de R$ 7 bilhões de crédito. Tudo isso está dando para trás.
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