Candidata à presidência da República em 2014, a ex-senadora Marina Silva (Rede) analisa o cenário político do País e não poupa críticas a Michel Temer (PMDB), aos ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) e ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Para Marina, foram os partidos dessas lideranças políticas que levaram o Brasil “para o buraco”. Em conversa com o repórter Franco Benites, a ex-senadora defendeu o juiz Sérgio Moro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a Lava Jato. Sobre a eleição de 2018, Marina diz que ainda não decidiu se será candidata. A segunda parte da entrevista com Marina Silva está aqui.
JORNAL DO COMMERCIO – A senhora acha que o presidente sofrerá uma derrota no plenário em relação à denúncia da Procuradoria Geral da República?
MARINA SILVA – Estamos vivendo uma das piores situações do nosso País com o primeiro presidente sendo denunciado no Congresso para ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), temos uma presidente (Dilma) que só não foi cassada porque uma parte do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu ignorar a farta comprovação trazida nos autos e temos o primeiro ex-presidente da República (Lula) que está sendo condenado em primeira instância. Tivemos essa situação lamentável e deplorável na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) em que o presidente Temer lançou mão dos mesmos mecanismos de Dilma para substituir e aliciar parlamentares usando dinheiro público através das emendas. O que espero é que não se repita no plenário o que aconteceu na CCJ. Que seja respeitada a vontade soberana da população, que quer ver o trabalho da Lava Jato sendo honrado, e que se vote a favor da denúncia do Ministério Público. O presidente já não tem credibilidade e popularidade, e muito menos legitimidade. Ele está prejudicando o País para poder esconder-se juntamente com seus seis ministros igualmente denunciados atrás do foro privilegiado.
JC - A Lava Jato está em risco?
MARINA - A Lava Jato tem o apoio da sociedade e é uma das maiores contribuições que temos depois da reconquista da democracia, desmontando toda essa estrutura criminosa envolvendo políticos, partidos e empresários. Ela sofre bombardeios do PT, PMDB, PSDB e dos seus partidos satélites porque, infelizmente, esses partidos, que nunca se uniram para fazer qualquer coisa a favor do Brasil, estão unidos para tentar desmoralizar o juiz Sérgio Moro e o procurador Rodrigo Janot. O apoio da sociedade brasileira tem que continuar.
JC – A condenação do ex-presidente Lula lhe surpreendeu?
MARINA – É uma decisão em primeira instância e há possibilidade de se recorrer. Ninguém é, a priori, culpado ou inocente. A inocência ou culpa será feita com as investigações. O importante que está acontecendo no Brasil é que, independente do tipo de história ou trajetória, ninguém está acima da lei. Se há comprovações de erros que foram praticados, esses erros precisam ser punidos e reparados, sempre assegurando a ampla e legítima defesa. O que não se pode ter é dois pesos e duas medidas. A Justiça se faz com um peso e uma medida, com base nos fatos e nos autos e é isso que está sendo feito. Obviamente, ninguém vê com alegria que as principais lideranças e os principais partidos estejam envolvidos em gravíssimos casos de corrupção. O que levou a isso foi a visão errada de busca de poder pelo poder, do dinheiro pelo dinheiro, de entender a política não como serviço, mas como meio de se perpetuar no poder ou, até por parte de alguns, para benefícios pessoais.
JC – Em 2018, a senhora será candidata à presidência da República? Já se tem articulado nesse sentido?
MARINA - Tenho dialogado com os partidos que fazem parte do campo que marcharam comigo em 2014 (PSB/PHS/PRP/PPS/PPL/PSL) sobre a crise grave que o Brasil está vivendo e como pensar saídas para essa crise independente de quem vai ser ou não o candidato. Estou fazendo ainda o meu discernimento pessoal. Tenho dialogado até porque o discernimento não é um ato individual, mas não tomei nenhuma decisão e quando fizer não precisarei terceirizá-la para ninguém.
JC - Tem conversado com o Psol e o PCdoB?
MARINA – Não tive conversas nem com o Psol e nem com o PCdoB. Tenho dialogado com os partidos que fizeram parte do processo de 2014 e com pessoas independentes da sociedade. O tempo todo tenho dialogado sobre o Brasil e me posicionado. Os meus posicionamentos talvez sejam na direção contrária aos dos grandes partidos e seus satélites. Tenho defendido desde 2015 cassar a chapa Dilma-Temer e chamar uma nova eleição. Tenho tido uma posição contrária ao foro privilegiado e à anistia do caixa 2. Talvez seja por isso que muitos considerem que o que eu falo não é uma fala, porque estão acostumados com o PT, PSDB, PMDB. Tenho dialogado com juristas e economistas sobre buscar uma transição para o Brasil que não signifique passar por cima da Lava Jato. Dilma e Aécio não apresentaram programa de governo. Eu apresentei e paguei um preço muito alto. Talvez seja por isso que os que ganharam e não apresentaram programa de governo levaram o País a essa crise. Eles tinham um projeto de poder econômico e político, tanto é que a Lava Jato agora está revelando tudo o que estava por trás de tanta mentira e de tanta agressão como as que foram praticadas contra mim em 2014.
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