Um saque no valor de R$ 2 milhões a dois dias antes da eleição de 2014 feito da conta da empresa JFW, investigada na Operação Torrentes, é um dos focos da investigação da Polícia Federal. Segundo a PF, o saque foi feito por uma pessoa identificada como Everton Soares da Silva. O rastreamento foi realizado através do celular do suspeito, que usou o telefone a 200 metros da casa do coronel Roberto Gomes de Melo Filho, preso temporariamente ontem. Após o contato, o coronel Roberto se deslocou para a sede do PSB no Recife. A localização também foi feita por meio do rastreamento. O saque foi um dos motivos que levou o coronel Mário Cavalcanti Albuquerque, ex-chefe da Casa Militar e ex-interventor de Gravatá, a prestar depoimento através de condução coercitiva.
De acordo com a Polícia Federal, em 2014, o coronel Mário atuou no comitê financeiro do PSB. Na entrevista coletiva realizada ontem, a PF afirmou que ainda não é possível afirmar se a pessoa que sacou os R$ 2 milhões esteve na casa do coronel Roberto ou ainda se os dois oficiais da PM se encontraram na sede do PSB.
A Torrentes é mais uma operação da Polícia Federal que investiga ações do PSB no Estado. Deflagrada em agosto de 2015, a Operação Fair Play apontou superfaturamento na construção da Arena de Pernambuco. A construção do estádio foi uma das marcas da gestão de Eduardo Campos para que o Recife recebesse jogos da Copa do Mundo de 2014. De lá para cá, o contrato com a Odebrecht, que liderava o consórcio que construiu a Arena e administrava o empreendimento, foi rompido. O Estado, então, adquiriu uma dívida de R$ 246 milhões, que deveria ser paga em 15 anos. Em julho deste ano, o TCE-PE expediu uma medida cautelar e determinou a suspensão do pagamento das parcelas. No mês passado, o TCE acatou parcialmente o pedido da empreiteira para que os pagamentos fossem retomados.
TURBULÊNCIA
Em junho de 2016, a Operação Turbulência investigou desvios de recursos de obras públicas que podem ter irrigado as campanhas do PSB de 2010, quando o ex-governador Eduardo Campos foi reeleito, e a de 2014, quando ele se candidatou à presidência da República. A Turbulência foi, talvez, a operação que mais repercutiu politicamente. Além de citar diretamente Eduardo Campos, quatro empresários foram presos e um quinto investigado - Paulo César Morato - foi encontrado morto em um motel de Olinda. Na época, foram detidos os empresários João Carlos Lyra Mello Filho, Eduardo Freire, Apolo Santana Vieira e Arthur Roberto Lapa Rosal. Eles foram soltos, por meio de um habeas corpus emitido pelo STF, em setembro de 2016. Em novembro do ano passado, o processo foi arquivado pela Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) após a defesa dos empresários alegar que não havia evidências que comprovassem lavagem de dinheiro e o Ministério Público Federal (MPF) apresentou denúncia apenas pelo crime de organização criminosa.
Em janeiro deste ano, a Operação Vórtex, um desdobramento da Turbulência, investigou uma empresa que teria repassado recursos para a compra do avião usado na campanha à presidência pelo ex-governador Eduardo Campos. A aeronave é a mesma do acidente que causou a morte do socialista, de assessores e de pilotos.
A Operação Catilinárias, em dezembro de 2015, investigou o ex-presidente da Copergás, Aldo Guedes. Na época, a PF também realizou buscas no escritório do senador Fernando Bezerra Coelho, que ainda pertencia ao PSB. Um dos alvos de mandados de busca de apreensão foi a fazenda Esperança, que está no espólio de Eduardo.
No mês de julho de 2015, Fernando Bezerra Coelho e Aldo Guedes já tinham sido alvo da Operação Politeia, que cumpriu mandados de busca e apreensão nas casas do senador, do empresário a ainda do deputado federal Eduardo da Fonte (PP). Na época, a PF buscava informações no âmbito da Operação Lava Jato.