ESTÁDIO

TCE suspeita de conluio na construção da Arena de Pernambuco

O TCE pediu informações da Lava Jato por ter encontrado índicios de que ocorreu conluio na construção da Arena de Pernambuco

Da editoria de Política
Cadastrado por
Da editoria de Política
Publicado em 06/02/2018 às 8:01
Foto: JC Imagem
O TCE pediu informações da Lava Jato por ter encontrado índicios de que ocorreu conluio na construção da Arena de Pernambuco - FOTO: Foto: JC Imagem
Leitura:

As informações da Operação Lava Jato vão contribuir para colocar um final no quebra cabeças que o Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE) está montando no desfecho final de pelo menos quatro processos que tramitam naquela casa com a finalidade de apurar indícios de irregularidades na construção e operação da Arena de Pernambuco. A Lava Jato revelou um esquema de propina bilionário envolvendo construtoras, políticos e diretores da Petrobras. Agora, o TCE pediu as informações da delação do fim do mundo, mas especificamente a delação premiada do ex-diretor da Odebrecht no Nordeste, João Pacífico. A suspeita do Tribunal é de que tenha ocorrido um conluio, uma combinação envolvendo empresas na concorrência que escolheu uma subsidiária da Construtora Odebrecht para implantar e operar a Arena de Pernambuco numa Parceria Público-Privada (PPP). Nesse caso, o conluio teria sido entre as construtoras Odebrecht e a Andrade Gutierrez.

“Se houve conluio, a concorrência não existiu”, diz o conselheiro do TCE que está à frente dos processos que envolvem a Arena de Pernambuco, Dirceu Rodolfo. A não existência de concorrência já contraria um princípio das licitações com o uso do dinheiro público. Mas não fica só nisso. “A confirmação do conluio vai fragilizar uma série de argumentos que contribuíram para a empresa dizer que o custo de implantação da Arena de Pernambuco foi R$ 479 milhões a preços de 2009”, explica Dirceu Rodolfo.

Esse valor vem sendo contestado pelo TCE que numa auditoria contábil – feita por técnicos do tribunal – apontou que o custo do empreendimento ficou em cerca de R$ 390 milhões (a preços de 2009). O TCE também pediu informações levantadas pela Operação Fair Play, a qual apurou indícios de irregularidades nos estádios construídos para sediar os jogos da Copa. O levantamento da Fair Play indicou um custo da implantação do empreendimento em cerca de R$ 400 milhões, segundo Dirceu Rodolfo.

A expectativa dele é de que o julgamento dos processos que tramitam no TCE ocorram ainda este ano. Assim que chegar as informações da Lava Jato, todos os envolvidos serão notificados e terão 30 dias para apresentar a sua defesa. Se for comprovado que houve superfaturamento ou conluio, o TCE poderá pedir para que a empresa devolva o dinheiro, também poderá multar os responsáveis, além de gerar inegibilidade dos gestores públicos envolvidos. São mais de 30 gestores públicos que participaram desse projeto, incluindo o atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB) e o governador Paulo Câmara (PSB) que foram, respectivamente, presidente e vice-presidente do Comitê Gestor das PPPs de Pernambuco, quando ocorreu a modelagem do projeto. Na época, ambos eram secretários de Estado e o governador era Eduardo Campos (PSB), que falecido na campanha presidencial de 2014. Em outubro deste ano, ocorrerão eleições e, pelo atual cenário, Paulo Câmara vai tentar a reeleição.

Caso o julgamento dos processos do TCE apontem um valor menor que R$ 479 milhões, ficará menor o valor acordado de cerca de R$ 240 milhões que o Estado ficou de pagar a concessionária, quando rompeu o contrato.
O TCE também reconhece como indevido o valor de cerca de R$ 264 milhões que a empresa está pedindo a mais, em juízo arbitral – instituído pelas partes envolvidas – , por causa das despesas relativas à antecipação do prazo de conclusão da obra. Segundo o TCE, isso não procede porque o término ocorreu no prazo.

 

A Arena Pernambuco foi construída como uma PPP entre a Odebrecht e o governo de Pernambuco para receber os jogos da Copa das Confederações (em 2013) e a Copa do Mundo de 2014. No entanto, houve uma frustração das receitas previstas para a Arena e, por causa disso, o governo do Estado teve que aumentar o repasse de recursos ao empreendimento. Com isso, a Fundação Getúlio Vargas e o TCE apontaram que não havia sustentabilidade na PPP e o contrato foi suspenso.

RESPOSTA

Contactado pela reportagem do JC, o Governo do Estado informou que os processos de contratação e de rescisão contratual da Arena seguiram os trâmites legais próprios, contando, inclusive, com o acompanhamento e aprovação dos órgãos de controle. Também argumentou que as afirmações de superfaturamento, feitas até a presente data, carecem de sustentação técnica. Já a assessoria de imprensa da Odebrecht comunicou que a empresa continua colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua e está empenhada em ajudar a esclarecer qualquer dúvida sobre os relatos apresentados por seus executivos e ex-executivos. Segundo a empresa, o acordo de colaboração da Odebrecht já se provou eficaz, inclusive com desdobramento em novas investigações e processos judiciais no Brasil e no exterior. A Andrade Gutierrez não vai comentar o assunto.

Últimas notícias