O Brasil tem 16,6 milhões de filiados a partidos políticos até março último, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isso significa mais que 11% dos 144 milhões de eleitores do País. Somente o MDB tem mais de 14% de todos os militantes do País. “A quantidade de militantes é grande porque somos um dos países que mais tem partido político”, explica a cientista política Priscila Lapa. São 35 agremiações cadastradas no TSE.
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O lado bom desse número, segundo a cientista política Priscila Lapa, é a grande participação da população na vida partidária. “No entanto, essa quantidade de militante tem a ver com o fisiologismo. A filiação é necessária para fazer parte daquele grupo político. E isso também dá um capital político para empregos que não precisam de concurso”, resume.
“Perto das eleições, os partidos também estimulam o aumento do número de filiados para crescer a quantidade de potenciais candidatos. Isso aumenta a chance de fazer uma cauda eleitoral”, conta Priscila. O termo cauda eleitoral se refere a vários candidatos que possuem uma pequena quantidade de votos, mas somados agregam suficiente para eleger mais um parlamentar.
No atual cenário, Priscila não acha muito saudável a quantidade de partidos. “São muitos com pouca representatividade. Isso enfraquece a democracia porque há vários pequenos partidos que não têm agendas claras no legislativo”, defende.
CONCENTRAÇÃO
Também chama a atenção a quantidade de militantes nos grandes partidos. Somente seis siglas (MDB, PT, PSDB, PP, PDT e PTB) têm 55,8% de todos os militantes do País. “Geralmente os partidos mais antigos tem mais militantes, porque os cadastros não são atualizados com presteza pelos partidos. Não é por questão de má fé. É desorganização”, explica o professor de Ciência Política da Unirio e cientista político Guilherme Simões Reis.
Entre os partidos citados acima a surpresa é o PP, um partido razoavelmente novo, que passou a atuar com a atual legenda desde 1995. O PP tem um pouco menos filiados do que o PSDB que já respondeu pelo governo central por oito anos e teve vários chefes do executivo à frente de alguns Estados.
“Tentei buscar meios de ser um ativista política. Desde 2012, atuo como militante. Dez dias depois que tirei o título, me filei ao PSDB porque sempre admirei Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas e tenho identidade com as propostas do partido”, conta o bancário Caio Lessa, que trabalha num banco privado e já foi presidente estadual da juventude tucana entre junho de 2016 e junho de 2017.
O pequeno empresário Adalberto Epaminondas também atua como militante do MDB pelo menos desde 2004, quando iniciou um mandato de vereador em São Lourenço da Mata, zona oeste da Região Metropolitana do Recife (RMR). “Não sei se vou voltar para disputar cargo, mas acho importante participar ativamente de uma eleição. Se você quer uma mudança, tem que participar”, argumenta.
DEMOCRACIA
Mais de 40 entidades estão lançando neste domingo (21/04) um documento chamado Pacto pela Democracia. É uma resposta a algumas afirmações de coronéis das forças armadas de que haveria intervenção militar, caso Lula ficasse impedido de concorrer nas eleições presidenciais deste ano. “A nossa intenção é chamar a atenção para este cenário de polarização que estamos vivendo, de erosão do debate público e de conflitos que podem desbancar para a violência. Então é importante lembrar o quanto é importante manter a democracia”, defende o coordenador do movimento e também cientista político, Ricardo Borges.
Ele argumenta também que defender a democracia é uma forma de combater a intolerância política, tão comum no Brasil. O grupo realiza hoje um grande evento em São Paulo na Avenida Paulista.
O grupo propõe uma plataforma comum pela democracia que consiste em basicamente três eixos. O primeiro é a defesa da tolerância, do diálogo e o repudio à violência. O segundo é defender que as próximas eleições sejam livres, com debate e respeitando as leis.
“O terceiro eixo é que os políticos que estão participando dessa iniciativa comecem um processo de reforma política da maneira mais participativa e aberta”, defende Borges.
O Pacto pela Democracia conta com a participação do Instituto Ethos, Cidade Democrática, Novo Congresso é Possível, Atletas pelo Brasil, Bancada Ativista, Instituto Sou da Paz, Movimento Transparência Partidária, Instituto Igarapé, Instituto Update, Acredito, Agora, Fórum do Amanhã, Nossas, Ocupa Política, RAPS, Rede Nossa São Paulo e Transparência Internacional, entre outros.
“Entendemos que uma ampla reforma política após as eleições é um caminho para vencer a crise política de forma estrutural, aprofundando a democracia”, conta Borges. O documento deve ser lançado hoje no Dia Pela Democracia, que vai ocorrer na Avenida Paulista, em São Paulo.
A iniciativa também tem o site www.diapelademocracia.org, a plataforma na qual as pessoas podem se manifestar em defesa do regime democrático. “A nossa expectativa é de que ocorra outros dias da democracia em mais cidades a partir de agosto”, afirma Borges.
E só lembrando o contrário da democracia é a ditadura, um regime autoritário. E, o Brasil, já passou mais de 20 anos, sem eleições, com censura e num estado de exceção no qual até a tortura era permitido. Durante o regime militar, milhares de pessoas desapareceram no Brasil.