Redução da violência, mais empregos, fim da corrupção. Os pedidos de qualquer brasileiro são os mesmos que querem os reeducandos do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) do Cabo de Santo Agostinho; uma das 22 unidades da Funase no Estado. O JC conversou com quatro deles que vão votar pela primeira vez, alguns apenas porque foram estimulados a tirar todos os documentos e o título de eleitor era um deles. Nenhum sabia dizer ao certo que cargos seriam disputados em outubro.
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“Quero um Brasil melhor, com menos violência e corrupção, e mais educação. A gente tem que ver quais são os candidatos e o que eles vão fazer pelo Brasil ou por Pernambuco. Vou votar em um candidato que dê emprego ao povo que está desempregado”, afirma João*, cuja família é do bairro dos Torrões, no Recife. Aos 20 anos, ele confessa que é bom saber que vai votar pela primeira vez e promete que vai tentar ser um bom eleitor. Ele está interno há 2 anos e cinco meses.
Só o Case do Cabo tem mais de 200 eleitores, segundo a direção da unidade. No último mês, um ônibus do TRE-PE foi até lá e tirou 120 títulos em dois dias. Nela e em outras sete unidades da Funase, a Justiça Eleitoral deve levar uma urna no dia da eleição para atender aos jovens e aos servidores. Nas casas de internação onde houverem menos de 20 eleitores, a própria instituição levará os reeducandos até o local de votação. Os jovens e adolescentes têm acesso ao guia eleitoral através da televisão.
De acordo com Nadja Alencar, presidente da Funase, todas as unidades também receberão palestras nos próximos meses sobre a importância do voto através do projeto Eleitores do Futuro. “Além de participar do processo democrático e estarem inseridos em um momento de democracia, a gente também prepara eles para quando saírem. Eles terão a documentação em dia, o que pesa para se inserir no mercado de trabalho e ter acesso à formação educacional”, explica.
>> O PRIMEIRO VOTO DE 387 JOVENS DA FUNASE
“Vou pensar direitinho para não votar em um político errado, que só quer saber de roubar. Eu ia votar em Lula, pelo que ele fez pela gente, ajudando muito o povo mais pobre. Mas eu soube que ele está preso e não sei se ele será candidato”, admite Rubens*, de 19 anos, que morava na Vila Santa Luzia, no Recife, e está há 1 ano no Case do Cabo.
CORRUPÇÃO
A corrupção é uma preocupação constante. Em tempos de Operação Lava Jato, todos os jovens ouvidos pelo JC fizeram questão de dizer que não votarão em candidatos que roubaram, mesmo sem precisar exatamente como identificar os corruptos. O olindense José*, de 18 anos, que está apreendido há 2 anos, disse que vai votar em branco. Diz que quer evitar reeleger quem se aproveitou do dinheiro público. “O Brasil está f...”, se queixa.
Aos 20 anos, Pedro*, que vivia em Itamaracá, pareceu mais empolgado ao dizer que tirou o título para escolher um representante que seja capaz de ajudar o Brasil. Ele, no Case do Cabo há 2 anos e quatro meses, tem expectativa para saber como é votar pela primeira vez. “Têm uns políticos que gostam de estar roubando. Ou que prometem fazer algo e, no fim, não fazem. Quero um que ajude a população”, diz. Prestes a deixar a Funase em janeiro, ele procura um candidato que saiba como gerar empregos. “Quero trabalhar para mudar de vida”, planeja.
Segundo o cientista político Maurício Santoro, esses jovens normalmente vêm de situações sociais vulneráveis, possivelmente com famílias pouco estruturadas. “É interessante saber o que eles pensam da política. A discussão de uma eleição passa por valores como o que eles querem ver nos seus bairros e o que pode impedir outros jovens de cair numa situação parecida com a deles”, estimula.