Persona

Lucas dos Prazeres é devoto do morro da Conceição

Criado aos pés da santa, o músico já rodou meio mundo, mas não deixa de subir o morro de vez em quando para recaregar as bateriass

Bruna Cabral
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Bruna Cabral
Publicado em 29/07/2013 às 11:51
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Criado aos pés da santa, o músico já rodou meio mundo, mas não deixa de subir o morro de vez em quando para recaregar as bateriass - FOTO: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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Lucas dos Prazeres é todo um exagero. Gestos largos, cabelo para todo lado e risada contagiante, o menino nascido e criado no Morro da Conceição, em Casa Amarela, já é um aclamado percussionista aos 29 anos. Nessa entrevista, ele fala sobre música, feijão e futebol, aos pés da santa que o viu crescer.

JC – Como esbarrou nas congas?
LUCAS DOS PRAZERES – É uma longa história. Minha mãe é artista. Dançou no Balé Popular do Recife até os sete meses de gestação. Na barriga, eu já estava em cima do palco. Mais tarde, ela fundou uma ONG que ensinava arte a crianças. Lá, aprendi um pouquinho de cada coisa: música, dança, percussão. Acho que, no final das contas, tudo passa pelo ritmo. Começa e termina nele. O engraçado é que fui primeiro bailarino para depois virar músico. E até hoje, toco dançando.

JC – Você cresceu no Morro da Conceição. Trelou muito aos pés da santa?
LUCAS – Bastante. Corri, soltei muito papagaio e fiz muita música. Só não joguei bola, porque não tenho talento nenhum para futebol. Saí do morro há um ano, mas ainda não me acostumei com a ideia de colocar uma camisa para ir na padaria, de não cumprimentar meus vizinhos. Quando eu morava no morro, minha vizinha dava o meu número de telefone como se fosse o dela. Minha família era do tamanho do morro. Aliás, ainda é. De vez em quando preciso voltar aqui para recarregar as baterias.

JC – Quedou-se devoto da santa que vinha a ser sua vizinha?
LUCAS – Acredito que não nasci aos pés dela por acaso. Sinto uma proteção, uma força. Tenho muito respeito por ela. Não sou católico, mas sou devoto de Conceição e de seu morro.

JC – Acostumou-se a contemplar o Recife de cima. É o melhor ângulo da cidade?
LUCAS – É sim. E já foi muito mais, antes de todos esses prédios. Lembro que víamos o Cais de Santa Rita da janela de casa, o Farol de Olinda. Sinto saudade daquele Recife. E também daquele morro de antigamente.

JC – Quais foram os destinos mais fantásticos que a música ajudou você a conhecer?
LUCAS – Engraçado que você fala em música e eu só penso no pandeiro que tenho há 12 anos e que respeito como se fosse uma pessoa, um mestre, um amigo querido. Chego a conversar com ele antes de subir no palco. Para mim, ele vai vir gente na próxima encarnação. Já fomos muito longe juntos: França, Alemanha, Suíça, Espanha, Portugal, Holanda, Noruega, Irlanda do Norte e por aí vai.

JC – O que come até ficar mole?
LUCAS – Feijão. Preto, verde, mulatinho, branco, do jeito que for, ele é sempre sublime. Ainda mais se for o da minha mãe. Como no café da manhã, no almoço, no jantar, de madrugada, o dia todo.

JC – Sua mãe está sempre ao seu lado. É cuidado ou corujice?
LUCAS – Ela é minha produtora, minha sócia, minha amiga, minha conselheira, de tudo um pouco. Aliás, um muito.

JC – Se você tivesse que escolher uma música só, entre todas do mundo, qual seria?
LUCAS – A música mais linda do mundo chama Valsa para Clara Lua e foi feita por Yuri Queiroga, um amigo-irmão que eu amo muito, antes de minha filha nascer.

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