Ele está na telona de duas das últimas grandes produções cinematográficas pernambucanas: Tatuagem, de Hilton Lacerda, e Amor, plástico e barulho, de Renata Pinheiro. Aos 30 anos, o ator pernambucano Rodrigo Garcia contou a Carol Botelho que também está cheio de certezas: quer atuar, seja lá onde for, contanto que não fique tanto tempo longe do mar.
JC – Qual a sua relação com o mar?
RODRIGO GARCIA – Sempre morei na beira-mar, desde que nasci. Meu pai é engenheiro de pesca e minha mãe é do signo de peixes. Não sou de pescar mas quando não estou perto do mar, fico sem horizonte.
JC – Então morar em São Paulo, por exemplo, nem pensar?
RODRIGO – Antes de completar 30 anos, pensava que não fazia sentido estar numa cidade cheia de prédios como São Paulo, a não ser pelo trabalho. Agora preciso ter minha casa, meu carro e conseguir bons trabalhos como ator, não importa onde. Infelizmente, no Recife, a lei de incentivo só funciona do mês de agosto até o Carnaval. No meio tempo, não tem trabalho.
JC – Como vê o mercado de ator no Recife?
RODRIGO – Comecei a estudar aos 20 anos, em Liverpool, na Inglaterra, onde fiz bacharelado em artes cênicas. Aqui só existe licenciatura. Não sei se é porque não existe demanda por um bacharelado, ou se a demanda não existe por falta de curso. Atualmente, com o mercado crescendo, pode ser que venha o curso.
JC – Quando a capital pernambucana é generosa e quando assume ares de megera?
RODRIGO – No verão a cidade é maravilhosa, todo mundo que mora fora vem pra cá. Acontecem muitas festas, o Carnaval... Chega o inverno e as chuvas fazem do trânsito um caos, tudo fica desinteressante e ainda coincide com a época de trabalho mais escasso.
JC – Dia ou noite?
RODRIGO – Gosto da noite, mas odeio boate. Detesto música eletrônica. Prefiro samba e as demais músicas brasileiras dançantes. E sou louco por Carnaval. Tenho roteiro certo para os quatro dias. Faço um retiro carnavalesco com meus amigos em um apartamento em Boa Viagem, e todos os dias vamos para Olinda.
JC – E o brega tem espaço no seu mp3?
RODRIGO – Em casa, quando estou me preparando para ir a uma festa que só toca brega. Para mim o ritmo é uma diversão incrível. Tem gente que tem pudor, mas é um mercado incontestável da nossa região. Uma expressão popular urbana. Como as letras contêm muito sexo, acho que geram medo e pudor na classe média. A aversão ao ritmo é um jeito de manter a periferia afastada.
JC – Há momentos na vida em que é preciso atuar?
RODRIGO – Claro. Para mim é natural. Aprendi no colégio a ser diferente do que eu era em casa. Sou diferente em cada meio em que circulo. Mas em todos sou conhecido por ser bem-humorado. Gosto de fazer as pessoas sorrirem. Invento e digo muita coisa. Às vezes sai filosófico, às vezes, engraçado.
JC – Já começou a perceber a notoriedade?
RODRIGO – No lançamento do filme Tatuagem, muita gente veio falar comigo para me elogiar. E acho que isso é por causa do personagem, que tem um carisma muito grande. Essa característica abriu portas para o carisma dos outros por mim.
JC – Tem alguma mania?
RODRIGO – Sou muito organizado e limpo. Gosto de conforto, apesar da minha profissão (risos). E tenho mania de teorizar tudo. Pode ser angustiante em alguns casos, mas é legal para a construção do personagem.