A imensa mão das trevas. Por Roberto Numeriano

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jamildo

Publicado em 16/05/2021 às 11:49
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Por Roberto Numeriano, em artigo enviado ao blog

O ódio e o preconceito ancestrais da Casa Grande contra a vasta massa de assenzalados do país sempre existiram. Ambos viviam pelos cantos, envergonhados, no armário. Somente em voz baixa, acovardados, esses dois vocalizavam suas piadas grosseiras racistas e misóginas, homofóbicas e classistas.

As redes sociais e o surgimento de uma condição político-ideológica perfeita num país sob clivagem social e econômica propiciaram que esses toscos, perversos e ressentidos saíssem dos seus esgotos, alcançando protagonismo e liderança nas casas legislativas, sistema de Justiça e imprensa.

E então mergulhamos de cabeça nesse horror diário, afundando na miséria dessa política de tipos odiosos e fúteis, corruptos e falsos moralistas.

Juristas fascistas, militares das Forças Armadas golpeando a democracia enquanto se refestelam nos polpudos cargos comissionados, bancadas parlamentares de corruptos e corruptores da boa política, pastores charlatães que enganam a boa fé de massas de desesperados, padres de direita que renegam a grande doutrina social católica, jornalistas aéticos e à soldo de interesses escusos, topando tudo por dinheiro e fama nas mídias, todo esse universo trevoso é o retrato essencial do Brasil.

Sempre fomos um país cindido pela violência social, pela concentração infame de riqueza em face da miséria e fome de dezenas de milhões, pela exclusão de pardos, pretos e pobres, vistos como inferiores e incapazes.

O golpe de Estado de 2016 (assim como o de 1964) foi pra manter essa "ordem e progresso" das trevas da elite do atraso, a pretexto falacioso de "combate ao comunismo".

O Brasil, a cada tentativa de avanço das forças progressistas, vê sempre um golpe e um retrocesso ainda maior. O lema do golpe dessa elite corrupta (que está ainda mais rica sob a pandemia) é um só: Se as forças do progresso dão dois passos à frente, eles golpeiam-nas e dão três passos atrás.

O bolsonarismo é herdeiro do golpe dos malditos na presidência. É uma excrescência política não calculada, mas dele se alimenta porque, como fenômeno político, representa as forças regressivas, corruptas e autoritárias da velha Casa Grande.

Esse caldo nos dá nojo e náusea.

Roberto Numeriano é jornalista e cientista político. Já foi candidato a cargos eletivos em partidos como PSOL, mas não se elegeu

 

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