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Protestos em Cuba: narrativas e verdades

Especialistas do Mackenzie comentam sobre os motivos para insatisfação política, econômica e social na ilha caribenha

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jamildo

Publicado em 14/07/2021 às 15:17 | Atualizado em 14/07/2021 às 15:18
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Nos últimos dias, a população de Cuba foi às ruas para protestar contra a forma com que a economia e a pandemia estão sendo gerenciadas na ilha.

O que todo mundo já sabe é que parte das dificuldades são causadas por conta dos embargos econômicos perpetrados pelos Estados Unidos sobre à ilha, porém com a pandemia de coronavírus a situação econômica e social ficou ainda pior.

Para Clayton Vinícius Pegoraro, professor de Direito Internacional da Universidade Presbiteriana Mackenzie, são dois pontos principais de insatisfação e um que surgiu por conta da atuação do governo em decorrência dos protestos.

O primeiro e mais pontual problema é a crise sanitária causada pela pandemia de coronavírus. Em um país que já passa por dificuldades, ser atingido por uma situação de emergência se torna muito preocupante.

Contudo, o professor Pegoraro ressalta que "os números da pandemia em Cuba não são preocupantes, visto que há pouco mais de 250 mil casos com 1608 mortos em 11.3 milhões de habitantes, isso claro se os dados forem verídicos".

E o que chama atenção é que a vacinação na ilha está relativamente avançada, com 7,28 milhões de doses já aplicadas, mas apenas 15,5% da população totalmente vacinada.

Somado a isso está uma demonstração de força do ponto de vista médico e técnico da ilha - um tópico que se tornou muito polêmico nas discussões políticas brasileiras -, com o país tendo desenvolvido seu próprio imunizante, chamado Abdala, com efetividade superior a 92% com a aplicação de três doses na última fase de testes clínicos. Apesar disso, o imunizante foi aprovado há apenas poucos dias.

Como segundo ponto de insatisfação, o professor Pegoraro comenta sobre as reformas econômicas que estão em curso no país - e outras que estão para serem feitas.

"A população cubana teme pelo aumento da inflação, que vai atingir a moeda local, o CUC, que desvalorizará ainda mais. Como na ilha há a circulação de duas moedas, uma para os habitantes e outra para turistas, há risco de os cubanos terem seus custos de produtos básicos, como higiene pessoal e alimentação, elevados em níveis consideráveis".

Por fim, o acesso a informação é o terceiro ponto de insatisfação, mas que só surgiu exatamente por conta dos protestos, já que o governo do país tem agido para restringir o acesso à internet em geral e às mídias sociais e plataformas de mensagens em especial.

De acordo com o NetBlocks, uma organização que monitora o acesso à internet, Facebook, Instagram, WhatsApp e Telegram foram bloqueados no país, pelo menos parcialmente.

Segundo professor de Inteligência Artificial da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vivaldo José Breternitz, "o acesso móvel à Internet é relativamente novo em Cuba; foi apenas no final de 2018 que o governo socialista do país começou a implantar esses serviços em toda a ilha. Na época, o presidente Miguel Diaz-Canel, cuja renúncia vem sendo pedida pelos manifestantes, disse que um maior acesso à internet ajudaria os cubanos a ‘defender sua revolução".

Contudo, para o professor Clayton Pegoraro, apesar dessa exibição de força do governo mostrar que o controle da informação facilita o controle do poder, ele tem opinião contrária sobre as consequências dos protestos.

"Eu não acredito que o atual governo estará em xeque, ou que haja tanta insatisfação relacionada à ditadura comunista-socialista ou o desejo de implantar uma democracia. Parece mais ser um movimento da população em criar coragem para querer e pedir mais do Estado, eles querem mais do que o básico, querem avançar um degrau e ter mais algumas liberdades e, principalmente, mais acesso, tanto à informação, quanto financeiro", diz.

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