
Ingrid Zanella, 38 anos, especialista em direito aduaneiro e marítimo, candidata a co-presidente na chapa de situação nas eleições da OAB, é uma figura tão expressiva no movimento classista dos advogados que até os adversários a apontam como a adversária mais forte, caso fosse a cabeça de chapa, no lugar de Fernando Ribeiro Lins. A comparação obviamente visa desgastar o nome principal da chapa de situação, mas embute ainda um dado da realidade. Além da juventude, que evoca renovação, a jovem advogada defende pautas inclusivas e questões de gênero, como a paridade entre homens e mulheres em um universo historicamente masculino." Sou apaixonada pela OAB", diz.
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O caso de amor começou ainda em 2014, quando ela, sem conhecer ninguém no alto comando da OAB, bateu na porta do então presidente Henrique Mariano sugerindo a criação de uma comissão inédita para discutir direito aduaneiro entre os pares. Acabou nomeada presidente da comissão e nunca mais parou.
"Sem soberba, me orgulho da minha trajetória. Comecei meu escritório quatro meses depois de formada, de forma pioneira", conta a advogada, que chegou a trabalhar dois meses embarcada em navio de cruzeiro, como tripulante da marinha mercante, enquanto fazia graduação.
Na atualidade, ela é sócia de uma grande banca, Queiroz Cavalcanti Associados, em uma estratégia para ampliar a clientela no âmbito marítimo. Com reconhecimento internacional no setor, a jovem advogada ostenta uma medalha de oficial do mérito naval, concedida pela Marinha do Brasil. Não é pouca coisa, não tendo vindo de uma família de advogados tradicionais do Estado.
"Não foi uma escolha aleatória. O escritório tem preceitos e valores democráticos, faz eventos de inclusão, de representatividade, e a maioria são mulheres, ações que visam realmente fomentar uma cidadania plena", compara. Ela também é professora universitária da UFPE há oito anos, com mestrado e doutorado e livros publicados.
Na política sindical, a professora de direito civil e direito marítimo engajou-se para reduzir a anuidade do jovem advogado e trabalhou pela criação de escritórios virtuais para os iniciantes dentro da OAB. "Hoje, eles tem uma ajuda que eu não tive no início da minha jornada. Nós aproximamos os estudantes da OAB, eles podem estudar e aprender ao participar das comissões".
Também ajudou a aprovar pautas como paridade de gênero e cotas raciais. "Nós abrimos as portas da OAB a novos seguimentos. Não havia como eu estar fora deste grupo, com todos os avanços que conseguimos", diz, em referência ao grupo que controla a entidade há 15 anos, desde a histórica vitória de Jayme Asfora, o primeiro candidato de oposição a vencer um pleito na entidade, em 2006.
Relação com Jayme Asfora
Diplomática, a advogada faz gestos em direção ao ex-presidente, que defendeu seu nome para presidência. "Jayme é um amigo querido e será sempre respeitado pela casa", disse. "Fiquei honrada por ele acreditar que eu era a melhor opção. Eu não sai da disputa, estou lá e sou co-presidente. Espero que ele volte (à OAB) e vote em mim. Eu quero muito que a classe caminhe junta".
Seja por humildade, seja por estratégia, a advogada que chegou a ser lançada como a possível primeira mulher a dirigir a ordem local em 90 anos demonstra ter paciência, a espera de bons ventos em mar revolto.
"Não tenho planejamento para isto (ser finalmente presidente depois de três anos). Fernando Ribeiro é o nosso candidato a presidente. Ele provou que tem todos os atributos para comandar a ordem. É o candidato preferido da vez. Me nomeou não apenas vice-presidente, mas co-presidente e me sinto valorizada com esta distinção. Nunca uma mulher foi considerada como tal. Há um compromisso de fazer uma gestão compartilhada e teremos muitos mais avanços por vir".
Nas lutas em que destaca como vitórias relevantes recentemente, Ingrid Zanella cita a campanha para evitar o fechamento de comarcas e a batalha pela manutenção das custas.
"A OAB é um escudo da democracia", cita.
No meio da pandemia, o exame da ordem chegou a ser suspenso por conta das regras de convivência social dentro do novo normal, mas a direção da OAB conseguiu mudanças no decreto e a prova da OAB foi realizada no Estado, de modo que vários novos advogados recém formados puderam começar a trabalhar.
"Atuamos lado a lado na sua Primeira Câmara, onde se decide sobre uma imensidão de temas que afeta diretamente o exercício advocatício, desde a inscrição. Ingrid é uma progressista e uma inclusivista, uma mulher de coragem, de altivez e do diálogo. Uma pessoa da convergência, com espírito de grupo e a consciência de que a OAB é essencialmente uma construção coletiva e assim deve continuar sendo. A sua continuidade na co-Presidência da Seccional é um atestado dos seus muitos méritos individuais e da imensidão do seu contributo ao Sistema. A OAB é com Ingrid e com tantas outras colaboradoras em diversos espaços de voz a Ordem da Advocacia do Brasil, assim mesmo, abarcando todos os gêneros, sem o que jamais será a Casa da Cidadania", atesta o advogado Gustavo Henrique Freire.
Mundo masculino
A lista dos presidentes da OAB demonstra que a instituição tradicionalmente tem sido representada por homens. Confira os nomes:
Joaquim Ignácio de Almeida Amazonas
1932-1949
1951-1951
Pedro de Melo Cahu
1949 -1951
Thomaz de Oliveira Lobo
1951 - 1952
Nilo Augusto Dornelas Câmara
1952 -1953
José Cavalcanti Neves
1953 - 1971
Carlos Martins Moreira
(Vice-presidente no exercício da Presidência)
1963-1965
Joaquim Correia de Carvalho Junior
1971 - 1975
Moacir Cesar Baracho
1975 - 1977
Octávio de Oliveira Lôbo
1977 - 1979
Dorany de Sá Barreto Sampaio
1979 - 1983
Hélio Mariano da Silva
1983 - 1985
Fernando de Vasconcellos Coelho
1985 - 1987
Paulo Marcelo Wanderley Raposo
1986 - 1989
Jorge da Costa Pinto Neves
1989 - 1995
Aluísio José de Vasconcelos Xavier
1995 - 2000
Ademar Rigueira Neto
2001 - 2003
Júlio Alcino de Oliveira Neto
2004 - 2006
Jayme Jemil Asfora Filho
2007 - 2009
Henrique Neves Mariano
2010 - 2012
Pedro Henrique Reynaldo Alves
2013 -2015
Ronnie Preus Duarte
2016 - 2018
Bruno de Albuquerque Baptista
2019-2021
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