Sem dúvida, a punição para quem mata no trânsito depende da classe social dos envolvidos. Se for rico, escapa. Não sendo, talvez seja punido. O caso do meu pai é um exemplo. Embora sejamos de classe média, o assassino, Felipe Rabello Emery, em 2007 um jovem de 19 anos, era e continua sendo rico. De tão bêbado que estava ao volante, dormiu ao lado do corpo do meu pai, depois de atropelá-lo sobre a calçada, em Casa Forte (Zona Norte do Recife). Na época, ainda não existia a Lei Seca e, apesar de os policiais o encontrarem totalmente alcoolizado dormindo no veículo, pagou uma fiança de R$ 900 e foi liberado. Terminou indiciado por homicídio culposo (sem intenção) e, mesmo assim, nem cumpriu uma pena alternativa. A defesa alegou que o crime prescreveu. Enquanto isso, nossa família ficou destruída e até hoje não se recuperou de tanta dor. Por tudo isso, defendo que matar no trânsito alcoolizado deveria ser um crime inafiançável”, lamenta Rosemary Costa de Sá, filha do aposentado

Além de esmagar sobre a calçada minha companheira, Isabela Cristina, e nosso amigo, Adriano Francisco, o motorista Pedro Henrique Villacorta e os amigos dele ainda zombaram de nós. Fizeram pouco caso de tudo de tão embriagados que estavam. Chegaram a dizer que Isabela e Adriano tiveram sorte porque a morte veio buscá-los em casa e de carro... Você acredita? Isso dói muito, muito. E faz a gente ter a certeza de que matar no trânsito é algo que só choca quando as vítimas são ricas. Pessoas pobres como nós não têm vez. Basta lembrar que o motorista se negou a fazer o teste do bafômetro e foi liberado pela PM apesar de tudo. Isso é revoltante. Principalmente quando comparamos o tratamento dado ao nosso caso e a essa tragédia ocorrida na Tamarineira”, critica Alda Valéria de Souza, ao lado da mãe de Adriano Francisco, Maria das Neves

No próximo dia 13 são nove anos de impunidade, vendo o assassino da minha mulher livre por aí. Enquanto nós tentamos vencer nossa dor, nossos medos, sem sucesso. Minha filha fez 15 anos e a mãe não estava ao lado. Cresceu sem ela. Eu choro a todo instante, numa mistura de dor e revolta por saber que passamos por tudo isso e Alisson Jerrar segue sem atropelos na vida. Está em liberdade desde o dia em que matou minha mulher, embriagado e após avançar o sinal. Foram seis anos para ir a julgamento e, mesmo sendo por homicídio doloso (com intenção), terminou condenado a oito anos de prisão no regime semiaberto. Para completar, a defesa entrou com recurso e continua em liberdade. Só quem perdeu fomos nós. Eu e minha filha”, lamenta Wellington Lopes dos Santos, viúvo de Aurinete Gomes de Lima, 33