Atrasado, caro e subutilizado. Este é o TI CDU, que integra o Corredor Leste-Oeste

Publicado em 31/10/2018 às 8:00 | Atualizado em 25/05/2020 às 14:14
TI CDU demorou tempo demais para ser construído e entrou em operação com poucas opções de linhas: Fotos: Sérgio Bernardo/JC Imagem
FOTO: TI CDU demorou tempo demais para ser construído e entrou em operação com poucas opções de linhas: Fotos: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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TI da IV Perimetral, agora batizado de TI CDU, começou a ser construído em 2011 e custou R$ 11 milhões aos cofres públicos. Foto: Guga Matos/JC Imagem

 

Foram sete anos e meio de construção, quatro anos e meio de atraso nas obras, R$ 11 milhões de investimento (R$ 4,5 milhões somente de remanescente) e, mesmo assim, o Terminal da IV Perimetral (BR-101), agora chamado de TI CDU, na Várzea, Zona Oeste do Recife, entrou em operação subutilizado. Há um mês opera com menos da metade da programação planejada, que já foi pensada pequena desde o começo. É difícil chegar e sair dele, reclamam os passageiros. Mesmo assim, o TI é uma construção gigante. E cara. É uma estrutura que ocupa um terreno de 15 mil metros quadrados, sendo mais de quatro mil metros quadrados de área construída, e que já custa R$ 232 mil de manutenção mensal aos cofres públicos – quase R$ 3 milhões por ano. A promessa, inclusive, é de que a operação irá crescer, embora não tenha sido dado um prazo certo para isso acontecer. A expectativa é de que mais quatro linhas alimentadoras entrem em operação no próximo mês. São elas: Barbalho (Detran), CDU Várzea, UR-7 e Engenho do Meio. E a partir de 2019, outras linhas de peso do sistema de transporte passariam a integrar no terminal, como a CDU/Boa Viagem/Caxangá (040) e CDU/Caxangá/Boa Viagem (440). Também a partir de janeiro de 2019 deverá entrar na operação do TI as linhas Rio Doce/CDU, Casa Amarela/CDU e Curado II. Assim, todo o atendimento (ou boa parte dele) à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) passará a ser realizado por linhas alimentadoras que sairão do terminal.

 

 

Terminal deveria transportar 50 mil passageiros/dia, mas começou com menos de 4 mil/dia. Fotos: Sérgio Bernardo/JC Imagem Só assim o TI CDU poderá chegar perto da demanda de passageiros anunciada para justificar o investimento de recursos públicos na unidade de embarque e desembarque da Zona Oeste, que era de 50 mil passageiros/dia, mas já foi reduzida para 40 mil/dia. Atualmente, com a operação colocada em prática, o terminal transporta apenas 3,5 mil passageiros/dia. Apenas duas das oito alimentadoras entraram em operação, juntamente com as duas linhas do BRT, que levam para a região central do Recife. E mesmo assim – no caso das alimentadoras –, são linhas operadas por microônibus, com intervalos longos e desestimulantes: de 20 a 25 minutos (2431–Cidade Universitária) e 15 minutos (2433-Brasilit). Estavam previstas dez linhas no total. Além das oito alimentadoras (que levam os passageiros dos bairros para o terminal), duas troncais (que levam para o Centro). Enquanto o crescimento não chega, a população sofre e reclama da dificuldade de chegar e sair da unidade. Também teme a perspectiva de que a UFPE seja alimentada por linhas a partir do TI CDU. “A estrutura é muito boa, sem dúvida, mas são poucos ônibus. Por isso não compensa. Estamos perdendo muito tempo. Eles vão ter que aumentar muito a frota para fazer essa alimentação porque, hoje em dia, esperamos muito tempo. E quando há congestionamento no trecho, o que é comum conforme o horário, a situação fica ainda pior”, critica e alerta Fabiana Rodrigues, promotora de merchandising e passageira diária do TI.

 

   

 

O TI CDU começou a ser construído em 2011 e deveria ter sido concluído em 2014, para a Copa do Mundo no Brasil. Integra o Corredor Leste-Oeste, que liga Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, ao Centro da capital. Foram quatro anos e meio de atraso e um custo total de R$ 11 milhões (R$ 7.886.960,34 de valor inicial e R$ 4,5 milhões de custo remanescente). Teve as obras paralisadas por quase dois anos, após o envolvimento da Construtora Mendes Júnior na Operação Lava Jato. A construção foi retomada em 2017. O futuro do TI CDU também foi prejudicado pelo arquivamento do projeto do corredor de BRT pensado para a BR-101, ligando os Corredores Leste-Oeste e Norte-Sul a partir do TI Abreu e Lima, em Abreu e Lima, chegando ao TI Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes, ambos no Grande Recife.

VANTAGENS

Apesar da subutilização, o novo TI CDU proporciona inúmeras vantagens ao passageiros. Infraestrutura com banheiros novos e ainda bem cuidados, bancos e carregamento do VEM são algumas delas. Com o tempo, haverá ao menos uma lanchonete para atendimento aos usuários, que por enquanto permanece fechada. Também é possível, a partir do terminal, a integração do Corredor de BRT Leste-Oeste com o BRT Norte-Sul, realizada com a linha 2443 – TI CDU/Joana Bezerra.

 

   

 

O governo do Estado conversou com o JC por email. Confira abaixo as respostas enviadas pelo Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT) aos questionamentos da reportagem:

JC - Por que o TI da IV Perimetral (TI CDU) entrou em operação com menos da metade da programação planejada (quatro das nove linhas)?

GRCT - Na verdade, o TI CDU foi licitado para operar com dez linhas, sendo oito alimentadoras e duas de BRT. Dessas, quatro já estão em operação – duas alimentadoras e as duas de BRT. Isso foi necessário para que os usuários e moradores do entorno se habituassem a utilizar o novo terminal e entendessem que a integração passa a ocorrer dentro do novo TI e não mais do lado de fora (integração temporal) como era antes.

 

JC - O Estado não avalia como um equívoco, um desrespeito à população, colocar o TI para operar parcialmente considerando que é uma obra inaugurada com quatro anos e meio de atraso. Não houve tempo suficiente para que o planejamento fosse realizado?

GRCT - Não porque o transporte público é dinâmico. Do planejamento do novo terminal até a sua entrega à população, a cidade e a forma como as pessoas transitam nela mudaram e o transporte público tem que obedecer estas novas configurações. Além disso, o Grande Recife tem como perfil dialogar com as comunidades sempre que uma nova mudança de itinerário, por exemplo, for proposta. Ou seja, tem se conversado com os moradores o melhor roteiro para atendê-los de modo que o ônibus possa cumprir o seu itinerário de forma rápida e segura do bairro ao terminal e do terminal de volta ao bairro.

 

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  JC - Qual a necessidade de um terminal tão amplo em área de construção para uma operação tão pequena? Vocês avaliam que a operação está subdimensionada? GRCT - A necessidade é, como dissemos acima, de termos um equipamento que possa receber as dez linhas que foram licitadas. Quatro já estão em operação e as demais deverão integrar o novo TI nos próximos meses. Por isso, não avaliamos a operação como subdimensionada porque, em breve, o terminal estará com sua operação completa.

JC - O Estado avalia que o TI CDU está subutilizado? Principalmente sabendo que o custo de manutenção dele é superior a R$ 200 mil mensais?

GRCT  - Não porque faz apenas um mês que o TI entrou em operação e, já neste mês de novembro, mais algumas linhas passarão a integrar no terminal.

 

JC -  O Estado avalia que o modelo de terminais integrados, principalmente no formato que predomina no SEI, com grandes áreas de estocagem de ônibus e pouca fiscalização para controlar a operação, está ultrapassado?

GRCT - O Sistema Estrutural Integrado (SEI) é uma boa opção para o usuário porque apresenta conforto, segurança e comunidade, além de ganho no tempo de viagem. Isso acontece porque, neste sistema, o usuário não precisa passar o cartão VEM no validador e girar a catraca mais uma vez, como acontece na integração temporal, por exemplo. Dessa forma, a operação ocorre de forma mais rápida.

JC - Quais os planos de ampliação da operação do TI CDU? Quando ele terá pelo menos o planejamento previsto funcionando?

GRCT - Como já dissemos, ainda neste mês de novembro, outras linhas passarão a integrar no terminal e, até o início de 2019, o TI estará com a sua operação completa.

JC - Os planos são criar mais linhas para ele além das nove planejadas?

GRCT - Sim porque o transporte público é dinâmico. Então, já observamos a necessidade dos usuários de que outras linhas integrem com o TI CDU.

JC - Sabemos que a grande dificuldade existente hoje para o transporte público é a falta de prioridade viária e, pelo que apuramos, quando a operação do TI CDU for ampliada o atendimento a UFPE será por alimentadoras. Vcs não temem que as viagens fiquem ainda mais demoradas?

GRCT - Não porque o tempo de viagem se mantém o mesmo ou diminui. Isso ocorre porque, mesmo utilizando uma linha alimentadora e outra troncal, o passageiro ganha em tempo de viagem; uma vez que, para se deslocar do TI ao Centro do Recife ou o contrário, ele utiliza o BRT e o Sistema Via Livre que tem 80% de faixa exclusiva no Corredor Leste/Oeste.

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