Fotos: Divulgação WRI Brasil
Humanizar as cidades é algo necessário para todos. Fazer com que as ruas deixem de ser ambientes dominados pelos veículos motorizados para se transformarem em locais onde as pessoas sejam protagonistas. Uma mini praça, um parklet, um prolongamento de calçada pintado no chão, jarros com plantas, pequenas cadeiras e mesas, uma horta, uma área de convivência para sentar junto e conversar. Tudo ocupando o espaço público para que ele seja reocupado pelas pessoas. Essas são algumas das ferramentas do chamado urbanismo tático, que, para quem ainda não conhece, vem do inglês tactical urbanism, conceito que promove a reapropriação do espaço urbano pela população.
LEIA TAMBÉM
É preciso colocar os pés na rua e ser pedestre
Confira o especial multimídia O Exemplo de Fortaleza
E o que é melhor: a baixo custo. São intervenções baratas porque envolvem, além da vontade política de devolver o espaço urbano às pessoas, basicamente pintura e alguns equipamentos urbanos – nada caro ou difícil. Além disso, o urbanismo tático faz com que as pessoas, de volta às ruas, vivenciando suas cidades, pensem em mudar hábitos, principalmente aqueles relacionados à mobilidade urbana. “O urbanismo tático é uma solução que pode ser usada em várias situações. E, o que é mais interessante: possibilita a integração do poder público e da sociedade na identificação e desenvolvimento de criação desses espaços afetivos entre as pessoas. Juntos, população e gestores públicos identificam as dificuldades e buscam soluções de segurança viária e valorização da presença das pessoas nas ruas”, destaca Luisa Peixoto, analista de desenvolvimento urbano do WRI Brasil, instituto que desenvolve pesquisas nacionais sobre cidades sustentáveis e, o que é mais importante, atua junto a gestores públicos, lideranças empresariais e da sociedade civil para alcançar as mudanças pensadas.
O custo de uma um projeto de urbanismo tático, segundo o WRI Brasil, pode variar bastante de acordo com as características da proposta, tempo de duração da intervenção, disponibilidade de materiais e parcerias, além de outros aspectos. É possível comprar materiais para a implementação de um projeto tático investindo apenas R$ 10 mil em uma área de 19 mil metros quadrados, por exemplo. O WRI Brasil destaca, entretanto, que o custo com a equipe e uso de equipamentos não são computados pelos gestores públicos porque, quase sempre, estão no custeio municipal ou governamental.
IDEIAS QUE ANTECEDEM PROJETOS
Luisa Peixoto, do WRI, lembra que o urbanismo tático não pode ser visto como o fim. Ao contrário. É o meio. “A implementação de um projeto de urbanismo tático não substitui o modelo permanente. A fase tática deve ser aplicada como uma etapa de avaliação e qualificação da proposta final. Para que a mudança seja implementada depois”, pontua. Pela experiência do WRI, como o planejamento das cidades ainda é muito fechado à sociedade – até hoje, apesar dos avanços vistos em algumas cidades –, o urbanismo tático surge como uma possibilidade de experimentar para ver se dar certo. E sem altos custos que possam comprometer as gestões no caso de ter que ser desfeito.O que é melhor.
EXEMPLOS DO URBANISMO TÁTICO
Ainda é modesta, mas a presença do urbanismo tático no Brasil tem aumentado desde 2017, quando o conceito começou a ganhar força em algumas capitais. Fortaleza e São Paulo se destacam. São duas cidades que já conhecem e valorizam os benefícios de intervenções do tipo. Em 2017, os bairros Cidade 2000, na capital cearense, e Santana, na Zona Norte da capital paulista, receberam mudanças para requalificar o espaço das vias e oferecer mais segurança às pessoas. No ano passado, Fortaleza mais uma vez apostou no urbanismo tático, adotando a mesma solução para a área central e turística do entorno do Dragão do Mar. Com cores, vasos de plantas e alguns bancos, a segurança viária foi garantida para as pessoas que caminham na região. Em São Paulo, a iniciativa A Batata Precisa de Você promoveu a ocupação do Largo da Batata de forma ativa e saudável e permanece até hoje. O movimento é organizado por moradores e frequentadores do largo.
Houve, ainda, outros exemplos, como o Centro Aberto, que deu novo uso a estruturas já existentes; a Rua Galvão Bueno, na Liberdade, que teve um trecho transformado em calçadão, ampliando as calçadas e os espaços de convivência; e a Rua Joel Carlos Borges, no Brooklin, que priorizou a segurança viária de pedestres basicamente com o uso de tintas. No mundo, mais exemplos: Os Estados Unidos têm várias ações de urbanismo tático, assim como a Inglaterra. No Chile existe a organização “Ciudades Emergentes” e, no México, há o programa “Passos Seguros”.
O Recife tem três exemplos que se assemelham ao conceito do urbanismo tático, embora não envolvam transformações para garantir a segurança viária das ruas. São ideias de recuperação e reocupação dos espaços públicos. É o caso do Jardim do Baobá, nas Graças, a Horta Comunitária de Casa Amarela, e o Jardim Secreto do Poço, todos localizados na Zona Norte da cidade. Ainda não existem exemplos de intervenção em vias com tráfego motorizado. Os projetos estão em áreas antes abandonadas ou usadas como lixões. Mas já é um começo.
O antes e o depois no entorno do Dragão do Mar, em Fortaleza