Transporte público sob demanda, pelo app. É o Uber dos ônibus

Publicado em 18/03/2019 às 7:54 | Atualizado em 06/01/2021 às 15:50
Vale destacar que o conforto da refrigeração dos ônibus será bancado pelo passageiro e deverá pesar entre três e cinco centavos a mais no valor da tarifa, além do aumento provocado por outros insumos. Foto: JC Imagem
FOTO: Vale destacar que o conforto da refrigeração dos ônibus será bancado pelo passageiro e deverá pesar entre três e cinco centavos a mais no valor da tarifa, além do aumento provocado por outros insumos. Foto: JC Imagem
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Já pensou em poder chamar o ônibus pelo aplicativo, escolher a rota e embarcar nele num ponto virtual próximo de você? E mais: ir num miniônibus com ar-condicionado, wi-fi e TV? O transporte público coletivo sob demanda, uma espécie de Uber dos ônibus, já é realidade no Brasil, sendo testado nas cidades de Goiânia (Goiás) e de São Bernardo dos Campos (São Paulo). Ele é mais caro, é fato, é restrito a áreas pré-delimitadas pelos operadores e gestores do sistema de transporte público, e é recomendado para viagens curtas, de aproximadamente cinco quilômetros, por exemplo. Mas, apesar das restrições, é uma reação do setor à histórica e cada vez maior perda de passageiros, que em 2017 chegou a 9,5%, a terceira maior desde que o levantamento começou a ser feito pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), vinte anos atrás. E, de fato, o setor precisava esboçar alguma reação. E logo. Afinal, pesquisa realizada em novembro de 2017, ouvindo três mil pessoas em diversas regiões do País, mostrou que 49% dos usuários dos aplicativos de transporte privado de passageiros, como Uber e 99, migraram do transporte público.

 

uBus está em teste em São Bernardo dos Campos. Foto: Divulgação/NTU
2 - uBus está em teste em São Bernardo dos Campos. Foto: Divulgação/NTU
CityBus opera há pouco mais de 30 dias em Goiânia. Foto: Divulgação/HP Transportes
3 - CityBus opera há pouco mais de 30 dias em Goiânia. Foto: Divulgação/HP Transportes

Por tudo isso, está sendo criado, testado e aprimorado no País o transporte público coletivo sob demanda. “Tínhamos que reagir. Criar plataformas digitais que facilitem a vida do passageiro. Há uma revolução tecnológica acontecendo na mobilidade urbana e o transporte público coletivo não podia ficar de fora, indiferente a ela. Mas essa oferta sob demanda, é importante destacar, segue regras básicas inerentes ao serviço de transporte público coletivo, regido por um gestor público. E não está sujeita às oscilações do mercado, como estão os apps. São elas: ser universal (acessado por qualquer pessoa), ser contínuo (não pode ter interrupções), operar 24h e ter tarifas módicas e reguladas pelo gestor público”, alerta Otávio Vieira da Cunha, presidente da NTU.

 

CITYBUS 2.0

A aposta das plataformas digitais de transporte público é atrair o passageiro do automóvel. Fazer com que ele deixe o carro em casa e opte pelo serviço de ônibus diferenciado. A área de abrangência é escolhida a dedo. Geralmente são regiões centrais, com grande concentração de polos atrativos de viagens, como faculdades, universidades, comércio, shoppings, clínicas e hospitais. “O CityBus 2.0 é um serviço de natureza complementar ao transporte convencional. É um serviço flexível e personalizado, no qual, via um app, o passageiro pode escolher a melhor rota para sua viagem e ser pego num ponto virtual. Tem uma tarifa diferenciada, que no nosso caso tem variado entre R$ 6,50 e R$ 7,50, e é recomendado para distâncias curtas. Em Goiânia, atendemos 11 bairros do nosso centro expandido, atuando uma área de nove quilômetros de extensão em linha reta”, explica Hugo Santana, diretor de transporte da HP Transportes Coletivos, uma das concessionárias do transporte público de Goiânia.

Mesmo ainda novos e em teste, os serviços de transporte público sob demanda têm sinalizado que poderão cair no gosto da sociedade. Nos primeiros 30 dias de operação, o Citybus 2.0 teve aumento de 20% no número de viagens realizadas e percorreu 40,2 mil quilômetros. Registrou índice de satisfação de 4,9 numa escala de uma a cinco estrelas e teve 22 mil cadastros nas plataformas iOS e Android. Entre os itens mais bem avaliados, o atendimento do motorista ficou em primeiro lugar, seguido de conforto e limpeza do miniônibus, embarque rápido e bom trajeto.

Tínhamos que reagir. Criar plataformas digitais que facilitem a vida do passageiro. Há uma revolução tecnológica acontecendo na mobilidade urbana e o transporte público coletivo não podia ficar de fora, indiferente a ela. Mas essa oferta sob demanda, é importante destacar, segue regras básicas inerentes ao serviço de transporte público coletivo, regido por um gestor público", Otávio Vieira da Cunha, da NTU

Foto: Divulgação/NTU

 

UBUS

O uBus, o segundo serviço que está em teste no Brasil, em São Bernardo dos Campos, funciona praticamente da mesma forma. O passageiro escolhe os pontos de origem e destino no app – que apresenta as rotas existentes (fixas) ou sugere uma. Escolhe o assento e efetua o pagamento. Em seguida recebe o número da placa do veículo e o nome do motorista. O app informa ao passageiro o melhor caminho/tempo de chegada até a rota e detalha o tempo de chegada do veículo até o destino de embarque. O motorista recebe os nomes dos passageiros, rotas e tempos de chegada ao destino de embarque e desembarque de cada cliente em um monitor (computador de bordo). No momento do embarque, o passageiro valida o QR CODE recebido no app após o pagamento da viagem. Como os apps integram o serviço de transporte público coletivo, ele não pega o passageiro em casa, como o Uber ou a 99. É necessário o usuário se deslocar alguns metros até um dos pontos virtuais de embarque cadastrados na plataforma. O ponto virtual estará o mais próximo do solicitante. Não é necessariamente um ponto de ônibus, mas um local seguro para que o miniônibus possa parar para o embarque e desembarque da viagem.

“Acreditamos que a criação desses serviços sob demanda, com conforto e segurança, é uma forma de fazer com que a sociedade passe a ver o transporte público coletivo com outros olhos. Porque, sem novas formas de financiamento e do jeito que está, com o transporte coletivo sendo financiado exclusivamente pela tarifa – ou seja, pelo passageiro –, ele não tem sido atrativo nem para a população nem para o setor empresarial”, reforça Otávio Vieira. A NTU, inclusive, prepara um grande lançamento em abril para estimular e apoiar financeiramente a criação de projetos e novas tecnologias que modernizem a oferta do transporte público coletivo no Brasil.

Posicionamento da Urbana-PE

"O setor tem acompanhado atentamente as inovações e novas soluções de tecnologias aplicadas ao transporte coletivo na busca de oferecer serviços que cada vez mais se aproximem das necessidades dos passageiros. A incorporação das plataformas digitais ao serviço de transporte público é uma evolução já absorvida pelo STPP/RMR, uma vez que já é possível recarregar os cartões de transporte, planejar viagens e consultar os horários dos ônibus em tempo real. O transporte coletivo sob demanda por aplicativo aparece como uma possível solução complementar ao serviço regular. Entretanto, o serviço, que detém características de transporte coletivo, para que possa eventualmente ser implementado pelas empresas operadoras, carece de regulamentação pelo Grande Recife, devendo ser compatibilizado com as operações de permissão ou concessão atualmente existentes".

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