O trânsito precisa de investimento em tecnologia

Publicado em 15/04/2019 às 8:00 | Atualizado em 12/05/2020 às 12:14
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Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem

 

Os semáforos velhos, alimentados por estruturas gastas, enferrujadas, e cercadas por fios e gambiarras que ilustram esta página estão espalhados por diversas avenidas e ruas do Recife. Inclusive em corredores vitais para a circulação otimizada da cidade. Acredite. As fotos revelam o quanto obsoleta e mal cuidada está a rede semafórica da cidade e o quanto precisamos avançar no uso da tecnologia para melhorar o trânsito, beneficiando não só os veículos particulares, mas também o transporte coletivo – que responde por 40% dos deslocamentos a trabalho no Recife. Isso porque, até hoje os ônibus convencionais e os BRTs que cortam a capital não usufruem de semáforos adaptativos que priorizam a passagem deles nos cruzamentos viários. De forma geral, é longa a estrada a ser percorrida para a modernização de equipamentos, da gestão da programação semafórica, da manutenção preventiva e corretiva da infraestrutura de engenharia de tráfego.

Ou seja, sem modernização, os semáforos apresentam falhas e perdem sincronia, gerando retenções e congestionamentos no trânsito. E pelo que vemos nas ruas, a percepção é de que temos uma rede semafórica totalmente sucateada. A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) discorda e informa que a capital tem 671 semáforos, dos quais 75% funcionam em rede, ou seja, operam por meio de gerenciador eletrônico com acesso remoto da Central de Operações de Trânsito (COT). Todos eles, no entanto, são alimentados por cabos, como as fotos dessa página. Segundo engenheiros elétricos ouvidos pela MoveCidade, a alimentação via cabo é ultrapassada e permissiva a rompimentos e desgastes. Já deveríamos estar usando a alimentação via wirelless, ainda uma utopia para o Recife. Além disso, embora possam ser controlados remotamente por um gerenciador na COT, são de tempos fixos, ou seja, têm programações pré-estabelecidas que não podem ser alteradas conforme a necessidade do trânsito.

 

Fotos: Divulgação
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  Por isso já existe tecnologia mais moderna, que são os semáforos adaptativos (inteligentes). O Recife vem experimentando-os, pela empresa Serttel, na Avenida Mascarenhas de Moraes e na rede semafórica do Pina, que compreende as Avenidas Antônio de Góis, Herculano Bandeira e o início da Conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira. Na Zona Sul, começou a usá-los como teste depois da instalação da Faixa Azul para o transporte coletivo na Antônio de Góis, que reteve os veículos particulares na saída da Zona Sul. Na prática, o sistema adaptativo identifica a quantidade de veículos em cada corredor de um determinado cruzamento e, em tempo real, amplia o tempo de verde para a via que tem maior volume. Tem limite de ganhos e não deve ser utilizado em qualquer situação, mas de fato melhorou a circulação na região e permitiu à prefeitura resistir diante da pressão para rever a Faixa Azul dos ônibus.

Enquanto a capital testa, a nova tecnologia já está funcionando oficialmente na Região Metropolitana do Recife com a empresa Sinalvida: em Olinda, Abreu e Lima e no Cabo de Santo Agostinho. No caso de Abreu e Lima, o equipamento está instalado na BR-101, na altura do centro urbano da cidade, e apresenta resultados positivos. O tempo de retenção caiu 50%. Os veículos que demoravam, em média, dez minutos para percorrer os dois quilômetros da travessia urbana, agora estão levando metade do tempo.

 

Foto: Diego Nigro/JC Imagem

 

A promessa da CTTU é de modernização, embora prazos não sejam dados. Por nota, a autarquia afirmou que está desenvolvendo um novo termo de referência que vai viabilizar a modernização da tecnologia, a melhoria da comunicação entre controladores e a aquisição de novos semáforos adaptativos (inteligentes). Mas não disse mais nada, quando questionada sobre previsão e, principalmente, valores.

 

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SEMÁFOROS DE ENERGIA SOLAR

Outro avanço tecnológico que o trânsito do Recife também ainda não dispõe é o semáforo que funciona à base de energia solar. São equipamentos autossuficientes que geram energia elétrica a partir da radiação do sol. Têm placas fotovoltaicas que promovem economia na manutenção dos equipamentos e fazem com que durem mais. Em Pernambuco já é possível encontrar equipamentos do tipo em Olinda, no cruzamento da PE-15 com a Avenida Chico Science (contrato do DER-PE), no Grande Recife; em Garanhuns, no Agreste; e em Arcoverde, na porta do Sertão do Estado.

Segundo Bernardo Limongi, da Sinalvida, empresa que oferta os equipamentos em Pernambuco e em Alagoas, a principal vantagem da energia solar nos semáforos é quando há queda de energia, o que é comum, principalmente, em época de chuvas. “Eles têm capacidade de suportar se houver uma queda de energia ou um apagão, por exemplo. Não param de funcionar. Têm autonomia ininterrupta enquanto expostos ao sol. As baterias carregam e duram a noite toda, sem necessidade do uso de energia elétrica. Representam economia de energia e sustentabilidade”, pondera.

 

 

MODERNIZAÇÃO QUE REDUZ A VIOLÊNCIA URBANA

Os benefícios do avanço da tecnologia de engenharia de tráfego podem ultrapassar o trânsito. Chegar à segurança pública, reduzindo a criminalidade nas cidades. É o caso do Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia), desenvolvido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em parceria com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e a Universidade Federal do Ceará (UFC). Através de sensores de trânsito espalhados em avenidas e rodovias da Grande Fortaleza e do interior cearense, a polícia consegue identificar e recuperar veículos roubados, furtados ou suspeitos, evitando, inclusive, investidas criminosas.

O Spia foi lançado em 2017 no Ceará e, já em 2018, contribuiu para uma redução de 33,5% dos índices de roubos e furtos (CVP) e de 30,9% dos roubos e furtos de veículos em todo Estado. Em relação ao índice de recuperação de veículos, o aumento foi de 43% entre 2017 e 2016. Pelo menos esses são os dados oficiais, divulgados pela SSPDS.

No Spia as imagens são captadas e os veículos identificados a partir dos equipamentos que monitoram o trânsito.  Pelas câmeras é possível identificar as placas dos veículos e, no caso de suspeita, acionar o policiamento na rua. A iniciativa tem feito do Ceará um laboratório para outros Estados do Nordeste, como é o caso da Paraíba e da Bahia, que começaram a testar o modelo. A ideia é estimular a adesão ao sistema para compor uma rede interestadual estratégica entre os municípios para fortalecer a segurança pública.

 

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O que perguntamos a CTTU?

1) Sei que a CTTU está para lançar uma nova licitação para a modernização e ampliação da rede semafórica do Recife. Gostaria de saber quando ela será lançada e detalhes das exigências que serão feitas sob a ótica da modernização dos equipamentos existentes na cidade. Como o uso, por exemplo, de semáforos wireless e adaptativos?

2) Qual é a nossa realidade semafórica hoje? Temos quantos semáforos, quantos estão em rede, são quantas redes, qual o tipo de tecnologia que usamos...

3) Temos algum projeto ou ao menos intenção para adotar o modelo que integra fiscalização de trânsito e segurança pública no mesmo equipamento, como tem sido desenvolvido em Fortaleza, com o Spia?

4) Há, também, alguma intenção de adotar os modelos de semáforos adaptativos que priorizam o transporte coletivo?

5) Tenho a informação que o nosso antigo contrato de manutenção da rede semafórica custava R$ 640 mil/mês, valor que foi subindo com os reajustes? Vocês confirmam esse valor? E é possível me dizer qual a estimativa de valor para o futuro contrato de manutenção?

 

O que a CTTU respondeu:

A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informa que a estrutura semafórica da cidade dispõe de 671 equipamentos, dos quais 75% funcionam em rede, isto é, operam por meio de gerenciador eletrônico com acesso remoto, direto da Central de Operações de Trânsito (COT).

Para que os semáforos funcionem com a sincronização necessária ao longo do dia, uma programação com ciclos de tempos é definida para toda a rede. O objetivo da sincronização é garantir a mobilidade e a segurança viária para pedestres e condutores. Tendo em vista sempre a otimização do serviço, está em desenvolvimento um novo Termo de Referência, que vai viabilizar a modernização da tecnologia, a melhoria da comunicação entre controladores e a aquisição de novos semáforos adaptativos (inteligentes).

Atualmente, as centrais de operações entre CTTU e Secretaria de Defesa Social (SDS) atuam de forma que as informações sejam disponibilizadas a fim de apoiar as ações de segurança e de circulação, conforme a competência de cada órgão.

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