Sistema tem números incríveis e é elogiado pelos usuários. Mas não cresce há seis anos. Fotos: Léo Mota/JC Imagem
Seis anos após entrar em operação e apesar do sucesso entre os usuários, o sistema de compartilhamento de bicicletas públicas Bike PE não avança. Em 2013, quando teve início, eram 80 estações instaladas prioritariamente no Recife, em Olinda e em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana. Em 2019, às vésperas de completar seis anos, o sistema continua com o mesmo número de estações, praticamente todas concentradas em bairros de classe média ou na área central da capital. A diferença foi a distribuição das estações, que ficaram mais adensadas. Promessas de que a ampliação acontecerá não faltam. Tanto do poder público – no caso o governo de Pernambuco – como dos operadores e patrocinadores – Tembici e Itaú Unibanco, respectivamente. Mas nada acontece de fato.
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Desde o ano passado que conversas para duplicar o número de estações do Bike PE vêm sendo feitas. Em agosto de 2018, o governo do Estado, via gerência de Ciclomobilidade (que integra a Secretaria de Turismo de Pernambuco) prometeu que o sistema ganharia mais 80 estações, chegando a 160 unidades na RMR. O tempo passou e a ampliação não veio. Enquanto isso o Bike PE segue deixando inúmeras localidades descobertas, incluindo a periferia e até mesmo áreas onde o sistema já operou e foi desativado para permitir o adensamento das estações quando a tecnologia foi trocada, deixando de ser da pernambucana Serttel e passou a ser da canadense PBSC.
Estamos fazendo uma campanha nas redes sociais para conseguir instalar uma estação do Bike PE no Terminal Integrado CDU. Seria muito bom para quem estuda na UFPE. Perdemos muito tempo esperando ônibus para chegar no campus. E agora principalmente, com as obras que estão sendo feitas na Caxangá. De bicicleta, gastaríamos dez minutos do TI até a UFPE. Também seria fundamental que ampliassem as estações no campus”, defende a estudante de Turismo Jéssica Ferreira
Nas ruas, a população cobra a expansão. “De fato, quanto mais melhor. Moro na Encruzilhada e não uso o sistema mais vezes porque no meu bairro só tem uma estação. Assim, o serviço não me dá confiança. Quando a estação fica sem vaga para devolução, o que é comum de acontecer à noite, horário em que estou retornando do Centro para casa, fico na mão. As duas estações mais próximas ficam longe. Por isso é desestimulante. Adoro o sistema, as bicicletas são excelentes e seguras, mas acho que já deveria ter crescido há muito tempo”, afirma o técnico em informática João Paulo Santos.
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Os números do Bike PE, por si só, já justificam a expansão. São quase estratosféricos. Pelo menos a partir de setembro de 2017, quando saiu a Serttel e entrou a Tembici/PBSC. O cadastro de usuários aumentou 2.738% e as viagens, 434% em relação ao ano anterior. De seis mil viagens/mês, como aconteceu em julho de 2017, passou para 110 mil viagens/mês. Resultado da confiabilidade que o serviço voltou a oferecer, depois de mais de um ano definhando, com bicicletas velhas e diversos problemas de conectividade. O Itaú e a Tembici reconhecem que o Bike PE tem espaço para crescer e garantem que vêm estudando a expansão. E afirmam isso com base no fato de que cada bicicleta faz quatro viagens por dia no sistema pernambucano. Enquanto que no Rio de Janeiro, por exemplo, são dez viagens por bike. Mas, na resposta oficial enviada por email, não garantem nada em relação à ampliação.
A mais recente promessa de gestores e operadores é implantar mais 40 estações, com 400 bicicletas. Assim, o Bike PE passaria a ter 120 estações e 1.200 bikes. “Sabemos que o Bike PE precisa e deve ser ampliado. Os números do crescimento do sistema justificam a expansão. E temos trabalhado para consegui-la. Em dezembro do ano passado os trâmites formais tiveram início, com a Secretaria de Turismo oficializando a demanda para a Tembici. A ampliação está sendo analisada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE), que verifica o aspecto legal do contrato firmado com o operador e o patrocinador. Ainda não temos uma data certa, mas o projeto de ampliação encontra-se bem avançado e conta com o apoio de prefeituras da RMR”, garantiu Jason Torres, gerente de Ciclomobilidade de Pernambuco.
Atualmente, das 80 estações do Bike PE, 69 estão no Recife, seis em Olinda e cinco em Jaboatão dos Guararapes. Quando e se a expansão acontecer, a pretensão do Estado é, em primeiro lugar, recolocar as estações em alguns dos locais onde elas já funcionaram e foram retiradas devido ao adensamento do serviço. “Vamos voltar a bairros como Cordeiro, Torre, Casa Forte e Santana, por exemplo. Também queremos ampliar a oferta nas proximidades da UFPE”, promete Jason Torres. A expansão, no entanto, terá que respeitar critérios técnicos de espaçamento. Ou seja, a distância média de até 500 metros entre as estações para garantir o adensamento do serviço. “Por isso não podemos abrir mão de um número mínimo de estações no projeto de expansão. Caso contrário, ela perde o sentido”, reforça o gestor.