Cadê as Faixas Azuis?

Publicado em 22/05/2019 às 10:54 | Atualizado em 12/05/2020 às 11:10
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Principal via perimetral do Recife, Agamenon espera por uma Faixa Azul desde 2017. Assim como aguarda o dia em que receberá o projeto de BRT, previsto desde 2011. Fotos: Arnaldo Carvalho/JC Imagem

 

O sucesso comprovado das Faixas Azuis para o transporte coletivo por ônibus, mesmo incontestável, não tem sido suficiente para fazer com que a Prefeitura do Recife amplie o projeto, que dá prioridade viária ao transporte de massa. Ou seja, tira espaço do veículo particular e dá ao coletivo. O Recife, é preciso destacar, tem dois méritos: da Região Metropolitana, é a cidade que mais tem faixas exclusivas para o ônibus e implantou 38 quilômetros em cinco anos. Atualmente a capital tem oito trechos – três deles considerados corredores de fato. Mas ainda é muito pouco. As Faixas Azuis têm pouca conexão, há muitos corredores estruturais por onde trafegam centenas de linhas sem prioridade alguma, as extensões são pequenas – no máximo sete quilômetros – e o intervalo de implantação cada vez maior.

Deveríamos ter muito mais Faixas Azuis pela cidade. A quantidade ainda é muito pequena para o volume de ônibus que circulam. Elas fazem a diferença na viagem”, defende o fotógrafo Eduardo do Nascimento

Atualmente, a priorização ao ônibus nas ruas do Recife beneficia apenas 240 mil passageiros, um número ainda pequeno quando consideramos que 2 milhões de pessoas usam o sistema diariamente. Significa dizer que 12% dos passageiros usufruem das vantagens da priorização viária para o transporte coletivo. E eles são muitos. Há Faixas Azuis, como a da Avenida Domingos Ferreira, que tem conexão com a da Avenida Antônio de Góes, nos bairros do Pina e de Boa Viagem, na Zona Sul da cidade, que tiveram ganhos de 118% na velocidade dos coletivos. Até mesmo os trechos mais pequenos do equipamento – há faixas com apenas 580 metros, como a da Antônio de Góes, ou com 1,5 quilômetro como as da Rua Cosme Viana, em Afogados, e Real da Torre, na Torre e Madalena – têm resultados positivos que alcançaram de 20% a 30% de aumento de velocidade. E, quanto mais rápido o ônibus anda, mais ágil é a viagem.  

 

Recife tem 2.400 quilômetros de vias e em 650 quilômetros os ônibus circulam por eles. Mesmo assim, em apenas 58 quilômetros têm algum tipo de priorização na via. Ou seja, de todas as ruas percorridas por ônibus na capital, apenas 5% contam com faixa exclusiva de circulação. “Deveríamos ter muito mais Faixas Azuis na cidade, assim como em toda a Região Metropolitana. Outras cidades, inclusive, deveriam copiar o Recife. E a capital precisava ampliar a oferta porque é muito pouco ainda. Quem anda nos ônibus que usufruem da faixa exclusiva sabe a diferença que faz. A viagem fica muito mais rápido. Veja o exemplo de Boa Viagem, por exemplo. Ficou mais fácil sair e entrar de ônibus do que de carro”, afirma o promotor de vendas Paulo Henrique Amorim, que pelo menos três vezes por semana usa o equipamento da Zona Sul.

Implantar um quilômetro de Faixa Azul custa R$ 20 mil sem fiscalização e R$ 40 mil com radares, segundo valores estimados pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Mas, mesmo assim, a ampliação é tímida. A Prefeitura do Recife pegou um bom embalo em 2013, quando o projeto começou na cidade, influenciado pelos bons resultados e baixo custo das faixas adotadas no Rio de Janeiro, cidade que transformou em sucesso e divulgou no País o chamado BRS (Bus Rapid Service), a versão mais barata e, por isso, bem mais prática, do BRT (Bus Rapid Transit). Um sistema que exige apenas sinalização horizontal e vertical nas faixas à direita das vias, sem necessidade de obras ou estudos mais elaborados, como acontece com os corredores segregados no canteiro central das avenidas. É apenas vontade de fazer. Mas o ritmo foi caindo. A última Faixa Azul implantada foi a da Antônio de Góes, em janeiro de 2018, que provocou reação dos motoristas de veículos particulares.

 

Na foto, simulação de uma Faixa Azul na Agamenon Magalhães. Arte/JC  

É uma pena que não existam mais Faixas Azuis nas avenidas por onde passam os ônibus. A Avenida Agamenon Magalhães, por exemplo, é uma que deveria ter há muito tempo”, diz a costureira Socorro Vasconcelos

 

AGAMENON MAGALHÃES

Ainda há muitos corredores nos quais o ônibus não tem prioridade. O exemplo mais simbólico é a Avenida Agamenon Magalhães, via perimetral da cidade, considerada o pulmão viário do Recife, que tem 12 faixas de circulação para o transporte individual. No meio delas, sem espaço garantido, trafegam os ônibus. Com menos de R$ 300 mil seria possível colocar faixas exclusivas nos dois lados da Agamenon Magalhães, ao longo dos seus sete quilômetros. Beneficiaria 99 linhas de ônibus (25% das que operam em todo o sistema de transporte da RMR) e os 350 mil passageiros (29% do total de usuários) que diariamente usam a via. A prefeitura já garantiu que irá implantar uma Faixa Azul na Agamenon, mas sem data certa. Já prometeu para o fim de 2017, depois para 2018 e, agora, diz, por email, que vai implantá-la até o fim de 2019. O município não deu entrevista sobre a cobrança das faixas. Por email, destacou os ganhos obtidos com os equipamentos e afirmou estar estudando outros projetos.

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