Metrô do Recife teve 77 panes somente em 2019

Publicado em 28/08/2019 às 8:00 | Atualizado em 11/05/2020 às 9:37
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Sistema pernambucano mal tem recursos para garantir a operação e agora está recebendo orçamento a cada semana e mês. Foto: Brenda Aclântara/JC Imagem

 

As últimas panes do metrô do Recife são apenas a ponta de um iceberg de problemas operacionais e financeiros que o sistema metroferroviário da Região Metropolitana do Recife enfrenta. Os números confirmam essa constatação: somente este ano, entre janeiro e até esta terça-feira (27/8), o metrô enfrentou 77 panes. É o mesmo que registrar dez evacuações por mês. Provavelmente, os dois últimos problemas do sistema, que paralisaram por quase 24h a Linha Centro – a principal em relação à operação, com 250 mil passageiros por dia –, foram provocados por atos isolados de vandalismo com o objetivo de furto de material. Mas as panes não escondem o sucateamento financeiro vivenciado pelo metrô, que há três anos ameaça reduzir a operação por falta de recursos para garantir, ao menos, a operação das três linhas existentes – Centro, Sul e o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).

 

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Nesta terça (27/8), às 20h16, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife informou que toda a Linha Centro tinha voltado a funcionar plenamente, 33 horas depois da pane. O Ramal Recife-Jaboatão dos Guararapes, que liga o Centro do Recife ao município, no Sul da Região Metropolitana, voltou a operar por volta das 8h da terça (27/8). Mas o Ramal Recife-Camaragibe, cidade na Zona Oeste da RMR, passou o dia paralisado, prejudicando 25 mil pessoas que dependem das cinco estações do ramal que ficaram o dia fechadas. Segundo a CBTU, uma rede de pesca seria a causa da última paralisação do sistema. Durante uma inspeção da equipe de manutenção da CBTU, realizada na manhã desta terça-feira, foi verificado que uma rede de pesca tinha sido jogada em cima do trem envolvido na quebra da rede aérea – que provocou a paralisação anteontem –, possivelmente num ato de vandalismo. A rede teria enroscado no pantógrafo, equipamento que liga o trem à rede aérea, causando um curto de grandes proporções que cortou o cabo da catenária (rede aérea) e abriu um buraco na parte superior da composição.  

“Pode ser que essa rede de pesca tenha sido levada pelo vento, mas acreditamos em vandalismo. Infelizmente. Além desse possível ato, na madrugada de segunda para a terça houve uma tentativa de roubo de cabos entre Coqueiral e Tejipió, o que resultou na paralisação da Linha Centro inteira. Mostra uma possível relação entre um ato e outro. Jogaram a rede sobre o trem para provocar a interrupção da operação e, na sequência, permitir o furto de fios à noite. É uma pena que isso aconteça porque prejudica muitos passageiros”, afirmou o superintendente da CBTU no Recife, Leonardo Villar Beltrão. Segundo o superintendente, a equipe de manutenção estava trabalhando ininterruptamente para liberar o trecho Coqueiral-Camaragibe o mais rápido possível.

Problemas de vandalismo à parte, o metrô do Recife sofre com a precariedade da manutenção. As últimas panes registradas em julho aconteceram por desgaste de equipamentos. As falhas, inclusive, aumentaram quase 30% em relação a 2018. No total, o sistema tem 40 trens, mas conta com apenas 26 porque 14 estão quebrados desde 2016, na oficina do metrô, sem previsão de conserto. O sistema metroferroviário quase não tem recursos para custeio (despesas básicas) e, este ano, passou a receber o orçamento mês a mês. Em 2018 recebeu R$ 104 milhões para garantir a operação, embora precisasse de mais: entre R$ 120 e R$ 130 milhões. Em 2019 teve apenas 98 milhões garantidos pela Lei de Orçamento Anual (LOA) e, mesmo assim, a União reduziu o valor para R$ 56 milhões.

 

Rede de pesca que, segundo a CBTU, teria sido jogada sobre um trem da Linha Centro e provocado a última pane. Foto: Roberta Soares

 

“Estamos numa situação bem difícil e não é de agora. Por isso ameaçamos parar ou reduzir a operação. Agora, apesar do corte, estamos apresentando as demandas e o governo vai repassando o recurso aos poucos, semana a semana, mês a mês. É assim que estamos vivendo. E sem qualquer previsão de investimento. Estamos falando apenas da garantia da operação”, afirmou Leonardo Villar Beltrão. Mesmo assim, a passagem do sistema tem sido reajustada. Desde maio, a tarifa subiu de R$ 1,60 para R$ 2,10, em dois aumentos escalonados. A partir do dia 8 de setembro chegará a R$ 3 e, em março de 2020, atingirá R$ 4. Os aumentos, entretanto, só vão ter impacto no orçamento do metrô a partir de 2020. “Esperamos que, como vamos arrecadar mais de R$ 100 milhões com as novas tarifas, consigamos mais recursos com a União”, sonha o superintendente.

MAIS VANDALISMO

Na manhã desta quarta-feira (28/8), a CBTU Recife encaminhou nota às redações e postou nas redes que, durante nova inspeção após a retomada do serviço, foram encontrados dois tijolos pendurados em um dos cabos de alimentação da rede aérea da Linha Sul, entre as estações Imbiribeira e Largo da Paz. Eles foram retirados durante a madrugada e poderiam ter paralisado o ramal. E não parou por aí. Próximo à Estação Monte dos Guararapes, um pedaço de arame foi localizado em um dos cabos da rede aérea. A CBTU lembrou que os atos de vandalismo só contribuem para danificar patrimônio, que é público, causando prejuízos na operação do metrô e até sua paralisação, deixando milhares de usuários sem transporte. E reforça: "vandalismo é crime previsto no Código Penal, com pena de detenção de seis meses a três anos e multa".

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