Assembleia acontece no dia 19 de fevereiro, quarta-feira da semana pré-carnavalesca. Foto: Guga Matos/Acervo JCImagem
Sinais de que o embate entre motoristas e cobradores de ônibus com o governo do Estado e o setor empresarial seria intenso este ano – após a eleição da nova diretoria do Sindicato dos Rodoviários, moldada pelo CSP Conlutas – começam a surgir. A nove dias do Carnaval 2020, a categoria anuncia uma assembleia geral a ser realizada no dia 19 de fevereiro (quarta-feira da semana pré-carnavalesca) e que poderá resultar numa paralisação dos motoristas, cobradores e fiscais durante o Carnaval. A realização do movimento está sendo condicionada pelos rodoviários à decisão do governo de Pernambuco de suspender a dupla função dos motoristas de ônibus e de não permitir as supostas demissões de cobradores – fato que o sindicato garante estar acontecendo, mas o Estado e os empresários negam, alegando que todos os profissionais retirados dos coletivos estão sendo reaproveitados no sistema.
A participação em massa da categoria é fundamental para definir um calendário de protesto e mobilização contra a dupla função, que poderá ocorrer inclusive durante o Carnaval, se o governo do Estado não acabar de vez com essa desumanidade contra os trabalhadores e a população. É hora de o governo do Estado baixar um decreto proibindo a dupla função. O governo também deve exigir, na futura licitação que será refeita, que as empresas devem ter um motorista e um cobrador em cada ônibus. É isso que esperam os rodoviários e a população, que é amplamente contra a total escravidão do motorista”, Aldo Lima, presidente do Sindicato dos Rodoviários
A assembleia geral acontece em dois horários: às 10h e às 15h30, na sede do sindicato, na Rua Araripina, em Santo Amaro. Nela, serão discutidas estratégias para lutar contra a dupla função e a demissão dos cobradores e fiscais, feitos encaminhamentos para a mudança do estatuto do sindicato – a atual diretoria defende que há muitas injustiças no documento, entre elas, altos valores de salários previstos para o comando –, e a organização da campanha salarial. “A participação em massa da categoria é fundamental para definir um calendário de protesto e mobilização contra a dupla função, que poderá ocorrer inclusive durante o Carnaval, se o governo do Estado não acabar de vez com essa desumanidade contra os trabalhadores e a população”, afirma o presidente do sindicato, Aldo Lima.
A principal exigência dos motoristas é que o governo do Estado suspenda a dupla função de motoristas. Foto: Diego Nigro/Acervo JCImagem
Os rodoviários querem que a dupla função dos motoristas seja proibida por decreto estadual. Segundo Aldo Lima, após as paralisações que a categoria fez desde que a nova direção foi empossada, em dezembro de 2019, o governo do Estado teria pedido um prazo até o dia 30 de janeiro para estudar o assunto e tomar uma decisão.
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"Este prazo terminou e agora exigimos uma posição firme do governador. É hora de o governo do Estado baixar um decreto proibindo a dupla função. O governo também deve exigir, na futura licitação que será refeita, que as empresas devem ter um motorista e um cobrador em cada ônibus. É isso que esperam os rodoviários e a população, que é amplamente contra a total escravidão do motorista", diz o líder sindical. O sindicato promete organizar um calendário de lutas para pressionar a Câmara dos Vereadores do Recife e a Assembleia Legislativa do Estado a se posicionarem contra a as mudanças.
PREJUÍZO
Caso aconteça uma paralisação do serviço de ônibus da RMR durante o Carnaval o impacto será enorme porque, com a consolidação da Operação Lei Seca – reforçada durante a folia –, a conscientização da população e as dificuldades de estacionamento, circulação e acesso aos pólos carnavalescos, o transporte público passou a ser utilizado por muitos foliões. E tudo isso estimulado pelo próprio poder público e a iniciativa privada, com a criação de mais de dez linhas de ônibus especiais para a folia, saindo de shoppings de todas as regiões do Grande Recife, com circulação expressa e tarifa diferenciada. Impossível imaginar o Carnaval da RMR sem elas hoje em dia. Além disso, um reforço na maioria das linhas convencionais do sistema.
EMBALADOS
Apesar de ter sido suspensa pessoalmente pelo governador Paulo Câmara em 2017, a retirada dos cobradores dos ônibus da RMR – e, como consequência, o acúmulo de função pelos motoristas –, foi retomada com uma impressionante agilidade em 2019. E tudo isso sem uma ampla divulgação e contando com uma rede de vendas de créditos do cartão VEM ainda insuficiente e onerosa para a maior parte da população. No mês de novembro eram 126 linhas operando sem cobradores no Grande Recife. Em maio, eram 58 linhas. A partir do dia 19 de outubro outras 60 linhas perderam o profissional. O restante tinha passado pela mudança anteriormente. Além disso, 346 motoristas estavam acumulando a função de cobrador – ou seja, dirigem, recebem dinheiro e passam troco aos passageiros – até a mesma época.