Vandalismo tem sido reduzido na folia. Mesmo assim, no Carnaval 2019 foram 314 ônibus danificados. Foto: Urbana-PE/Divulgação
Primeiro recado: um ônibus depredado é um ônibus a menos na rua! um metrô danificado é um metrô fora de operação! Segundo recado: o prejuízo com os equipamentos danificados é pago, de um jeito ou de outro, pelo passageiro. Terceiro recado: embora o vandalismo seja praticado por uma minoria, é importante que toda a sociedade repudie esse tipo de ato, usuária ou não do sistema de transporte público coletivo do País e, principalmente, da Região Metropolitana do Recife. Temos avançado como sociedade e os números da destruição de equipamentos têm diminuído ano após ano, mas ainda assustam. Por isso, um apelo diante de mais um Carnaval que se aproxima: por favor não destruam nem deixem ninguém destruir o transporte coletivo, que só no Grande Recife responde pelo deslocamento diário de quase dois milhões de passageiros em sua grande maioria trabalhadores e pais de família que só têm o ônibus e o metrõ como opções de deslocamento.
Alteramos completamente a escala de trabalho dos funcionários, reforçando as equipes noturnas porque temos que lidar com a troca de equipamentos que geralmente durariam muito tempo se não fosse a destruíção. E a demanda de trabalho aumenta muito. Tudo isso para deixar o veículo o menor tempo parado na oficina. Como os coletivos não saem da garagem se estiverem danificados, precisamos correr para não prejudicar a operação e, consequentemente, a população que precisa do ônibus no outro dia,Esdras Lima, gerente de manutenção da Itamaracá, empresa que integra o Consórcio Conorte e que retira o BRT de operação no Carnaval
No Carnaval 2019, o Blog MoveCidade fez o mesmo apelo em forma de reportagem. E mais uma vez repetiu o mantra de preservação dos ônibus e metrôs. Até porque, a cada ano o transporte público se torna mais importante para o deslocamento da população durante o Carnaval. Com a consolidação da Operação Lei Seca reforçada durante a folia, a conscientização dos motoristas em não dirigir após beber e as dificuldades de estacionamento, circulação e acesso aos pólos carnavalescos, o transporte público passou a ser utilizado por muitos foliões. Linhas especiais são criadas há mais de uma década, saindo de shoppings de todas as regiões do Grande Recife, com circulação expressa e tarifa diferenciada. A maioria das linhas convencionais de ônibus são reforçadas e o metrô se transforma no principal meio de transporte para o Galo da Madrugada. Ou seja: impossível imaginar o Carnaval da RMR atualmente sem o transporte público.
Embora o grande temor do setor ainda sejam os jogos de futebol porque são permanentes e quase sempre não contam com a mesma atenção de controle e segurança dedicada à folia pelo poder público, o Carnaval é muito temido. Se contabilizarmos os seis últimos carnavais (2014 a 2019), teremos 3.042 coletivos depredados. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife não faz um recorte da folia quando contabiliza o vandalismo do sistema, mas informou que nos últimos quatro anos o Metrô do Recife investiu R$ 2.672.868,43 para cobrir prejuízos causados pelos vândalos. No pacote, a reposição de janelas, para-brisas, bancos, portas, cabos, fios, equipamentos de sinalização, extintores e retirada de pichações.
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Metrô do Recife não divulgou um recorte do Carnaval, mas sistema gastou mais de R$ 2,6 milhões com o vandalismo nos últimos quatro anos. Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Esdras Lima, gerente de manutenção da Itamaracá, empresa que compõe o Consórcio Conorte a que mais tem ônibus depredados na folia, diz que é montada uma verdadeira operação de guerra nessa época exatamente por causa do vandalismo. Alteramos completamente a escala de trabalho dos funcionários, reforçando as equipes noturnas porque temos que lidar com a troca de equipamentos que geralmente durariam muito tempo se não fosse a destruíção. E a demanda de trabalho aumenta muito. Tudo isso para deixar o veículo o menor tempo parado na oficina. Como os coletivos não saem da garagem se estiverem danificados, precisamos correr para não prejudicar a operação e, consequentemente, a população que precisa do ônibus no outro dia, diz. Há reposições, afirma o gerente, que podem levar até quatro horas para ser feita. Por tudo isso, fica o alerta mais uma vez: por favor não depredem o transporte coletivo.
BRT SEMPRE FORA DE OPERAÇÃO NO CARNAVAL
A associação entre Carnaval e destruição do transporte público se tornou algo tão forte que provoca a interrupção da operação de alguns serviços de transporte. O BRT é o mais emblemático deles. Desde 2015, primeiro Carnaval com o Via Livre já em operação, que o sistema deixou de operar ou teve a operação reduzida. O BRT Norte-Sul, que liga o Recife a Igarassu, por 33 quilômetros, deixa de operar completamente a partir do Sábado de Zé Pereira. Todas as oito linhas têm os veículos BRT substituídos por ônibus convencionais. As 25 estações também são fechadas. É mais afetado porque corta, entre outros municípios, a cidade de Olinda, e chega ao Recife os principais polos da folia na Região Metropolitana.
No caso do BRT Leste-Oeste, que conecta o Recife ao município de Camaragibe e corta áreas mais urbanizadas do que o Norte-Sul, a operação não é suspensa porque o vandalismo é pequeno, mas é reduzida e o percurso alterado. Os BRTs retornam do Derby no dia do desfile do Galo da Madrugada e, nos outros dias de folia, o ponto de volta é a Riachuelo, no Centro da capital. Duas linhas deixam de rodar. Segundo o Consórcio Conorte, o BRT Norte-Sul enfrentaria dois riscos se operasse no Carnaval: a destruição dos veículos, que são caros e têm dificuldade de reposição das peças, e as invasões do sistema pelas estações, caso elas funcionassem. O problema já é enfrentando diariamente e, nos dias de Momo, seria quase impossível de controlar.
Redução e até suspensão da operação do BRT é reflexo da violência contra o transporte coletivo. Foto: Guga Matos/JC Imagem