Ao falar com jornalistas e apoiadores na manhã desta terça-feira (31) o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) destacou trecho de um discurso do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Gheybresus. Segundo Bolsonaro, Tedros falou "praticamente" que os informais "têm que trabalhar" durante a crise causada pela pandemia do coronavírus.
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O presidente, porém, não contextualizou a declaração do diretor da OMS e omitiu trecho do discurso em que Tedros afirma que governos de todo o mundo precisam garantir assistência a pessoas mais vulneráveis e informar sobre a duração das medidas de restrição de movimentação das pessoas.
Em suas entrevistas diárias, Tedros costuma salientar a importância do isolamento social. No discurso desta segunda-feira (30) ele escolheu, como foco, a sobrecarga dos sistemas de saúde. A citação aos informais veio no final de sua intervenção.
"Vocês viram o presidente da OMS ontem?", perguntou Bolsonaro nesta terça-feira. "O que ele disse, praticamente... Em especial, com os informais, têm que trabalhar. O que acontece? Nós temos dois problemas: o vírus e o desemprego. Não pode ser dissociados, temos que atacar juntos", continuou.
- Hoje, ouvindo a população na saída do Palácio do Alvorada.
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— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) March 31, 2020
Ao se comparar a Tedros, o presidente afirmou que quando ele começou a defender que os dois problemas deveriam ser enfrentados juntos, "entraram até com um processo no Tribunal Penal Internacional" contra ele, chamando-o de "genocida". "Eu sou genocida defendendo o direito de você levar um prato de comida para casa."
O discurso de Tedros a que Bolsonaro se refere foi feito na segunda-feira. O diretor-geral da OMS ressaltou que cada país é diferente e precisa respeitar essa situação ao adaptar as medidas contra o coronavírus. Ele destacou as populações pobres, em especial da África, seu continente de origem - Tedros é da Etiópía -, que precisam trabalhar diariamente para comer. O chefe da OMS disse ainda que as ações governamentais precisam considerar as pessoas mais vulneráveis, "porque todo indivíduo importa".
"Entendemos que muitos países estão implementando medidas de restrição de circulação da população. Ao implementar essas medidas, é vital se respeitar a dignidade e o bem-estar de todas as pessoas", afirmou Tedros. "Também é importante que os governantes mantenham sua população informada sobre a duração dessas medidas e dar apoio para idosos, refugiados e outros grupos vulneráveis."
Na sequência, o chefe da OMS citou os trabalhadores informais. "Governantes devem garantir o bem-estar da população que perdeu sua renda e está em necessidade desesperada de comida, saneamento ou outros serviços essenciais."
No Twitter
Para reforçar seu posicionamento, o diretor da OMS compartilhou em seu Twitter que apenas defendeu que aqueles que ficaram sem renda devem ser beneficiados por políticas sociais do governo, para que possam cumprir medidas de isolamento. Em momento algum, citou que era contra o isolamento desse grupo, como citou o presidente Jair Bolsonaro.
People without regular incomes or any financial cushion deserve social policies that ensure dignity and enable them to comply with #COVID19 public health measures advised by national health authorities and @WHO. #coronavirus
— Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) March 31, 2020
"Pessoas sem renda regular ou qualquer reserva financeiro merecem políticas sociais que garantam a dignidade e lhes permitam cumprir #COVID19 medidas de saúde pública recomendadas pelas autoridades nacionais de saúde", tuitou. Em seguida ele completou. "Eu cresci pobre e entendo essa realidade. Exorto os países a desenvolver políticas que forneçam proteções econômicas para pessoas que não podem ganhar ou trabalhar em meio ao #COVID19 pandemia. Solidariedade!".
I grew up poor and understand this reality. I call on countries to develop policies which provide economic protections for people who can't earn or work amid the #COVID19 pandemic. Solidarity! #coronavirus
— Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) March 31, 2020
Por fim, ele fala dos países em desenvolvimento. "Países em desenvolvimento, que abrigam 1/4 da população, provavelmente será mais atingida por #COVID19 . Neste momento crítico da história, um amplo acordo sobre o alívio da dívida será essencial para permitir que nações com sistemas e economias de saúde frágeis canalizem seus recursos para salvar vidas".
Developing countries, home to 1/4 of the ???? population, will likely be hit hardest by #COVID19. At this critical moment in history, broad agreement on debt relief will be key to allowing nations with fragile health systems & economies to channel their resources into saving lives.
— Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) March 31, 2020
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