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Bolsonaro cita discurso de diretor da OMS, mas omite trecho sobre assistência; no Twitter, chefe da OMS confirma seu posicionamento contrário

O presidente ainda disse que iria falar sobre a citação na televisão e no rádio

Larissa Lira Estadão Conteúdo
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Larissa Lira
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Publicado em 31/03/2020 às 16:17 | Atualizado em 31/03/2020 às 16:43
CAROLINA ANTUNES/PR
Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com máscara no queixo - FOTO: CAROLINA ANTUNES/PR

Ao falar com jornalistas e apoiadores na manhã desta terça-feira (31) o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) destacou trecho de um discurso do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Gheybresus. Segundo Bolsonaro, Tedros falou "praticamente" que os informais "têm que trabalhar" durante a crise causada pela pandemia do coronavírus.

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O presidente, porém, não contextualizou a declaração do diretor da OMS e omitiu trecho do discurso em que Tedros afirma que governos de todo o mundo precisam garantir assistência a pessoas mais vulneráveis e informar sobre a duração das medidas de restrição de movimentação das pessoas.

Em suas entrevistas diárias, Tedros costuma salientar a importância do isolamento social. No discurso desta segunda-feira (30) ele escolheu, como foco, a sobrecarga dos sistemas de saúde. A citação aos informais veio no final de sua intervenção.

"Vocês viram o presidente da OMS ontem?", perguntou Bolsonaro nesta terça-feira. "O que ele disse, praticamente... Em especial, com os informais, têm que trabalhar. O que acontece? Nós temos dois problemas: o vírus e o desemprego. Não pode ser dissociados, temos que atacar juntos", continuou.

Ao se comparar a Tedros, o presidente afirmou que quando ele começou a defender que os dois problemas deveriam ser enfrentados juntos, "entraram até com um processo no Tribunal Penal Internacional" contra ele, chamando-o de "genocida". "Eu sou genocida defendendo o direito de você levar um prato de comida para casa."

O discurso de Tedros a que Bolsonaro se refere foi feito na segunda-feira. O diretor-geral da OMS ressaltou que cada país é diferente e precisa respeitar essa situação ao adaptar as medidas contra o coronavírus. Ele destacou as populações pobres, em especial da África, seu continente de origem - Tedros é da Etiópía -, que precisam trabalhar diariamente para comer. O chefe da OMS disse ainda que as ações governamentais precisam considerar as pessoas mais vulneráveis, "porque todo indivíduo importa".

"Entendemos que muitos países estão implementando medidas de restrição de circulação da população. Ao implementar essas medidas, é vital se respeitar a dignidade e o bem-estar de todas as pessoas", afirmou Tedros. "Também é importante que os governantes mantenham sua população informada sobre a duração dessas medidas e dar apoio para idosos, refugiados e outros grupos vulneráveis."

Na sequência, o chefe da OMS citou os trabalhadores informais. "Governantes devem garantir o bem-estar da população que perdeu sua renda e está em necessidade desesperada de comida, saneamento ou outros serviços essenciais."

No Twitter

Para reforçar seu posicionamento, o diretor da OMS compartilhou em seu Twitter que apenas defendeu que aqueles que ficaram sem renda devem ser beneficiados por políticas sociais do governo, para que possam cumprir medidas de isolamento. Em momento algum, citou que era contra o isolamento desse grupo, como citou o presidente Jair Bolsonaro. 

"Pessoas sem renda regular ou qualquer reserva financeiro merecem políticas sociais que garantam a dignidade e lhes permitam cumprir #COVID19 medidas de saúde pública recomendadas pelas autoridades nacionais de saúde", tuitou. Em seguida ele completou. "Eu cresci pobre e entendo essa realidade. Exorto os países a desenvolver políticas que forneçam proteções econômicas para pessoas que não podem ganhar ou trabalhar em meio ao #COVID19 pandemia. Solidariedade!". 

Por fim, ele fala dos países em desenvolvimento. "Países em desenvolvimento, que abrigam 1/4 da população, provavelmente será mais atingida por #COVID19 . Neste momento crítico da história, um amplo acordo sobre o alívio da dívida será essencial para permitir que nações com sistemas e economias de saúde frágeis canalizem seus recursos para salvar vidas". 

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