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Amazônia pode ser 'maior repositório de coronavírus do mundo', diz cientista brasileiro

Com a devastação da Amazônia, a próxima grande pandemia pode surgir no Brasil, alerta o cientista David Lapola

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Publicado em 13/05/2020 às 11:58 | Atualizado em 13/05/2020 às 14:34
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A maior floresta tropical do mundo ainda tem extensas áreas preservadas, mas "cada vez há mais degradação, mais desmatamento", adverte cientista - FOTO: Foto: AFP

A história é conhecida: a intervenção humana em matas nativas pode gerar desequilíbrio ecológico e exportar doenças do coração da floresta. Com a devastação da Amazônia, a próxima grande pandemia pode surgir no Brasil, alerta o cientista David Lapola.

"A Amazônia é um potão de vírus", afirma o pesquisador, de 38 anos. Ao devastá-la, colocamos à prova nossa própria sorte, acrescenta.

A maior floresta tropical do mundo ainda tem extensas áreas preservadas, mas "cada vez há mais degradação, mais desmatamento", adverte Lapola. "Quando você gera esse desequilíbrio ecológico, você altera essas cadeias e nessa hora pode acontecer esse pulo do vírus [dos animais para os humanos]", explica, em entrevista à AFP.

Formado em Ecologia, Lapola lembra que em décadas anteriores o mundo já sofreu com o HIV, o ebola e a dengue. "Foram todos vírus que acabaram ou surgindo ou se disseminando de uma maneira muito grande a partir de desequilíbrios ecológicos".

Lapola diz que, segundo estudos, essa transmissão ocorre com mais frequência no sul da Ásia e na África, onde se encontram majoritariamente certas famílias de morcegos, mas que a biodiversidade da Amazônia poderia caracterizar a região como "o maior repositório de coronavírus do mundo".

"A culpa não é dos morcegos, não é para sair matando morcego por ali", esclarece o pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp.

"É mais uma entre 'n' outras razões pra gente não fazer esse uso irracional que agora está aumentando ainda mais da Amazônia, a nossa maior floresta", ressalta.

Devido ao surto de covid-19 na região, a Colômbia irá aumentar a presença de militares na fronteira da Amazônia com o Brasil e o Peru.

 

"Refundar" a relação com a floresta 

Lapola adverte que a conjuntura atual, com o avanço do coronavírus, que já provocou 12.400 mortes no Brasil, dificulta ainda mais a vigilância da floresta tropical, já ameaçada.

"Primeiro a gente tem que atacar essa crise sanitária e todo o esforço tem que ir para isso (...) Mas é preocupante porque a gente está tendo um aumento muito expressivo agora, não sendo ainda a estação de desmatamento", expressa.

Nos primeiros quatro meses de 2020 foram desmatados 1.202 km2 de floresta, segundo dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

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Começa operação contra desmatamento na Amazônia

O Brasil iniciou uma operação militar contra o desmatamento e incêndios florestais na Amazônia. A iniciativa foi anunciada na semana passada pelo presidente Jair Bolsonaro e as imagens da ação foram divulgadas nesta terça-feira.
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O Brasil iniciou uma operação militar contra o desmatamento e incêndios florestais na Amazônia. A iniciativa foi anunciada na semana passada pelo presidente Jair Bolsonaro e as imagens da ação foram divulgadas nesta terça-feira.
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Isto representa um aumento de 55% em comparação com o mesmo período de 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro enfrentou duras críticas dentro e fora do Brasil por minimizar o avanço dos incêndios que consumiram extensões recorde de floresta.

O presidente, que defende a abertura da Amazônia à exploração de minério e à agropecuária, enviou esta semana um contingente militar para combater o desmatamento.

Os números vão demonstrar se esta foi uma estratégia bem-sucedida, afirma Lapola. "A questão mais grave é a gente usar o Exército pra tudo e qualquer questão no Brasil. Isso mostra um pouco uma certa crise das nossas instituições e um Ibama desaparelhado", destaca.

"Está provado que a questão do desmatamento é suscetível a quem nos governa. A boa notícia é que os governos são passageiros. Eu espero que numa próxima gestão se dê mais atenção a essa questão e a gente trate com mais zelo esse enorme, talvez o maior, tesouro biológico do planeta", declara.

Para o pesquisador, também se faz necessário "refundar a relação da sociedade com as florestas". Lapola destaca que, embora a propagação de novas doenças a partir do coração da floresta seja "um processo muito complexo pra gente poder prever, é melhor usar o princípio da precaução e não testar muito a nossa sorte".

 

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