Pai e filho, os mergulhadores e pescadores Geovane Santos da Silva, 56 anos, e Carlos Geovane, 28, tinham acabado de mergulhar e estavam se preparando para pescar no último domingo (13) quando um grupo de orcas, popularmente conhecidas como baleias-assassinas, cercou o barco dos dois.
A situação inusitada aconteceu há cerca de 12 km da costa da Praia da Espera, em Itacimirim, que fica na cidade de Camaçari, região metropolitana de Salvador. De acordo com o que os pescadores contaram ao CORREIO, os animais acompanharam a embarcação por algumas horas e chegaram a quebrar e derrubar um isopor que estava dentro d barco, além de molhá-lo, enquanto interagiram uns com os outros.
"A gente mergulhou e, logo depois, íamos pescar de linha. Já tinha percebido há alguns dias o 'silêncio' no mar. Mergulho há 42 anos. Vejo de tudo que você pode imaginar: tubarão, baleia jubarte, etc. Mas aquelas ali chega fiquei frouxo", conta Geovane.
"Quando a gente terminou de mergulhar, do barco eu olhei e disse: 'Olha uma baleiazinha ali'. Aí quando meu filho olhou, falou: 'Meu pai, não é uma baleia jubarte, não. É uma orca'. Elas começaram a se aproximar lentamente, a se acostumar com a embarcação", completa. Ele, que calcula ter visto pelo menos 20 animais, confessa que sentiu uma mistura de sentimentos - desde alegria, a empolgação e até medo.
Leia também: Em um mês, jovem é picado 8 vezes pela mesma cobra; familiares afirmam que serpente é capaz de rastreá-lo
Foi quando uma delas começou a "esguichar" - ejetar ar quente - no barco e, logo depois, quebrou um isopor. "Elas cercaram o barco e uma delas, a maior, esbagaçou o isopor. Aí foi uma alegria maravilhosa. Depois ela tentou vir pra cima. Chegou um ponto que a popa do barco torceu e aí a gente ficou com medo. No início deu pra perceber que elas estavam 'brincando', tanto que ela deu um tombo e molhou toda a embarcação. Mas aí ela ficou colada no barco e a gente teve que dar uma cutucada", confessa.
O acontecimento foi registrado pelos dois, que se divertiram com a aparição das orcas. Mas, com a maior aproximação dos animais - eles começaram a bater no fundo da embarcação - pai e filho resolveram voltar mais cedo da pescaria, por volta das 18h.
A desconfiança inicial de Geovane quase se confirmou: por isso que as baleias jubarte não estavam por ali nos últimos dias. "Desde que uma jubarte encalhou na praia, há alguns dias atrás, as orcas já deviam estar aqui. Provavelmente elas espantaram as outras baleias. Normalmente aqui tem 'engarrafamento' de jubarte. Todo dia que a gente sai pra pescar a gente vê uma jubarte. E domingo foi diferente", afirma o pescador, que ainda elogiou os animais: "As orcas são muitos sabidas, inteligentes. Ali é um golfinho superdesenvolvido".
Segundo a veterinária do Instituto Baleia Jubarte, Adriana Colósio, o fato das orcas estarem em grupos é normal, mas é bem raro essa aparição em grupos maiores. "Não é a primeira vez que a gente tem visita de orcas na Bahia. A gente tem registro de encalhe em Ilhéus e avistamento em Itacare e Prado. Mas um grupo grande de orcas, dessa forma que foi descrito, pra gente foi uma situação inusitada. Não é muito comum", pontua ela.
De acordo com ela, não dá para saber se essas orcas residem no território brasileiro ou estão de passagem - existem grupos familiares que migram pelo mundo inteiro e grupos residentes. "Orcas andam em 'tribos'. Por mais que sejam da mesma espécie, elas têm grupos familiares. Eu acredito que existam orcas residentes no litoral brasileiro, mas a gente não tem isso mapeado. A gente tem vários registros de avistamento e encalhe, o que indica que temos orcas residentes no litoral. O fato da gente estar na temporada reprodutiva de baileias jubartes pode ter atraído elas, porque elas podem predar os filhotes de baleia, leão marinho, pinguim, etc. O fato delas estarem na região pode ter espantado outros animais. Elas podem estar naquele local há alguns dias", analisa.
Adriana destaca que as orcas são da família dos golfinhos e não atacam humanos. Alguns cuidados, é claro, devem ser tomados. "O fato das pessoas não conhecerem a espécie existe um medo muito grande. Quando tiverem contato com esses animais - ou até mesmo outras espécies de baleia - não precisa entrar em pânico ou ter medo. Elas não são agressivas, são dóceis. Não vão fazer mal às pessoas. É só tomar alguns cuidados: fique a uma distância minima de 100 metros e evite fazer perseguição. Esses cuidados são para o animal não estressar porque ainda assim são animais selvagens. Essas aí devem ter se aproximado por uma questão de curiosidade. De repente elas tentaram usar o barco como barreira", pontua.
Comentários