Liberação

Dono de laboratório que produzirá Sputnik V no Brasil acusa Anvisa de barrar vacina russa

Dono do laboratório União Química gravou um vídeo e enviou ao empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan, mas o Estadão apurou que chegou ao presidente Jair Bolsonaro

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Estadão Conteúdo

Publicado em 19/03/2021 às 13:54 | Atualizado em 19/03/2021 às 14:01
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Sem ainda ter conseguido liberação para distribuir a vacina russa Sputnik V no Brasil, o dono do laboratório União Química, Fernando Marques, gravou um áudio enfurecido em que acusa a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de interesses políticos para barrar o produto. A mensagem, de pouco mais de 2 minutos, foi enviada originalmente ao empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan, mas o Estadão apurou que chegou ao presidente Jair Bolsonaro.
Marques afirma que a demora da Anvisa em dar aval tem como objetivo favorecer o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, que produz a Coronavac, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), fabricante da vacina AstraZeneca/Oxford. A intenção, diz o empresário, é beneficiar o governador João Doria, no caso do Butantan, e o PT e o PCdoB, que têm a Fiocruz "na mão". "Eles querem manter a coisa com a Fiocruz e com o Butantan. Butantan na mão do Doria e Fiocruz na mão do PT, PCdoB. E, p..., não tem vacina, o povo tá morrendo", afirma Marques no áudio obtido pelo Estadão. A União Química confirmou a autenticidade do áudio. Disse que a fala foi feita em um momento de "desespero" do empresário.
O empresário reclama ainda de ter sido "humilhado" em reunião com o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, na semana passada. O atual chefe da agência é contra-almirante da reserva da Marinha e foi indicado ao cargo por Bolsonaro.
"É uma loucura. Eu estive com o Barra na semana passada. Ele só faltou me mandar acompanhar até o carro. Fui humilhado. Parece que é um criminoso alguém que quer trazer a vacina ao Brasil, que está sendo usada pelos russos e em mais de 40 países", diz.
A União Química pretende distribuir a vacina russa no Brasil, mas, segundo a Anvisa, ainda não entregou os dados necessários. Técnicos da agência e da farmacêutica tiveram reunião na quarta-feira, e devem voltar a se encontrar na próxima segunda-feira. Há expectativa de que seja feito um pedido de uso emergencial da vacina.
O laboratório de Marques tem uma poderosa equipe de lobby, formada pelo próprio dono da empresa, o ex-deputado federal Rogério Rosso (PSD) e o ex-diretor da Anvisa Fernando Mendes.

'Não vão fazer lobby'

Ao falar com seus apoiadores no Palácio da Alvorada, nesta quinta-feira, Bolsonaro disse que recebeu reclamações de um laboratório "conhecido" sobre a Anvisa, mas não citou o nome nem fez qualquer menção ao áudio. "Outra empresa, grande, conhecida. Tem 20 milhões de doses para vender e não consegue. Daí um cara falou comigo. Falei: 'Não posso interferir. Não vou interferir na Anvisa'". 
O presidente disse que ligou para um "colega" da agência e questionou sobre o caso. "Essa vacina aí, entraram com papel? 'Nenhum papel. Presidente, não recebemos nada'". O presidente comentou ainda: "Por que querem vender para nós, sem certificação, sem nada? Isso é lobby? Comigo não vão fazer lobby", disse ele.
Lobby no Congresso
O dono da União Química é o ex-deputado federal Rogério Rosso (PSD). Fernando Marques foi candidato ao Senado em 2018, pelo Solidariedade, partido do deputado Paulinho da Força. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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