Imunização

A suspensão da AstraZeneca para grávidas e a diferença entre as vacinas aplicadas no Brasil

A Anvisa orientou a suspensão de vacina da AstraZeneca para grávidas no País

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Cássio Oliveira

Publicado em 12/05/2021 às 12:02 | Atualizado em 12/05/2021 às 13:11
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Diante da recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspensão imediata do uso da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca/Fiocruz para mulheres gestantes, pairou no ar uma dúdida sobre o 'imunizante mais seguro'. Porém, em entrevista à Rádio Jornal, a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Ethel Maciel fez questão de tranquilizar a população e explicar que a vacina é segura e eficaz.

A especialista disse que os benefícios da vacinação são maiores do que o risco de efeitos colaterais graves, que são considerados “eventos muito raros”. A vacina da AstraZeneca chegou a ter o uso suspenso em países da Europa depois que foram registradas reações adversas, mas a aplicação foi recomendada pela agência reguladora do bloco. "É um evento raro, temos muito mais pessoas com doenças que causam trombos e que podem levar a maior gravidade da doença do que pela vacina. O ator Paulo Gustavo, por exemplo, teve uma doença tromboembólica decorrente da covid, é um problema de coagulação", destacou Ethel.

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A epidemiologista destaca ser é importante tranquilizar as gestantes que já tomaram a primeira dose e explica que pessoas que tomam anticoncepcional, por exemplo, estão mais pré-dispostas a doenças que causam trombos do que quem tomou a vacina. "Tivemos muitas gestantes que tomaram a vacina em outros países e aqui também. Mais de quatro milhões de pessoas tomaram essa vacina e só 40 casos estão em investigação e um evento mais grave em óbito, que não sabemos se foi causado pela vacina, pois a própria gravidez pode predispor a doença de coagulação em algumas mulheres", comentou.

A recomendação da Anvisa foi formalizada em nota técnica após a notificação da morte suspeita de uma gestante de 35 anos. "Foi notificada à Anvisa, na última sexta (7 de maio), pelo próprio fabricante da vacina Oxford/AstraZeneca/Fiocruz, a Fiocruz, a suspeita de evento adverso grave de acidente vascular cerebral hemorrágico com plaquetopenia ocorrido em gestante e óbito fetal", informou a Anvisa.

A gestante morreu em 10 de maio e o caso ainda é investigado. Segundo a Anvisa, o "evento adverso grave' foi avaliado como possivelmente relacionado ao uso da vacina administrada na gestante". Em seguida, o Ministério da Saúde anunciou que a vacinação de grávidas no Brasil será restrita somente às somente mulheres com comorbidades e elas devem receber somente as vacinas CoronaVac e Pfizer. A determinação vale até que sejam concluídas as análises do caso raro que pode ter ligação com o uso da AstraZeneca.

Vacinas

Não é que uma vacina seja melhor que a outra. É que temos mais evidencia da eficácia em um grupo ou outro. Como a Pfizer, que tem bons resultados em gestantes. Então, é importante conhecer e tomar decisões baseadas em qual grupo é melhor cada imunizante.
Ethel Maciel, epidemiologista e professora da UFES

Reportagem do Jornal Correio explica que cada vacina usa uma técnica específica para combater um vírus. Algumas usam o vírus inativado. Outras passam por processos de modificação genética do vírus. Mas, todas cumprem o que precisam, nesta pandemia: prevenir mais mortes pela covid-19. As três vacinas contra a doença disponíveis hoje, no Brasil, atuam de diferentes formas no corpo, mas seguem esse padrão.

Os imunizantes são: a Coronavac, produzida no Brasil pelo Instituto Buntantan; a AstraZeneca, criada pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca e produzida nacionalmente pela Bio-Manguinhos, da Fiocruz; e a Pfizer, produzida pela farmacêutica que dá nome ao imunizante e a alemã BioNTech. Elas usam diferentes tecnologias para chegar ao objetivo final da imunização.

Na Rádio Jornal, Ethel explicou que a Coronavac é uma vacina de primeira geração. Usa um vírus desativado para estimular a resposta imune do corpo e ressalta que esse tipo de tecnologia é recomendado a gestantes. "A questão é que em nenhum ensaio clínico de fase três se tinha gestante. Porém, conhecemos a tecnologia de vírus inativado,a vacina da gripe é a mesma tecnologia e indicamos a gestantes. Então, por comparação, e pelo que já conhecemos dessas vacinas, ela seria uma das que poderíamos utilizar com segurança maior", comentou.

Já a Pfizer, considerada uma vacina de terceira geração e com eficácia de 95%, usa uma tecnologia considerada mais moderna. Nesse imunizante há aplicação de uma sequência de RNA - material genético - que mimetiza a proteína spike, a mesma utilizada na AstraZeneza. Essa versão consegue desencadear uma reação do sistema imunológico, que cria anticorpos no corpo de um indivíduo, sem causar danos à saúde.

"O grande problema é a falta de doses da Pfizer no País para que possamos atender as gestantes. Esse imunizante em gestantes tem estudos de que é eficaz, mas temos poucas doses. Houve recusa no ano passado e só começou agora. A Pfizer libera um milhão de doses e temos cerca de cinco milhões de gestantes", comentou Ethel Maciel. 

Por fim, a vacina AstraZeneca/Oxford, que está no foco das atenções, é considerada uma vacina de segunda geração, usa um adenovírus, vírus que geralmente causa infecções respiratórias, modificado em laboratório. No vírus, é incluído uma sequência de proteínas típicas do coronavírus - a spike. Essas proteínas vão gerar uma resposta imune do corpo e os anticorpos evitam a infecção.

Mesmo com a suspensão, a epidemiologista destaca que faltam informações claras para a população, que partam do Ministério da Saúde. "Você toma a vacina e é normal uma dor no braço, uma dor de cabeça. Se isso seguir por mais de três dias, você procura ajuda médica. 

Citação

Não é que uma vacina seja melhor que a outra. É que temos mais evidencia da eficácia em um grupo ou outro. Como a Pfizer, que tem bons resultados em gestantes. Então, é importante conhecer e tomar decisões

Ethel Maciel, epidemiologista e professora da UFES

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