CAÇADA

Onça morta por caçadores do Ceará era de espécie rara em extinção

Imagens de uma onça morta por caçadores no Ceará circularam nas redes sociais nessa quarta, 3. O animal fazia parte de uma espécie rara sob risco de extinção e representava significativa importância para o ambiente

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Do jornal O Povo para a Rede Nordeste

Publicado em 04/11/2021 às 23:17
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Imagens de uma onça parda morta por caçadores no interior do Ceará circularam nas redes sociais nessa quarta-feira (3). O animal fazia parte de uma espécie rara sob risco de extinção e foi morto na zona rural do município de Tarrafas. A Polícia Civil do Ceará (PC-CE) investiga o crime ambiental e já identificou quatro suspeitos. A matéria é do jornal O Povo para a Rede Nordeste.

Os criminosos devem ser punidos com uma multa que pode chegar até R$ 4 mil, em adição a responder pelo crime de caça à fauna, com pena variando entre três meses e um ano. Os suspeitos vão responder por caça de animais silvestres e requinte de crueldade, segundo Cíntia Belino, vice-presidente da comissão de defesa dos Direitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Ceará.

Para além da multa, a advogada revelou que vai entrar com ação por danos morais, incluindo multa de R$ 30 mil por suspeito. “Eles viram o animal e resolveram se divertir fazendo a captura desse animal com um certo requinte de crueldade e tortura. Isso dá um aumento de pena. Eles foram pegos por dois artigos, pelos maus-tratos, por causa dos recursos de crueldade, e pela caça de animais, que é proibida”, relatou ela à rádio CBN Cariri.

O problema da caça de animais silvestres necessita de uma mudança cultural, segundo o biólogo Leonides Azevedo. “Nós podemos avaliar que apenas a aplicação da multa não é suficiente. Isso porque o problema é bem mais profundo, envolve uma questão cultural, e muitas vezes não se discute sobre isso”, conta ele. Para ele, é importante discutir a implementação de políticas públicas eficientes e conscientizadoras.

Conforme explicou o biólogo e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Hugo Fernandes, a caça da onça pode ter sido motivada pela vontade de expor um troféu ou pela perda de animais de criação em razão da natureza do felino. O pesquisador destacou que o conflito entre seres humanos e carnívoros silvestres acontece há milênios e que uma possível solução não está situada exclusivamente na lei.

Para Fernandes, a transformação cultural envolve investimentos significativos na educação. Aliada a ela, devem ser elaboradas fontes de renda alternativas a potenciais perdas, pensadas estratégias de manejo dos animais de criação e alterada a visão da fauna silvestre por parte do ecoturismo.

Espécie em extinção

Popularmente conhecida como onça parda, bodeira, suçuarana ou onça vermelha, a onça morta era um macho Puma concolor, espécie incluída na Lista Nacional de Fauna Ameaçada de Extinção. “É a segunda maior entre os felinos do Brasil, podendo chegar a mais de 70 kg. No entanto, na Caatinga elas costumam ser bem menores, com cerca de 30 a 50 kg, no máximo. É o caso do animal caçado, um macho adulto bastante magro”, explicou Hugo.

O animal, de natureza solitária, se alimenta de mamíferos, como tatus, cotias, tamanduás e mocós; répteis de médio porte; e aves. Onças dessa espécie ocorrem em baixa densidade populacional, com presença rara no Nordeste. Segundo Hugo, a morte de uma onça do tipo na Caatiga representa a perca de um predador de topo bastante raro.

“São dois anos até o animal atingir a maturidade sexual (estar apto a se reproduzir), 100 dias de gestação, outros 100 dias de cuidados intensos da mãe para pouquíssimos filhotes, geralmente um ou dois aqui no Nordeste. Todo esse investimento se esvai com um tiro”, relatou.

“Cada indivíduo perdido representa anos de uma recuperação populacional cada vez mais lenta e impossibilitada pelas ameaças cada vez mais constantes. As ações de conservação sobre a onça parda precisam ser urgentes para que não ocorra o mesmo que ocorreu com a onça pintada, que foi extinta no Ceará”, alertou o pesquisador.

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