Numa nota de 29 linhas, divulgada neste sábado, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, cobra que o presidente Jair Bolsonaro se retrate por ataques à agência. Enfático, o texto sugere que se o presidente tiver qualquer certeza de indício de corrupção na agência, que abra uma investigação policial. Em caso negativo, que tenha a grandeza de se retratar.
A polêmica entre Bolsonaro e Barra Torres se formou na última quinta-feira (6), quando numa entrevista à TV Nova Nordeste, o presidente minimizou o número de mortes de crianças pela covid-19 e questionou os interesses da Anvisa em aprovar a vacinação de crianças contra a doença. Em mais um comentário infeliz da sua postura negacionista, Bolsonaro disparou: "Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?".
A Anvisa autorizou o uso da vacina Pfizer para vacinação infantil contra a covid-19 no dia 16 de dezembro. No entanto, as regras para a imunização de crianças só foram divulgadas pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira (5), após uma consulta pública realizada pela pasta. A declaração do presidente repercutiu mal e causou mal-estar dentro da Anvisa. Na nota publicada neste sábado, a agência sugere que seria honroso da parte de Bolsonaro que ele se retratasse.
Leia a nota na íntegra
Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres
Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.
Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.
Antonio Barra Torres
Diretor Presidente - Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil
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