DIREITOS HUMANOS
Bolsonaro diz que indigenista e repórter foram a 'aventura não recomendada' na Amazônia e que podem ter sido mortos
Ambos estão desaparecidos desde domingo (5), quando viajavam a trabalho na Amazônia
Com informações da Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta terça-feira (7) que o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips podem ter sido executados. Ambos estão desaparecidos desde domingo (5), quando viajavam a trabalho na Amazônia.
O correspondente estrangeiro Dom Phillips, 57 anos, sumiu enquanto realizava uma pesquisa para um livro no Vale do Javari, no estado do Amazonas, junto com o renomado especialista em questões indígenas Bruno Pereira, relatou o jornal britânico The Guardian, do qual o jornalista é colaborador.
Os dois viajaram de barco para o lago Jaburu, no oeste do Amazonas, e deveriam ter retornado à cidade de Atalaia do Norte por volta das 9h de domingo (5). A União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) e o Observatório de Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) disseram em nota que os homens "receberam ameaças".
Em entrevista nesta terça, Bolsonaro afirmou duas vezes que "tudo pode acontecer" nessa região, classificada por ele como "selvagem", e criticou o que chamou de "aventura" da dupla.
Família do indigenista pede urgência na busca
Por nota, a família de Bruno diz ter "esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro", e apela "às autoridades locais, estaduais e nacionais que deem prioridade e urgência na busca pelos desaparecidos". Confira a íntegra da mensagem escrita pela companheira do indigenista, Beatriz de Almeida Matos, e pelos irmãos, Max da Cunha Araújo Pereira e Felipe da Cunha Araújo Pereira.
"Já são 48 horas de angústia à espera de notícias sobre Bruno Pereira e Dom Philips, que desapareceram no domingo quando viajavam no Vale do Javari, Amazonas. Durante todo o dia de ontem, tivemos poucas informações sobre a localização deles, o que tem aumentado este sentimento. Mas também temos muita esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro. Mantemos orações e agradecemos o apoio de familiares e amigos. Contudo, em virtude de mais de 48 horas do desaparecimento do nosso Bruno e seu companheiro de viagem Dom Phillips, apelamos às autoridades locais, estaduais e nacionais que deem prioridade e urgência na busca pelos desaparecidos.
Compreendemos que Bruno possui vasta experiência e conhecimento da região, porém, o tempo é fator chave em operações de resgate, principalmente se estiverem feridos. É fundamental que buscas especializadas sejam realizadas, por via aérea, fluvial e por terra com todos os recursos humanos e materiais que a situação exige. A segurança dos indígenas e equipes de busca também precisa ser garantida.
Bruno é um dedicado servidor público federal pela FUNAI e muito apaixonado e comprometido com seu trabalho. Pai amoroso de duas crianças e uma moça lindas, Bruno é filho, marido, irmão e amigo, ele leva essa paixão para sua jornada toda vez que entra na mata com o propósito de ajudar o próximo. Pedimos às autoridades rapidez, seriedade e todos os recursos possíveis para essa busca. Cada minuto conta, cada trecho de rio e de mata ainda não percorrido pode ser aquele em que eles aguardam por resgate."
PF e Marinha dizem tomar "todas as providências"
Em comunicado divulgado na manhã desta terça-feira (7), o Ministério das Relações Exteriores disse que a Polícia Federal (PF) e a Marinha estão tomando "todas as providências" para localizar Pereira e Dom Phillips o mais rapidamente possível. O Itamaraty observou, ainda, que tomou conhecimento do assunto "com grande preocupação".
"O governo brasileiro tomou conhecimento, com grande preocupação, da notícia de que o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira estão desaparecidos na região do Vale do Javari, na Amazônia. Mobilizado desde logo, o Departamento de Polícia Federal (PF) está atuando naquela região e tomando todas as providências para localizá-los o mais rápido possível", começa a nota.
"A PF fez repetidas incursões e tem contado com o apoio da Marinha do Brasil, que se somou aos esforços nos trabalhos de buscas de ambos os cidadãos. O governo brasileiro seguirá acompanhando as buscas com o zelo que o caso demanda e envidando os esforços necessários para encontrar prontamente o profissional da imprensa britânica e o servidor da Fundação Nacional do Índio."
Por fim, diz que na hipótese de o desaparecimento ter sido causado por atividade criminosa, todas as providências serão tomadas para levar os perpetradores à Justiça", e que os "familiares e colegas de trabalho dos desaparecidos serão mantidos a par do progresso das buscas".