O nascimento do Brasil como país independente aconteceu no final da tarde de um sábado, no dia 7 de setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo. Naquele momento, a ruptura oficial com a corte portuguesa não foi marcada por batalhas sangrentas nem por atos heroicos.
As relações entre Brasil e Portugal já tinham azedado e, seis semanas antes da proclamação da Independência, dom Pedro havia enviado uma carta ao pai, o rei de Portugal dom João VI, antecipando o que estava por vir.
"É um impossível físico e moral Portugal governar o Brasil, ou o Brasil ser governado de Portugal", escreveu dom Pedro em uma carta endereçada ao pai no dia 26 de julho de 1822. Sem querer parecer afrontoso com o rei amenizou: "Não sou rebelde (...) são as circunstâncias", disse.
Quando dom João VI deixou o Brasil para voltar à Lisboa, em abril de 1821, deixou dois países. Um formado por uma corte branca, artistas e intelectuais, que tentavam reproduzir um ambiente europeu no lugar. O outro Brasil era uma versão pobre, agrária e tomado pela escravidão. O desafio de dom Pedro era proclamar a Independência e incluir os dois lados do país.
7 DE SETEMBRO: INDEPENDÊNCIA SEM GLAMOUR
A tela gigante de 7,60 metros de largura por 4,15 metros de altura povoa o imaginário brasileiro como símbolo da proclamação da Independência no Brasil. Encomendado ao pintor paraibano Pedro Américo, o quadro "Independência ou Morte" ou "O grito do Ipiranga" só ficou pronto 66 anos após a proclamação.
A recomendação feita a Pedro Américo foi de imortalizar aquele momento com o glamour que a ocasião pedia. Então, usando como referência o quadro do pintor francês Jean-Louis Ernest Meissonier, Napoleão em Friedland, criou o dele. Dom Pedro era um grande admirador de Napoleão Bonaparte.
Na tela, dom Pedro aparece impecavelmente vestido à moda dos exércitos europeus da época. Em traje branco, com detalhes vermelhos na roupa e na pena do chapéu. Está montado em um cavalo cor de canela, no alto de uma colina, com uma espada nas mãos e cercado por homens brancos também elegantemente trajados. O cenário é o riacho do Ipiranga.
Reproduzida nos livros de história, a imagem ficou materializada na memória do povo brasileiro. Recentemente restaurado, o quadro de Pedro Américo ocupa um lugar de destaque no Museu do Ipiranga, em São Paulo, que passou por uma reforma e será reinaugurado na terça-feira (6), dentro das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil.
A imagem heroica de dom Pedro, na obra de arte de Pedro Américo, serviu para reforçar o tom ufanista que queria se mostrar da proclamação da Independência. Nos bastidores daquele dia, no entanto, a realidade foi diferente.
Ao invés de cavalos imponentes, dom Pedro e a guarda montavam o lombo de jumentos, que eram mais resistentes para subir a colina. Os trajes não eram do exército europeu e, sim, roupas leves para suportar o calor daqueles dias. O príncipe também não estava nos seus melhores dias.
A cena, em definitivo, não era condizente com a de um herói. Dom Pedro tinha comido algo que havia que feito mal e estava com dor de barriga justo naquele 7 de setembro. No comando da guarda, vez por outra precisava apear, amarrar o jumento e se embrenhar por dentro do mato alto para se aliviar.
Em seu livro 1822, o escritor e jornalista Laurentino Gomes - autor da trilogia Escravidão - conta que o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, publicou em suas memórias os acontecimentos do dia da oficialização do fim dos laços do Brasil com Portugal.
O ex-subcomandante da guarda de honra usou outras palavras para comentar o piriri de dom Pedro. "(...) a intervalos regulares, dom Pedro se via obrigado a apear o animal que o transportava para 'prover-se' no denso matagal que cobria as margens da estrada", conta.
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