Bicentenário da Independência

7 DE SETEMBRO: Brasil independente começou com piriri de dom Pedro, montaria em jumento e país marcado por pobreza e escravidão

Brasil comemora bicentenário da Independência neste 7 de setembro. Ao longo de 200 anos de história da Independência, Brasil evoluiu para uma nação próspera, mas ainda com desigualdade social para resolver. Persistência da escravidão foram as bases deste ambiente desigual

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 02/09/2022 às 17:07 | Atualizado em 06/09/2022 às 20:36
THIAGO LUCAS/ ARTE SJCC
GRITO Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922, não foi um dia de glamour - FOTO: THIAGO LUCAS/ ARTE SJCC
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O nascimento do Brasil como país independente aconteceu no final da tarde de um sábado, no dia 7 de setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo. Naquele momento, a ruptura oficial com a corte portuguesa não foi marcada por batalhas sangrentas nem por atos heroicos.

As relações entre Brasil e Portugal já tinham azedado e, seis semanas antes da proclamação da Independência, dom Pedro havia enviado uma carta ao pai, o rei de Portugal dom João VI, antecipando o que estava por vir.

"É um impossível físico e moral Portugal governar o Brasil, ou o Brasil ser governado de Portugal", escreveu dom Pedro em uma carta endereçada ao pai no dia 26 de julho de 1822. Sem querer parecer afrontoso com o rei amenizou: "Não sou rebelde (...) são as circunstâncias", disse.     

Quando dom João VI deixou o Brasil para voltar à Lisboa, em abril de 1821, deixou dois países. Um formado por uma corte branca, artistas e intelectuais, que tentavam reproduzir um ambiente europeu no lugar. O outro Brasil era uma versão pobre, agrária e tomado pela escravidão. O desafio de dom Pedro era proclamar a Independência e incluir os dois lados do país. 

REPRODUÇAÕ
Obra Independência ou morte", de Pedro Américo - REPRODUÇAÕ
 

7 DE SETEMBRO: INDEPENDÊNCIA SEM GLAMOUR  

A tela gigante de 7,60 metros de largura por 4,15 metros de altura povoa o imaginário brasileiro como símbolo da proclamação da Independência no Brasil. Encomendado ao pintor paraibano Pedro Américo, o quadro "Independência ou Morte" ou "O grito do Ipiranga" só ficou pronto 66 anos após a proclamação. 

Reprodução
Quadro Friedland, do francês Jean-Louis Ernest Meissonier, foi apontado como inspirção para Pedro Américo pintar a tela Independência ou morte - Reprodução

A recomendação feita a Pedro Américo foi de imortalizar aquele momento com o glamour que a ocasião pedia. Então, usando como referência o quadro do pintor francês Jean-Louis Ernest Meissonier, Napoleão em Friedland, criou o dele. Dom Pedro era um grande admirador de Napoleão Bonaparte.  

Na tela, dom Pedro aparece impecavelmente vestido à moda dos exércitos europeus da época. Em traje branco, com detalhes vermelhos na roupa e na pena do chapéu. Está montado em um cavalo cor de canela, no alto de uma colina, com uma espada nas mãos e cercado por homens brancos também elegantemente trajados. O cenário é o riacho do Ipiranga. 

Reproduzida nos livros de história, a imagem ficou materializada na memória do povo brasileiro. Recentemente restaurado, o quadro de Pedro Américo ocupa um lugar de destaque no Museu do Ipiranga, em São Paulo, que passou por uma reforma e será reinaugurado na terça-feira (6), dentro das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil.  

A imagem heroica de dom Pedro, na obra de arte de Pedro Américo, serviu para reforçar o tom ufanista que queria se mostrar da proclamação da Independência. Nos bastidores daquele dia, no entanto, a realidade foi diferente. 

Ao invés de cavalos imponentes, dom Pedro e a guarda montavam o lombo de jumentos, que eram mais resistentes para subir a colina. Os trajes não eram do exército europeu e, sim, roupas leves para suportar o calor daqueles dias. O príncipe também não estava nos seus melhores dias. 

A cena, em definitivo, não era condizente com a de um herói. Dom Pedro tinha comido algo que havia que feito mal e estava com dor de barriga justo naquele 7 de setembro. No comando da guarda, vez por outra precisava apear, amarrar o jumento e se embrenhar por dentro do mato alto para se aliviar. 

Em seu livro 1822, o escritor e jornalista Laurentino Gomes - autor da trilogia Escravidão - conta que o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, publicou em suas memórias os acontecimentos do dia da oficialização do fim dos laços do Brasil com Portugal. 

O ex-subcomandante da guarda de honra usou outras palavras para comentar o piriri de dom Pedro. "(...) a intervalos regulares, dom Pedro se via obrigado a apear o animal que o transportava para 'prover-se' no denso matagal que cobria as margens da estrada", conta. 

 

 

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