Três terminais integrados na Região Metropolitana do Recife parecem ter virado lenda. Com atrasos de mais de um ano nas obras, transtornos, prejuízo e violência. Estão em construção há mais de três anos Joana Bezerra, na área central da capital pernambucana, além de Santa Luzia, na Zona Oeste, e Prazeres, na cidade vizinha de Jaboatão dos Guararapes. A cada novo prazo, menos esperança dos quase 110 mil passageiros que têm cada vez menos esperança de poder usufruir das melhorias dos R$ 16,6 milhões investidos.
O primeiro terminal a começar a ser erguido foi o de Joana Bezerra, em 2011 - mas as promessas são de mais de dez anos. Esse é também o mais caro, custando R$ 9,4 milhões, de acordo com a secretaria executiva de Projetos Especiais. É, ainda, o que deverá beneficiar mais passageiros: 67 mil por dia, em 14 linhas de ônibus, enquanto atualmente são 40 mil usuários em dez linhas.
Para o ambulante Roberto Ferreira, 42 anos, que trabalha há 20 anos no terminal, desde a sua inauguração, o novo TI ajudará muita gente quando ficar pronto. O problema é exatamente esse. "Dizem que vai ficar pronto em setembro. Só precisamos saber de que ano", ironiza. "Falta pouca coisa, mas complica muito. É muito assalto, muita gente que entra de graça no metrô, muita confusão", lamenta.
No dia em que o JC Trânsito esteve em Joana Bezerra, a última quinta-feira (27), apenas um funcionário trabalhava na obra. Já podem ser vistas as estruturas montadas para receber os ônibus, mas ainda precisam ser feitas as entradas para os veículos, por exemplo. "Por enquanto, o único passageiro é o cavalo", reclama Roberto Ferreira.
A Secretaria das Cidades defende que as obras estão em fase de acabamento e a previsão é que sejam entregues ainda este mês, dois anos depois da previsão inicial. O órgão alega que os atrasos foram pela escassez de recursos e por causa da necessidade de readequações de projetos.
Prazeres é integração só na placa na entrada da estação do metrô e nas catracas já instaladas. A obra, atrasada em cerca de dois anos, já tem cara de terminal, mas faltam muitos detalhes, como o piso e as peças de granito que vão compor a recepção, os banheiros e as cantinas. Para quem trabalha na construção - eram cerca de 10 pessoas no fim de agosto, quando finalmente as obras foram retomadas -, deve se prolongar pelo menos até o fim de outubro, embora a Secretaria das Cidades prometa entregar o TI à população este mês.
Quando estiver pronto, sete linhas de ônibus vão atender 25 mil passageiros por dia. "Vai melhorar muito a situação daqui, mas quando vai sair, ninguém sabe", brinca o vendedor Daniel Alves, 44. "Até lá, fica o transtorno na rua, com tapume fechando a calçada e atrapalhando o pedestre", reclama a pedagoga Aline Lindoso, 31.
Há ainda o Terminal Integrado de Santa Luzia, que atenderá 17 mil pessoas diariamente, em oito linhas de ônibus, quando estiver pronto. Mas sequer há um prazo para isso. Pela assessoria de imprensa, a Secretaria das Cidades afirmou apenas que "está com o terminal de ônibus concluído, mas faltam alguns ajustes sugeridos pela CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) após a conclusão do projeto, para maior segurança e comodidade dos usuários. Para a adequação às necessidades apontadas pela CBTU estima-se que seja investido em torno de R$ 80 mil." A obra do TI começou em 2012, orçada em R$ 3,4 milhões.
Enquanto esse impasse impede o funcionamento do terminal, o que foi construído começa a ser destruído. Moradores abriram uma passagem do metrô e têm acesso ao TI.
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Permanece também a insegurança dos passageiros. "Há pelo menos três meses ninguém vem aqui. É só mato, motos nas passarelas e assalto", conta a telefonista Rosângela Soares, 49. Segundo a moradora, por causa da violência, pouca gente ainda pega ônibus aos domingos, quando o movimento diminui, e os comerciantes têm que sair antes de anoitecer. "Quando vou para o metrô, tenho que esperar juntar um grupo para poder seguir. Isso piorou depois da construção do terminal. Comeram o dinheiro do povo e nada", reclama. Em nota, a Polícia Militar afirmou que intensificará as rondas no local. Até a entrega do terminal, no entanto, fica difícil ter esperança.