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Aquecimento e CO2: a pré-história revela más notícias

Atualmente o ritmo de emissão de CO2 é pelo menos cinco vezes maior do que há milhões de anos

Da AFP
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Publicado em 05/06/2011 às 14:36
Felipe Amorim/Esportes
FOTO: Felipe Amorim/Esportes
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Há milhões de anos, grandes e súbitas emissões de dióxido de carbono na atmosfera provocaram um aumento da temperatura global de quase cinco graus centígrados. A notícia ruim é que atualmente o ritmo de emissão de  CO2 é pelo menos cinco vezes maior.

Há 56 milhões de anos aconteceu este brutal episódio batizado pelos cientistas como Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM). As causas continuam um mistério, mas os cientistas concordam que foi gerado por fortes emissões de CO2, considerado um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa, e que resultou em um brusco aquecimento do clima de cinco graus no período de 10.000 a 20.000 anos.

Um fenômeno que foi a origem de profundas mudanças ecológicas em nosso planeta e suas formas de vida, afirmam os especialistas, que consideram o PETM como um episódio similar ao que poderia acontecer nas próximas décadas.

No entanto, naquele momento foi necessária apenas uma "pequena fração" do CO2 gerado atualmente pela humanidade para chegar a este resultado, afirma o estudo publicado na revista britânica Nature
Geoscience.

"Estamos injetando CO2 na atmosfera a um ritmo quase 10 vezes mais elevado que a média durante o PETM. Isto significa que o sistema climático deve atualmente adaptar-se a perturbações muito mais intensas", resume um dos autores do estudo, Lee Kump, geólogo da Universidade da Pensilvânia (EUA).

Segundo as projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, o aumento de temperatura até o fim do século XXI oscilaria de 1,8 a 4 graus na média, e pode alcançar 6,4 graus, segundo as estimativas de emissões de gases de efeito estufa.

"A vida é tão sensível à rapidez das mudanças que sofre com a amplitude destas mudanças. Em consequência, o consumo de energias fósseis está provavelmente alterando os ecossistemas de todo o planeta como poucas vezes aconteceu na história da Terra, e com certeza como nunca ocorreu durante o PETM", destacou Kump à AFP.

Para avaliar as emissões de dióxido de carbono responsáveis pelo PETM, os cientistas analisaram os sedimentos marinhos de uma ampla área na ilha norueguesa de Spitzberg, o que permitiu reconstruir o percurso de distintas formas de carbono na atmosfera e nos oceanos. Depois recorreram a um modelo virtual para calcular o nível das emissões de CO2 na atmosfera na época do PETM.

No ponto mais forte deste episódio pré-histórico, as simulações sugerem que entre 0,3 e 1,7 gigatonelada de gás carbônico invadiram a atmosfera a cada ano. A título de comparação, atualmente as atividades humanas emitem mais de oitoe 8 gigatoneladas de CO2 por ano em consequência do uso das energias fósseis (carvão, petróleo, gás, etc.).

Na escala de trastornos ecológicos, o PETM e outros episódios longínquos de aquecimento são como uma lenta pressão exercida sobre o meio ambiente. O consumo de energias fósseis, no entanto, se parece mais com o "impacto de um asteroide", segundo Lee  Kump.

Segundo Bryan Lovell, presidente da Geological Society de Londres e especialista em Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, "o PETM fornece aos mais céticos a prova de que a mudança climática provocada pelo homem é potencialmente um problema sério para todos nós, e para o próprio planeta".

"Este estudo confirma a ideia de que é a rapidez com que emitimos dióxido de carbono, assim como seus grandes volumes, que são tão perigosos", conclui.

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