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Morcegos ajudam a entender o clima

Hábitos dos animais no Vale do Catimbau podem revelar alterações na temperatura da região, que compreende cidades do Agreste e Sertão pernambucanos

Marina Barbosa
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Marina Barbosa
Publicado em 08/01/2014 às 6:25
Foto: Rodrigo Lôbo/JC Imagem
Hábitos dos animais no Vale do Catimbau podem revelar alterações na temperatura da região, que compreende cidades do Agreste e Sertão pernambucanos - FOTO: Foto: Rodrigo Lôbo/JC Imagem
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Os hábitos dos morcegos que vivem no Parque Nacional do Catimbau vão ajudar pesquisadores pernambucanos a descobrir os efeitos das mudanças climáticas na fauna da caatinga. Somente em uma caverna do parque, localizado entre os municípios de Buíque, no Agreste, Ibimirim, Sertânia e Tupanatinga, no Sertão pernambucano, moram entre 4 e 6 mil desses animais. São exemplares de diversas espécies que saem à noite para caçar. Essa rotina corre o risco de ser afetada por alterações no clima da região. E são essas mudanças que o professor de zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Enrico Bernard vai estudar nos próximos anos através da observação desses mamíferos.

"A caatinga está enfrentando a maior seca dos últimos 40 anos. Mesmo assim, parece que a maior parte dos morcegos continua lá. Por outro lado, pesquisas indicam que a temperatura da região pode subir até 4º C até 2100. Mas esses estudos não mostram o impacto dessas mudanças na fauna da região. É por isso que vamos monitorar os morcegos da caverna. Afinal, analisar os hábitos de uma população específica é uma forma de descobrir como essas alterações afetam o meio ambiente e os animais locais", explica o professor.

Enrico Bernard, natural de Minas Gerais e morador de Pernambuco há quatro anos, é um apaixonado pela caatinga. "É um ambiente surpreendente, com uma riqueza de espécies maior do que imaginávamos", define. No total, 90 das 180 espécies de morcegos existentes no Brasil vivem na caatinga. Dessas, mais de 40 já foram registradas no Parque Nacional do Catimbau. Na caverna estudada, que tem cerca de 100 metros de extensão, há exemplares de pelo menos 12 espécies, de hematófagas (que se alimentam do sangue de outros animais) a herbívoras (apenas de vegetais). Algumas são raras e correm até risco de extinção.

Para analisar a rotina desses mamíferos, o pesquisador vai instalar uma câmera de monitoramento na saída da caverna. "Vamos contar e identificar as espécies de morcegos que entram e saem dali. Assim, saberemos se a composição e quantidade da população variaram no interior da caverna. Também mediremos a temperatura, a umidade e a precipitação da região", explica. A análise começa em fevereiro próximo e segue nos próximos três anos com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A pesquisa também recebeu o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que concedeu R$ 155 mil para iniciativas de conservação da natureza no Nordeste. Desses recursos, R$ 35 mil vão ser destinados para o estudo pernambucano. Enrico Bernard comenta que a pesquisa tem custo elevado porque utiliza um sistema de monitoramento inédito no Brasil, desenvolvido com a ajuda do Centro de Informática (CIN) da UFPE. Ele também diz que pretende continuar estudando os morcegos após os três anos de pesquisa previstos pelo edital.

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