O sempre promissor e frequentemente polêmico campo das pesquisas com células-tronco embrionárias - e suas equivalentes, produzidas via reprogramação genética em laboratório - pode estar à beira de mais um escândalo internacional. Os dados fundamentais de um estudo potencialmente revolucionário, publicado há menos de um mês na revista Nature, estão sendo investigados pelo instituto Riken, no Japão, onde a pesquisa foi realizada.
A notícia foi publicada na segunda-feira no site da própria Nature, que informou estar investigando o caso também. A pesquisa em questão, liderada pela jovem bióloga Haruko Obokata, apresenta uma nova técnica para conversão de células adultas em células pluripotentes - equivalentes às células-tronco embrionárias, com capacidade para se diferenciar em qualquer tipo de tecido do organismo.
Seria, segundo o trabalho, uma técnica mais simples e segura, baseada apenas na exposição das células a um meio de cultura de pH mais ácido; sem a necessidade de manipulações genéticas ou da clonagem de embriões humanos. Parecia ótimo, até que vários pesquisadores de outros laboratórios começaram a tentar reproduzir a técnica e não conseguiram. Também surgiram denúncias na internet de que algumas das imagens técnicas do trabalho estariam adulteradas.
Alguns coautores defenderam o trabalho, dizendo se tratar de erros não intencionais e irrelevantes para as conclusões da pesquisa. Haruko não fez qualquer declaração. Há menos de um ano um outro trabalho de grande repercussão, que descrevia a primeira clonagem de embriões humanos para obtenção de células-tronco, passou pelo mesmo problema. Foram identificados erros na redação do trabalho, mas os resultados, no fim, foram considerados válidos.
O grande escândalo ocorreu dez anos atrás, quando o sul-coreano Hwang Woo-suk publicou dois trabalhos totalmente forjados sobre a mesma clonagem de embriões humanos. Ele foi expulso da universidade. A ciência, agora, aguarda um veredicto sobre a pesquisa da japonesa Haruko.