No trecho de 160 metros que separa as Pontes da Boa Vista e Duarte Coelho, no Centro da capital pernambucana, estudantes do curso de biologia da Universidade de Pernambuco (UPE) coletaram ontem, em apenas um dos lados do manguezal, 687 quilos de lixo. Em um percurso de oito quilômetros do Rio Capibaribe, entre os bairros de Apipucos e a Ilha do Retiro, o Movimento Recapibaribe retirou das águas 2,5 toneladas de resíduos. No dia dedicado ao Capibaribe, ontem, a quantidade de lixo descartada mostra que os recifenses não cuidam como deveriam de um dos principais cartões-postais da cidade.
A iniciativa dos 20 alunos da UPE acontece há oito anos. Todo o lixo coletado, em uma hora e meia de atividade, foi exposto em uma das calçadas da Ponte Duarte Coelho. Roupas, sapatos, latas de bebida, garrafas PET, copos e até cadeiras e ferramentas como pás e chaves de fenda estavam jogadas no mangue. “Percebemos que nos últimos anos a população está mais receptiva ao trabalho. Mas infelizmente o montante de lixo recolhido não diminui”, observa a professora da UPE e coordenadora do projeto, Simone Ferreira. Desde 2007, quando começou a ação, a menor quantidade coletada foi 500 quilos e a maior, 1,4 tonelada.
Ao passar pela ponte, o professor e morador da Boa Vista Emerson Farias, 42 anos, fotografou a atividade dos estudantes. “Moro aqui perto e vejo todos os dias as pessoas jogando lixo no Rio Capibaribe. Fico indignado e incomodado com isso. Uma iniciativa como essa ajuda a chamar a atenção para o tanto de sujeira que poderia ser colocada no lugar certo”, afirma.
Pescadores ajudaram o Movimento Recapibaribe a recolher 2.557 quilos de lixo. Com o auxílio de 35 baiteiras, a entidade atuou ontem do Capibar, em Apipucos, na Zona Norte, até a rampa do Departamento de Remo do Sport, na Ilha do Retiro, Zona Oeste. Estudantes da Escola Estadual Silva Jardim, em Monteiro, e alunos de ciências biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) colaboraram com a atividade, que durou duas horas e meia. “Não adianta construir prédios enormes, ornados de mármore, e deixar a natureza à revelia. Essa ação é para chamar a atenção de todos para a situação do rio”, declara André Cantanhede, da ONG Recapibaribe.
A cada 45 dias, a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) realiza um esquema especial de limpeza nos pontos considerados críticos de descarte irregular de lixo, como no manguezal da Rua da Aurora. São retiradas, em média, 20 toneladas de resíduos. Na duas ações de ontem – a dos alunos da UPE e a do Recapibaribe – o órgão recolheu o material coletado.
EDUCAÇÃO - Alunos de 10 escolas públicas do Recife, de Paudalho (Zona da Mata) e de Santa Cruz do Capibaribe (Agreste) participaram de ações do projeto De olho na água do Capibaribe: estratégias educativas de monitoramento da qualidade da água, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). “Houve oficinas, passeios ao longo do rio, palestras, brincadeiras, atividades de xilogravuras, poesias e concurso de fotografias nas três regiões de abrangência do projeto, que são o baixo, o médio e o alto Capibaribe”, explica a professora de ciências biológicas da Rural e coordenadora da ação, Betânia Cristina Guilherme.