Levantamento inédito sobre a flora do Rio Capibaribe identificou 74 espécies de plantas arbóreas, arbustivas e aquáticas, num trecho de 30 quilômetros de margens, na cidade do Recife. As árvores de mangue predominam do Centro à Ponte de Caxangá, na entrada da Várzea. De lá em diante, o mangue começa a rarear, deixando à mostra vegetação da mata ciliar, como aroeira-da-praia e ingá-doce.
O inventário, realizado por três professoras da Universidade Federal Rural de Pernambuco para subsidiar o projeto do Parque Capibaribe – Caminho das Capivaras, não inclui herbáceas e trepadeiras. “Contando com elas, a diversidade é bem maior”, diz a professora da UFRPE Simone Santos, uma das responsáveis pelo trabalho, executado em quatro meses, de outubro de 2013 a fevereiro de 2014.
Entre as 74 espécies, há 45 nativas do Brasil e 29 exóticas, oriundas de outros países. Nenhuma é endêmica para Pernambuco (aquelas que só ocorrem num determinado local), informa Simone. As pesquisadoras encontraram três tipos de mangue na beira do rio: Laguncularia racemosa (mangue branco); Rhizophora mangle (mangue vermelho); e Avicennia schaueriana (mangue preto).
A Laguncularia racemosa está presente em todo o percurso, com seus caules que variam de 1,5 metro a sete metros de altura. Para quem não conhece, são as árvores compridas, bem marcantes junto da Ponte Velha e da Casa da Cultura (Centro). A Rhizophora mangle, com raízes aéreas, crescem na Torre (Zona Oeste) e na Jaqueira (Zona Norte).
O ecossistema é definido na Lei Federal nº 4.771/1965 como Área de Preservação Permanente (APP). E a Resolução nº 369/2006, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), estabelece que as áreas de mangue só podem sofrer supressão de sua vegetação em casos de utilidade pública. Junto com o mangue, a aroeira-da-praia (Schinus terebinthifolius) é outra nativa na orla o rio.
De acordo com Simone, as plantas nativas e as exóticas vivem em constante competição por espaço ao longo do Capibaribe. “Algumas exóticas são bastante agressivas, elas dominam o território quando crescem muito e espalham as sementes, como a leucena (Leucaena leucocephala)", observa. Apenas uma vagem pode guardar mais de 20 sementes, e há centenas delas em cada pé.
O ingá-doce (Pithecellobium dulce) e a castanhola (Terminalia catappa) são outras invasoras. “As raízes da leucena e da castanhola não deixam outras espécies sobreviverem”, explica a professora, que esperava encontrar maior diversidade e mais plantas nativas no Capibaribe.
Mas, por hora, o mangue branco está ganhando da leucena, na disputa por um pedacinho de chão junto do Capibaribe. “A árvore produz milhares de frutos, que caem na maré e, no sobe e desce da água, são levados ao longo do rio. Avistamos um tapete de Laguncularia pequeninas, prontas para crescer, na Madalena.”
Na lista de plantas aquáticas, a baronesa (Eichhornia crassipes) ocupa o topo da lista, pela quantidade. Vegetação nativa, também chamada aguapé, serve de alimentação para capivaras e de abrigo para insetos e alevinos, comenta Simone. O estudo das botânicas Simone, Carmen Zickel e Vivian Loges não para no levantamento da vegetação.
Elas indicam as espécies nativas – arbóreas, herbáceas, trepadeiras e de forração – que podem ser plantadas às margens do rio, onde será instalado Parque Capibaribe, e apontam as exóticas para erradicação, sem prejuízo. O replantio será feito em função da fauna existente em cada pedaço do curso d’água, adianta Simone. “Flora e fauna estarão integrados.”
A proposta do parque, lançada em setembro de 2013 pela Prefeitura do Recife, está sendo construída por professores de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com outras instituições de pesquisa. O projeto prevê janelas para contemplação de plantas e bichos, nos locais onde for possível, adaptadas ao ambiente natural ribeirinho.
O Parque Capibaribe corta 22 bairros, com 15 quilômetros de extensão em cada uma dos lados. Quando tiver pronto, será um corredor de integração de praças e parques, com calçadas, ciclovias, arborização e espaços de convivência.